O governo da França vai duplicar a participação na operadora de satélites Eutelsat. Com isso, o país se tornará o maior acionista do grupo, ficando com quase 30% da fatia da operação – contra os 13,7% que detém hoje.
A nação governada pelo presidente Emmanuel Macron vai aportar 526,4 milhões na subscrição reservada em um aumento de capital realizado pela operadora (veja mais detalhes ao longo do texto). A injeção de capital é parte de uma estratégia nacional para garantir soberania digital tanto à França quanto aos demais países que compõem a União Europeia (UE).
CEO da Eutelsat, Jean Francois-Fallacher disse que a empresa está "pronta para se tornar um ator central no desenvolvimento do espaço soberano europeu do amanhã". Já Emmanuel Macron chamou a operadora de "joia estratégica" da Europa. "A Eutelsat é a única operadora não americana e não chinesa com uma constelação em órbita baixa. É uma questão de soberania para nós", afirmou o presidente francês.
O interesse também tem a ver com a preocupação do bloco econômico com o domínio da Starlink no segmento global de satélites – especialmente aqueles de baixa órbita (LEO).
O aumento de capital
Esse não é o único dinheiro que entrará no grupo. Ao todo, a Eutelsat anunciou um aumento de capital de € 1,35 bilhão. Desse valor, 716 milhões de euros virão da chamada subscrição reservada, incluindo via outros acionistas como o grupo Bharti. A divisão será a seguinte:
Já o restante dos valores será proveniente da emissão de direitos: nesse caso, os mesmos investidores participarão, comprando direitos proporcionalmente à sua nova participação. O aumento de capital (subscrição reservada + emissão de direitos) está previsto para ser executado até o final de 2025. Até o fim do terceiro trimestre deste ano, será convocada uma Assembleia Geral Extraordinária de acionistas para aprovar a operação.
Já a participação acionária prevista após as operações deve ser a seguinte:
Estado francês: 29,99%
Bharti Space: 18,70%
CMA CGM: 7,81%
FSP: 5,22%
Segundo a operadora, outros investidores (como o governo do Reino Unido) estão em negociação para entrar na rodada.
Impacto
Como resultado do aumento de capital, a dívida líquida do grupo deverá cair 2,5 vezes até o final do ano fiscal, além de fechar uma lacuna de financiamento de 4 bilhões de euros.
Além da capitalização, a Eutelsat assinou um acordo de dez anos com o Ministério das Forças Armadas da França, no valor de até 1 bilhão de euros, para integrar ativos civis e militares no programa Nexus – cujo objetivo é integrar as capacidades civis e militares de comunicações por satélite. A empresa afirmou que o contrato "ilustra o papel estratégico da constelação LEO no modelo francês de defesa soberana".
A Eutelsat também é o maior investidor privado no programa europeu IRIS², o programa da UE para criar uma constelação de satélites multi-órbita. Segundo a companhia, isso "confirma o status do grupo como um ator central na garantia da soberania europeia em espaço e conectividade".
Por meio da OneWeb, adquirida em 2023, a Eutelsat se tornou a principal aposta da Europa para o mercado de satélites de órbita baixa. Mas a operadora ainda precisa investir na modernização da constelação e enfrenta um compromisso financeiro de 2 bilhões de euros para contribuir com o desenvolvimento do IRIS².