A inclusão de critérios ESG nos próximos editais de radiofrequências da Anatel precisará superar alguns desafios, seja na definição exata das novas obrigações ou na adoção da agenda dentro das próprias operadoras de telecom.
"Não temos ainda critérios ESG definidos", explicou a sócia e diretora da TELCOnsultoria, Katia Pedroso. "Temos a orientação para tê-los, com obrigação de estabelecer esses critérios de forma mais diretiva no âmbito do PDFF [Plano de Atribuição, Destinação e Distribuição de Faixas de Frequências] e algumas orientações na nossa agenda regulatória 2025-2026", notou.
As novidades foram introduzidas pela Anatel no final de 2024, com expectativa de que já possam valer no próximo leilão de 6 GHz previsto pela agência. Em paralelo, a reguladora também tem trabalhado em um selo ESG.
Pedroso, contudo, também chama atenção para o fato de que embora as grandes operadoras como Vivo, Claro e TIM já estejam avançando nesse aspecto, o segmento também engloba inúmeras empresas emergentes, que representam a base da pirâmide do mercado.
"Ainda temos muito o que avançar em ESG no setor de telecom. Falar de ESG pressupõe organização empresarial, algo que muitas empresas do setor ainda precisam desenvolver", declarou a executiva.
Ao mesmo tempo, é preciso equilibrar os custos associados à organização empresarial com os benefícios de longo prazo para a sustentabilidade e a competitividade do mercado. "É um processo que, inevitavelmente, aumenta os custos, mas o retorno é muito maior do que o investimento", argumenta Katia Pedroso.
Entre os pontos que a Anatel deseja implementar nos leilões está a aplicação obrigatória dos critérios ESG na avaliação das propostas; a apresentação de certificações ou compromissos públicos de adesão às práticas ESG por parte das licitantes; e a implementação de mecanismos de monitoramento contínuo, como relatórios anuais.
As recentes decisões marcam o futuro esforço que será coordenado entre diferentes superintendências da Anatel, que deverão adotar medidas para incorporar exigências de ESG e alinhar o setor às melhores práticas internacionais. As iniciativas em curso buscam não apenas modernizar a infraestrutura regulatória, mas também consolidar a governança e a sustentabilidade como pilares do desenvolvimento setorial, defende a agência.
Vero
Um nome do setor que saiu em defesa da iniciativa da Anatel para adoção dos critérios ESG nos editais dos leilões foi o diretor jurídico e de assuntos corporativos da Vero, Flavio Rossini. Para ele, trata-se de "uma excelente notícia para o futuro do setor".
"Como encarregado pelas iniciativas de ESG aqui na Vero, vejo essa mudança como uma grande oportunidade para consolidar práticas responsáveis e transformar a maneira como entregamos conectividade às pessoas", afirmou Rossini, em uma publicação no Linkedin. "Estamos vivendo um momento crucial para repensar estratégias e garantir que a inovação seja guiada por princípios éticos e inclusivos", afirmou.