"Para nós, passar por um processo de transformação digital foi uma questão de vida ou morte". Com essa frase, Julian Thomas, presidente da A.P. Moller-Maersk no Brasil e Costa Leste da América do Sul, resume a mudança no modelo de negócios da empresa, uma das maiores do mundo em logística de transporte, ao falar sobre as transformações que enfrentou nos últimos seis anos.
O fator chave para a transformação da Maersk foi uma mudança de expectativa dos consumidores. Com o crescimento do comércio eletrônico em todo o mundo, a logística de entrega mudou, os processos se tornaram automatizados e rastreáveis. Era necessário reproduzir no processo de logística integrada de contêineres e cargas globais. "Para nós era essencial integrar vários pontos da cadeia de envio de uma carga, incluindo transporte e armazenagem. E essa integração só foi possível com um processo de transformação digital amplo", diz o executivo em conversa com TELETIME. "Integrar virou a palavra de ordem".
Ele conta que a digitalização do comércio fez com que a entrega de mercadorias passasse a agregar valor ao próprio produto. "Isso é mais simples quando se está dentro de um mesmo território, mas como fazer isso em escala global e lidando com cargas muito maiores"?
Hoje a Maersk Digital tem um dos maiores sites sites de comércio B2B do mundo, com mais de 130 mil transações por semana, e que movimenta US$ 104 bilhões por ano. O Brasil, apesar de ser um dos 15 maiores países em comércio tradicional, ainda é tímido no modelo digital, mas a empresa aposta no crescimento do segmento com o lançamento da plataforma NeoNav, que permite a gestão da cadeia de fornecimento. Ao todo, a empresa já investiu mais de US$ 7 bilhões desde 2010 e hoje tem um terço das transações com contêineres no Brasil.
"Ainda existem alguns grandes desafios para a logística digital. Uma delas é a padronização de processos, porque são vários atores envolvidos na cadeia, e nem todos eles estão no mesmo estágio de adoção de tecnologias digitais", diz Thomas. Ele diz que a Maersk e alguns parceiros estão tendo que desenvolver soluções que permitam a digitalização de todas estas etapas e atores envolvidos num processo de logística de cargas, desde a negociação de valores até ferramentas de rastreamento, integração e documentação com blockchain. Boa parte desta tecnologia está integrada já na plataforma TradeLens, desenvolvida com a IBM.
O outro desafio é burocrático. "Tecnologias digitais já existem, mas muitas vezes as alfândegas e autoridades não aderiram ainda. A burocracia é um grande desafio para a logística. No Brasil, especificamente, há boa vontade e reconhecimento de que esse é o caminho, mas há muitos atores envolvidos no processo e é complicado ter todos na mesma página", diz o executivo. "No Brasil, por exemplo, uma nota fiscal eletrônica ainda não dispensa a cópia impressa junto com a carga". Ele lembra que uma dificuldade adicional para uma empresa de logística é que ela precisa lidar com a mesma situação em todo o mundo, e cada país tem a sua dificuldade.