Mudanças de paradigmas preocupam mais do que crise econômica

O momento econômico do país parece não ser mais a principal preocupação das operadoras de satélite no Brasil. Acostumada a planejamentos de longuíssimo prazo, a indústria parece enfrentar a tempestade com um "otimismo moderado", como definiu Clóvis Baptista, presidente da Hispamar; ou seguindo por um "mar revolto mas com uma rota estável e segura", na definição de Lincoln Oliveira, diretor geral da StarOne. Esse foi o tom do painel de análise do mercado realizado durante o Congresso Latino-americano de Satélites, organizado pela Converge esta semana, no Rio de Janeiro, com a presença das principais operadoras.

A preocupação principal das empresas parece ser mesmo com a mudança estrutural que o setor vem passando, em decorrência de uma nova realidade tecnológica, de novos negócios que começam a se abrir, de um novo cenário competitivo e de demanda dos usuários.

Uma coisa é certa: o mercado mundial, e isso não é diferente no Brasil, está sendo inundado com capacidade satelital. A expectativa é que o país veja, em 2017, um salto significativo na oferta de capacidade. Mas ao contrário de outros momentos da indústria em que houve um salto desse tamanho, isso parece não preocupar as operadoras.

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Para Oliveira, da StarOne, o que tende a impulsionar a demanda são justamente os serviços novos. "A banda Ka, contudo não é um avanço de tecnologia. As bandas Ku e C não estão obsoletas nem serão substituídas. Mas a Ka abre outras possibilidades. A tese de que tem uma demanda escondida prevalece", diz.

Para Jurandir Pitsch, a indústria vem se preparando há muito tempo para essas novas possibilidades de negócio e essa nova demanda é esperada. "Não podemos extrapolar o passado para o presente. As aplicações atuais obviamente não vão consumir toda essa nova capacidade, mas o desenho dos satélites foi feito pensando justamente nas novas tecnologias". Um dos novos mercados é o de comunicações embarcadas, ou in-flight communications. Hoje, os aviões têm conexões de 15 Mbps, mas isso deve saltar para 200 Mbps em pouco tempo, diz Pitsch. "A mudança de paradigma vem da combinação das inovações com o redesenho e a flexibilidade dos satélites e a redução de prazos de construção", diz.

Para Rodrigo Campos, diretor geral da Eutelsat no Brasil, hoje todas as operadoras têm coberturas semelhantes e níveis técnicos semelhantes. "O desafio agora é pensar nas aplicações e na flexibilidade da oferta".

Na visão de Márcio Brasil, diretor comercial da Intelsat, a questão do excesso de demanda é relativa e depende de qual nicho se esteja olhando. "Quando olhamos para as aplicações de alta eficiência, disponibilidade e velocidade, temos uma demanda a ser destravada gigantesca. Essa demanda ainda não está categorizada e pesquisada, porque é meio que (o paradoxo) do ovo e da galinha. Apresentando a solução é o que vai destravar a demanda", diz.

Verticalização

Outra tendência importante que está na pauta dos operadores de satélite é a da verticalização das ofertas, saindo da simples venda de capacidade e indo para a prestação de serviços e integração de soluções. Nesse aspectos, cada operadora parece ir para um caminho. A StarOne, por ser parte do grupo América Móvil, acaba atuando em um ambiente mais verticalizado, diz Oliveira. "Além disso, muito da nossa demanda é interna, para atendermos o próprio grupo. Isso nos abre a possibilidade de atuar fora do Brasil, o que é importante também. Mas isso não quer dizer que a gente não esteja atuando para os clientes no mercado", diz.

Pitsch, da SES, lembra que a verticalização acontece, em muitos casos, como uma forma de desbravar o mercado e mostrar o que é possível ser feito. "Estamos fazendo isso no mercado de vídeo sobre IP e no mercado de conectividades em cruzeiros, onde sabemos que existem muitas possibilidades. Como não fomos procurados por clientes, nos julgamos no direito de ir a esses mercados".

A Telesat tem uma postura diferente, segundo Mauro Wajnberg. "A indústria de satélites está em um momento de transição e é difícil de enxergar direito aonde isso vai dar. Os players estão se reposicionando e procurando novos espaços. Isso já pode ser visto pela consolidação mundial de players. No nosso caso, estamos assumindo uma posição de não prover serviços. Vamos oferecer capacidade sem competir com os nossos clientes. O que temos que ter é uma estrutura mais flexível", diz.

Segundo Márcio Brasil, a Intelsat não pretende oferecer os serviços diretamente. Mas ele ressalta que o acesso aos satélites se torna muito caro quando se pretende tirar todo o potencial dos satélites HTS. "O que a Intelsat faz é facilitar esse acesso, na forma de serviços gerenciados para provedores de serviço acessarem os HTS, e ter a vantagem da eficiência adicional e poder incorporar essa capacidade ao consumidor final". Na verdade, a Intelsat centraliza a rede para simplificar o capex dos clientes que não têm como investir diretamente em hubs e teleportos próprios, mas a empresa não pretende instalar nem faturar diretamente os serviços de conectividade em barcos ou aviões, por exemplo. "Nem teria como cobrar isso".

Já a Eutelsat aposta em parcerias em que ela seja parte de uma solução integrada. É o que acontece com a sua capacidade de banda Ka no Brasil, totalmente contratada pela Hughes, que, por sua vez, tem parceria com a Elsys para distribuição e instalação do serviço de banda larga HughesNet.

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