Ficou claro que o processo de construção do documento final do evento NetMundial, embora esteja baseado no consenso, não foi tão consensual assim. Rússia, Índia e Cuba e um representante da sociedade civil se manifestaram contrários ao resultado final dos dois dias de debates.
O representante da Rússia fez o discurso mais crítico. Para ele, houve falta de transparência na elaboração do documento. "As decisões foram tomadas por um comitê e nós não entendemos essas decisões", disse ele. O modelo multistakeholder usado para a construção da proposta não foi "uma boa prática". "Nossas sugestões foram ignoradas", disse ele.
A Rússia já vinha dando sinais do seu descontentamento sobre a forma como estava sendo construído o documento final, que, segundo o russo, permite a manutenção da coleta de dados dos países que fazem isso.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ponderou que a insatisfação dos russos está mais relacionada com a forma como o trabalho foi feito e não com o conteúdo. Em relação à alegação de que as contribuições não foram consideradas, o ministro disse que "o pessoal da administração explicou que eles mandaram fora do prazo". Além disso, o ministro explica, houve um desconforto pelo fato de eles não estarem no comitê de alto nível, ao contrário de outros países emergentes como o próprio Brasil e o Paquistão.
Já o representante da Índia apontou que há mudanças significativas em relação ao rascunho do documento final, mas a internacionalização "das instituições", para ele, não foi incluída no texto. O representante russo, contudo, observou que a sua delegação não tem mandado para referendar o que foi decidido no encontro e que vai levar o documento para o governo russo.
Um representante da sociedade civil, por sua vez, mencionou que não foi suficiente a forma como a neutralidade de rede foi tratada no texto. Além disso, para ele, o texto também não é suficiente para a proteção dos direitos humanos fundamentais. Apesar das críticas, ele elogiou a oportunidade de a sociedade civil, com toda a sua diversidade, ter participado do processo.
Cuba, por fim, reclamou que o documento não reconheceu a ONU como um ator fundamental. "Essas decisões devem ser tomadas em outros fóruns, em particular nas Nações Unidas".