Em um mundo em que a economia digital ganha cada vez mais força, a cibersegurança se tornará mais complexa e estratégica nos próximos anos, sobretudo com o impacto da inteligência artificial. Mas a IA também deve promover benefícios na área.
Entre as principais previsões apresentadas durante coletiva de imprensa em São Paulo pelo Analista Diretor Sênior do Gartner, Oscar Isaka, acredita-se que a adoção da inteligência artificial generativa (GenAI) irá eliminar a lacuna de habilidades, eliminando a necessidade de educação especializada para 50% das posições de cibersegurança de nível básico.
Além disso, acreditam que até 2026, as empresas que combinarem a GenAI com uma arquitetura baseada em plataformas integradas em programas de comportamento e cultura de segurança experimentarão 40% menos incidentes de cibersegurança causados por funcionários.
As transformações digitais exigem também uma atualização e sofisticação do aparato jurídico para garantir a regulamentação e segurança. Em sua apresentação, Isaka citou as regras de divulgação e relatórios de cibersegurança da Securities and Exchange Commission (SEC) como exemplo.
Na leitura da Gartner, o novo cenário tecnológico submete os líderes de cibersegurança a novas responsabilidades pessoais. Os analistas estimam que dois terços das 100 maiores empresas globais estenderão os seguros disponíveis para diretores para os líderes de cibersegurança devido aos riscos jurídicos pessoais, em busca de mitigar eventuais responsabilidades pessoais, riscos profissionais e despesas jurídicas.
"Prevenção de 100% é uma utopia, não existe. Devemos agir pensando em como responder e minimizar os ataques de maneira efetiva, já que eles são iminentes", defendeu Oscar Isaka.
Desinformação
Ainda segundo o Gartner, até 2028, os gastos corporativos com o combate à desinformação ultrapassarão US$ 30 bilhões.
O investimento seria necessário pelo fato de que a combinação de que a inteligência artificial e outras tecnologias permite criar e difundir desinformação em massa, ou até informações falsas enviadas em massa e de forma personalizada para gerar maior impacto.
Idealizar e executar programas contra desinformação nas empresas e investir em ferramentas e técnicas que combatam o problema, segundo a consultoria, canibalizará até 50% dos orçamentos de marketing e cibersegurança.
Cloud
Ainda que não seja possível imaginar organizações que não façam uso mesmo que de uma pequena parcelo dos serviços de nuvem, atualmente, a maioria das companhias ainda encontram-se em estágios iniciais de uso da tecnologia, como destacado pelo diretor sênior de research da Gartner, Henrique Cecci.
"A gente ainda enxerga cloud apenas como o data center de alguém, como a infraestrutura básica de alguém. Mas, na realidade cloud é muito mais do que isso", afirmou o executivo. Os analistas acreditam que até 2029 as empresas passarão a ter a tecnologia como uma necessidade em seus negócios.
Entre as tendências observadas pelo Gartner, destacam-se os aspectos multicloud, com a possibilidade de trabalhar com múltiplos fornecedores e diferentes serviços. Ao longo dos próximos cinco anos, a expectativa é de que as diferenças entre as soluções sejam exploradas positivamente.
"A gente ainda está no começo, em uma fase de ter um parceiro preferencial e e alguns parceiros estratégicos. Mas, a medida que o mercado evolui, a diversificação aumenta. Países como os Estados Unidos, por exemplo, já têm uma maturidade maior", afirmou Cecci.
Além disso, destaca-se a busca por plataformas nativas – ou seja ambientes em que a criação, implementação e gerenciamento já acontecem na nuvem, permitindo atualizações mais rápidas. Uma modernização também implicará no alinhamento e padronização das aplicações nos modelos de cloud.
A busca por soberania digital também vem ganhando força e deve ganhar ainda mais nos próximos anos, já que a maioria dos desenvolvedores de nuvem concentram-se nos Estados Unidos e China. "Prevemos que os investimentos em aspectos de soberania digital aumentarão quase 80% nas empresas. Hoje, eles representam apenas 10%", pontua Henrique Cecci.
Outro tema ainda pouco discutido que deve ganhar protagonismo é a questão da sustentabilidade envolvendo a nuvem. A discussão se complexifica já que a combinação de cloud com inteligência artificial também uma tendência, o que exigiria ainda mais energia.
A questão energética é, inclusive, um dos desafios para evolução da tecnologia ao redor do mundo, já que há uma limitação na produção de energia. "Tem países que não oferecem serviços de Inteligência Artificial por causa da falta de energia", ressaltou o diretor do Gartner. Mesmo com a tendência de avanço da tecnologia de cloud, o período exige adaptação para adequar as novas infraestruturas computacionais e suas demandas, segundo o especialista.