Para trabalhar em ultra velocidade, com baixa latência e uma cobertura com lacunas menores, o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga (5G) necessita superar os obstáculos existentes de infraestrutura em áreas que exigem muito tráfego de informações, como grandes cidades e distritos comerciais. Também será necessário enfrentar os desafios regulatórios das autoridades locais, que incluem taxas excessivas, restrições e até mesmo movimentos que proíbem as instalações de estação de rádio base (ERBs) e redução do aparelho (small-cells) que permite ampliação da cobertura do sinal de dados em locais com maior demanda ou com densas coberturas.
Além disso, as redes 5G precisarão que a infraestrutura de pequenas áreas geográficas seja implementada em mais locais com o propósito de aumentar a capacidade em áreas urbanas densamente povoadas e estender a cobertura para áreas rurais. Esse processo demandaria a aprovação das autoridades locais, o que poderia levar anos até ser concretizada. Por outro lado, um decreto presidencial, no ano passado, regulamentou uma norma conhecida como o "silêncio positivo" que permite a instalação de equipamentos caso não haja manifestação por parte de órgãos ou entidades municipais e desde que o pedido esteja em conformidade com a legislação. Com base nisso, se não houver resposta breve dos municípios, entende-se que a autorização está permitida, podendo executar a ação.
Vale ressaltar que os aspectos regulatórios são condições fundamentais para as empresas colocarem em prática essa nova tecnologia. Entre eles, estão os seguintes: avaliação e interpretação das leis federais, estaduais e municipais e possíveis barreiras para implementação do 5G; monitoramento dos riscos relacionados ao uso de infraestrutura de terceiros; análise, modelagem e gestão das obrigações legais; monitoramento dos riscos relacionados ao licenciamento de infraestrutura e o seu uso por terceiros; e suporte jurídico obrigatório em questões relacionadas ao uso eficiente da radiofrequência.
O surgimento de novas redes irá permitir a disponibilização de pacotes de dados mais econômicos oferecendo menor custo por gigabyte, aumentando a competitividade entre as empresas. Além disso, novos planos de pacotes de dados ilimitados, ofertas de preços baseadas na velocidade e de conteúdo com aplicativos agrupados serão parte do novo portfólio das companhias de telecomunicações, contribuindo com a construção de um modelo baseado no menor e melhor custo de aquisição por usuário.
A nova tecnologia tem a promessa de revolucionar a economia e pode trazer um valor incremental de US$ 1,2 trilhão (R$ 6,5 trilhões) ao PIB brasileiro até 2035, segundo uma pesquisa realizada em maio deste ano. Entre os setores, esse aumento significativo do PIB deve ser maior nas áreas de tecnologia (US$ 241 bilhões a mais), governo (US$ 189 bi), manufatura (US$ 181 bi), serviços (US$ 152 bi), varejo (US$ 88 bi), agricultura (US$ 77 bi) e mineração (US$ 48,6 bi).
Ressaltamos que a implantação do 5G não é uma tarefa simples, uma vez que existem vários fatores relevantes que devem ser considerados. Entender a monetização do caso de uso, verificar como se dará a construção da infraestrutura e a analisar a concorrência no mercado são alguns dos fatores que devem ser avaliados. A abordagem comercial exigirá também uma lógica diferenciada, que levará em conta o conhecimento prévio da problemática e necessidades dos clientes, apoiando estes na transformação dos negócios através da utilização dessa tecnologia.
Embora a estratégia das empresas já esteja madura para implementação do 5G, a parte comercial, o fator regulatório da nova rede e os casos de negócios ainda permanecem imaturos. A realização do cálculo do custo de construção de uma tecnologia de quinta geração é complexa, mas o que realmente importa é avaliar se o valor do investimento e equipamentos necessários terão um retorno possível em um determinado período.
Apesar desses entraves, a tecnologia 5G está definida para maximizar o poder do digital em vários setores da economia. A rede será uma plataforma transformadora de todas as indústrias, gerando novos modelos de negócio e grandes experiências de imersão interativa e resultando em novas fontes de receita. A implantação, evidentemente, irá auxiliar empresas nos desafios de mercado, remodelar cadeias de valor e otimizar operações em vários segmentos como agricultura, automotivo, educação, infraestrutura, indústria, saúde e outros.
*Sobre o autor – Márcio Kanamaru é sócio-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT) da KPMG. As posições manifestadas nesse artigo não necessariamente refletem a posição de TELETIME.