Prestes a iniciar as operações no Brasil, a OneWeb enxerga com bons olhos pelo menos parte da proposta de sustentabilidade espacial levada pela comitiva brasileira liderada pela Anatel à Conferência Plenipotenciária (PP-22) da União Internacional de Telecomunicações (UIT) no ano passado. O diretor de relações governamentais e regulatórias da operadora satelital, Christopher Casarrubias, entende que é necessário ter regulação, mas o debate precisa ser multissetorial, envolvendo de forma mais ativa a própria indústria, e não apenas governos e agências reguladoras.
Na PP-22, a Anatel sugeriu que a própria UIT tenha um papel na administração das órbitas, centralizando a discussão sobre a gestão de detritos e lixo espacial provocado pelas megaconstelações. O diretor regulatório da OneWeb diz que o órgão das Nações Unidas "certamente tem o seu papel", uma vez que já lida com posições orbitais e espectro. Mas a questão seria a utilização desse debate por razões comerciais, e não propriamente de sustentabilidade.
"Quando soubemos da proposta brasileira, gostamos muito. Sugerimos mudanças e eles foram abertos a isso", declarou Casarrubias ao TELETIME nesta sexta-feira, 24. "Mas quando você abre um tópico desses em uma conferência plenipotenciária da UIT, você abre uma caixa de pandora."
Isso porque, na avaliação dele, há muitos atores com diferentes interesses que merecem ser ouvidos. "Acreditamos que tem mais diálogos que precisam acontecer com companhias, provedores, lançadores e todo o ecossistema em vez de apenas com os reguladores de telecomunicações", Para ele, o debate "precisa ser multissetorial para que seja desenvolvido de uma forma útil".
A abordagem poderia acabar demandando mais tempo, reconhece, mas ele destaca que se trata de uma questão de relevância da sociedade global. "O espaço é de todo mundo. É mais importante do que só para agências e os governos, ou só o setor privado", argumenta. "Na perspectiva da OneWeb, queremos regras claras, achamos que atualmente não há regras suficientes. Queremos que as companhias estejam em conformidade da mesmas políticas com as quais já aderimos voluntariamente. Mas a regulação precisa ser um resultado com as indústrias 100% envolvidas, e não só sendo consultadas."
Cooperação
Conforme contou a este noticiário o diretor regulatório, a sustentabilidade espacial é uma questão cara à operadora, que procura trabalhar em melhores práticas para a indústria. No começo do mês, a empresa – por meio do time Flight Dynamics – convidou o setor satelital para participar de uma política de "Espaço Responsável". A ideia é criar uma rede de operadores em prol da segurança espacial, incluindo atividades para evitar colisões. "Temos alguns padrões internacionais que estão sendo desenvolvidos pela indústria, levando em conta o que está sendo discutido em diferentes instâncias, incluindo a UIT, mas não só ela."
Há um diálogo com outras operadoras, incluindo SpaceX (e a Starlink, ambas do grupo do empresário Elon Musk), Iridium e Inmarsat, mas o Christopher Casarrubias entende que se trata de uma discussão política com implicações comerciais. Ele discorda de "abordagens agressivas" em torno das megaconstelações, ainda que procure diferenciar a OneWeb, que terá frota com cerca de 700 satélites, em vez de milhares de artefatos em órbita. "É uma preocupação, e é algo que precisamos trabalhar juntos."