A janela de oportunidades no mercado financeiro para provedores regionais de maior porte vai ficar significativamente reduzida em 2022, mas as empresas de menor porte ainda poderão passar por uma fase de consolidação. Isso porque, além das condições macroeconômicas, como o aumento da inflação e do dólar, o calendário de eleições mexe com os ânimos de investidores em relação a riscos.
Para Gustavo Barros, da IT Investimentos, após a chegada da Desktop, Unifique e Brisanet no mercado de ações e as recentes aquisições de outros provedores, haverá um novo cenário. "Sim, estamos no fim de um ciclo, devem acontecer outros. Acredito que, dos players médios, poucos não foram consolidados. Mas os pequenos, de 10 mil a 30 mil assinantes, serão", declarou ele durante debate do Teletime TEC sobre o mercado nesta terça-feira, 23.
Ele também acredita que pequenos e médios provedores podem iniciar um processo de separação estrutural de suas operações, com vistas a oportunidades de consolidação com empresas de redes neutras, que não necessariamente tenham interesse em ficar com os clientes, mas estejam interessados na infraestrutura de fibra.
Desta forma, o mercado buscará empresas que já tenham uma governança e estrutura por trás que as diferenciem aos olhos de investidores. O principal motivo é o potencial de crescimento, segundo Barros, embora o horizonte esteja menos favorável para isso. "Antigamente, crescer 4% a 5% era normal. Hoje, crescer de 2% a 3% já é muito bom. Esses diferenciais vão separar o joio do trigo."
O diretor de M&A da Alloha/EB Capital, Marcelo Mesquita, colocou que 2021 foi um ano chave para o setor, com a possibilidade de entrar na bolsa de valores com múltiplos altos. "A gente está entrando em um segundo movimento com o espaço se fechando com a competição. Além dos grandes e consolidadores maiores, os menores estão se estruturando e conseguindo competir de igual para igual com provedores de médio porte. É o momento no qual a janela começa a se fechar para alguns players. Deve-se olhar para dentro, no que se está fazendo, para entrar em rodada de investimento e ser adquirido."
Mesquita diz que haverá espaço para quem tiver a rede estruturada e estrutura societária em dia. Para ele, a tendência é por uma redução de players. E, com isso, haverá também a maior incidência de separação estrutural para operação de infraestrutura no atacado, como redes neutras.
O entendimento do sócio do Boston Consulting Group, Marcos Aguiar, é que os investimentos da indústria podem ser divididos por camadas, com diferentes níveis tanto de Capex quanto de retorno – direitos de passagem; construção de rede; operação sem deter a infraestrutura, ou conectividade no atacado; ou aplicações e serviços. "Os economics variam grandemente, e o payback também pode se alterar. Se [a operadora] não entender as diferenças, pode cair em erros graves", alerta.
A conta do 5G
Para o sócio do BCG, o 5G é uma plataforma estratégica para qualquer país, e sem a tecnologia não haverá desenvolvimento social e econômico. Para tanto, é necessário que o arcabouço regulatório siga essa estrutura de camadas, defende. Aguiar adiciona ainda as possibilidades de compartilhamento de infraestrutura, "especialmente nas camadas de baixo".
Por outro lado, os investimentos já realizados e o 5G abrem caminho para o crescimento orgânico das empresas, segundo avaliou Gustavo Barros. Ele entende que o cenário não é mais o que vinha se desenhando desde 2020, passando a ser "bastante desafiador, seja via bolsa, seja no mercado de capitais para novas dívidas, de debêntures de infraestrutura". Pesa neste sentido o dólar alto, que torna o Capex mais caro ao se converter em reais.
"Mas a gente entende que principalmente a Brisanet e a Unifique vêm estudando o segmento há muito tempo, e com certeza têm preparação grande e sabe o que deve ser feito", afirma Barros. Ele cita ainda novas oportunidades com grandes redes de fibra, facilitando a implantação de estações radiobase, por exemplo.
Já para Marcelo Mesquita, da Alloha, havia riscos demais. "Do nosso lado, olhando para o 5G em si, a gente sempre viu como uma conta bastante apertada, do que teria em investimento para o futuro e como isso retornaria para a empresa", avalia. Contudo, ele cita vertentes ainda inexploradas e "não óbvias", como as possibilidades com a indústria 4.0 e Internet das Coisas de gerarem novos fluxos de receita.