(Matéria originalmente publicada por Mobile Time) O governo norte-americano estaria pressionando países aliados, principalmente Itália, Alemanha e Japão, a não comprarem equipamentos de telecomunicações da chinesa Huawei, informa matéria publicada pelo jornal Wall Street Journal, citando fontes anônimas familiarizadas com o assunto. A administração de Donald Trump suspeita de espionagem por parte de fornecedores chineses de telecomunicações.
Em comunicado enviado à imprensa, a Huawei se posicionou sobre a matéria do Wall Street Journal. Disse a empresa:
"Os produtos e soluções da Huawei são utilizados em mais de 170 países e atendem a 46 das 50 maiores operadoras do mundo, além de serem utilizados por companhias listadas na Fortune 500 e por milhões de consumidores. Muitas empresas e pessoas escolhem a Huawei porque confiam na companhia e reconhecem seu valor. A Huawei está surpresa com as ações do governo dos Estados Unidos reportadas pela imprensa. A Huawei acredita fortemente que seus parceiros e clientes farão a escolha certa com base em seus próprios julgamentos e experiências com a empresa. A companhia continuará a oferecer soluções inovadoras a nossos clientes globais."
Análise
Para entender o impacto da notícia, é preciso considerar uma série de aspectos listados abaixo:
- Existe uma guerra comercial em andamento opondo EUA e China envolvendo os mais variados setores da economia. Telecomunicações pode ser apenas mais uma batalha dentro dessa guerra.
- Em agosto deste ano, o presidente norte-americano Donald Trump proibiu que órgãos governamentais comprassem equipamentos da Huawei e da ZTE, os dois principais fornecedores chineses de infraestrutura de telecomunicações.
- Recentemente, estourou um escândalo de uma suposta espionagem chinesa feita a partir de microchips em servidores de grandes companhias de Internet dos EUA. A investigação ainda está em curso.
- Paralelamente, há uma corrida tecnológica pela liderança em 5G no mundo. EUA e China disputam para ver quem será o primeiro a adotar a nova geração de telefonia celular em massa, o que trará junto o desenvolvimento de um novo ecossistema de soluções de comunicações corporativas para as mais variadas verticais da economia, nas cidades, no campo e na indústria.
- A Huawei é uma das fornecedoras mais bem posicionadas para a implementação do 5G no mundo. Nesta semana realizou um seminário sobre banda larga móvel na Inglaterra e recebeu elogios de um alto executivo da British Telecom (BT).
- O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, já demonstrou que sua política externa será profundamente alinhada com Washington, o que se pode inferir pelas declarações e artigos publicados pelo futuro chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.
- A China é o maior parceiro comercial do Brasil e o maior importador de commodities produzidas no País. Um boicote brasileiro a equipamentos de telecomunicações chineses pode provocar retaliações da parte da China e ser prejudicial para a balança comercial brasileira.
- Neste ano, a Huawei completou duas décadas de presença no Brasil. Tem milhares de funcionários e inúmeros contratos no País.
- A Huawei é a maior fornecedora de redes 4G no Brasil. Praticamente todas as operadoras móveis que atuam no País têm equipamentos da companhia chinesa em várias partes diferentes de suas redes e com diferentes graus de dependência. Em geral, são acordos de longo prazo, que preveem manutenção e também a possibilidade de atualização dos equipamentos.
- As operadoras brasileiras ainda não tiveram retorno sobre o investimento nas redes 4G do Brasil. É improvável que rompam contratos unilateralmente por pressão política, pois isso geraria enorme prejuízo financeiro e operacional.
- O que pode acontecer, eventualmente, é a pressão externa influenciar nas decisões em torno dos contratos para as redes 5G. Deve ser pesado, contudo, que o 5G é uma evolução do 4G e qualquer mudança radical de fornecedor pode significar um custo adicional.
- Os leilões de espectro no Brasil para o 5G devem acontecer durante o governo de Bolsonaro, mas ainda sem data definida.
- Os maiores concorrentes da Huawei que poderiam ser beneficiados por um boicote seriam Ericsson e Nokia.
Isto e o que acontece no mundo, quando temos um presidente americano que acha que pode mandar no mundo. Um despota que acha que e melhor que o resto do mundo.