5G, conteúdos locais, esportes e publicidade podem mudar o cenário do streaming

"Software is eating the world". Foi com essa premissa que o especialista no percado de streaming e consultor Omarson Costa abriu a programação do Brasil Streaming 2019, evento promovido pelas publicações TELETIME e TELA VIVA, nesta segunda, 22 de abril, em São Paulo. O que o executivo – que já passou por empresas como Netflix, Microsoft e Telefônica – quis dizer com a afirmação é que todo tipo de tecnologia vai, essencialmente, virar apenas software. Especialmente a televisão. "É sobre assistir telas, e não televisão. Esse é o novo paradigma. A TV do futuro é software e tanto faz qual vai ser a tela.", definiu.

Ao apresentar uma pequena linha do tempo das grandes transformações sofridas pelo mercado de TV no Brasil e no mundo e colocando a chegada da TV digital como o grande marco do início desse processo de constantes mudanças, Omarson declarou que as receitas da TV vão mudar muito e explicou que as inovações serão as grandes responsáveis por isso.

Para o especialista, uma mudança significativa no contexto do mercado será a chegada oficial do 5G. "Em 2004, eu já dizia que o conteúdo de vídeo iria passar pelas redes de celulares. E isso está certo – são elas quem distribuem conteúdo hoje. Na época, minha premissa era o custo de entrega – a tecnologia IP é muito mais barata para distribuir conteúdo. Então ao longo do tempo o custo de distribuição de conteúdo utilizando essas redes móveis iria cair substancialmente. Olhando custo, mobilidade e escala global, esse valor cai. E com o 5G deve cair mais ainda. E essa distribuição de conteúdo será ainda mais rápida do que imaginamos.", adianta.

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Segundo dados obtidos em pesquisa da Verizon Media (antiga Oath), o consumidor anseia pelo 5G por conta de fatores como alta definição dos conteúdos em vídeo e streaming de vídeo consistente e de melhor qualidade. "As redes móveis basicamente serão redes de distribuição de vídeo. Se hoje a maior parte do tráfego das operadoras já é de mobile vídeo, com a chegada do 5G isso cresce de forma mais exponencial.", conclui Omarson.

Redes físicas desnecessárias

Estando as operadoras entregando conteúdo de qualidade, talvez até em 4K, via 5G, a necessidade de uma rede de cabo se mostra praticamente nula do ponto de vista técnico, segundo o executivo. Ele acrescenta ainda que assim como a Telefônica, que já anunciou que irá produzir conteúdo, outras operadoras podem seguir por esse caminho. "Nesse cenário, não vai fazer sentido criar outros tipos de redes para distribuir conteúdo. O 5G vai ser global e naturalmente vai engolir o tráfego de TV. Assim, a indústria de streaming vai acelerar em cima desse crescimento (do 5G)", diz.

Mercado

Dentro desse assunto, o especialista se aprofunda nas questões relacionadas ao futuro do mercado. Nos EUA, o número de assinantes de streaming já supera os de TV a cabo. "A questão agora é falar de assinatura de serviços, e não só de streaming de conteúdo. É agregar vídeo, música e games, por exemplo. Não se trata de agregar uma série de canais, como é feito na TV, ou de aplicativos, no caso de conteúdos de streaming – e sim serviços de assinatura. A tendência é as operadoras distribuírem experiências ao usuário.", analisa. "À medida que o 5G avançar, essa receita da TV a cabo vai ser diluída nos outros serviços. Então se eu cancelo minha TV, sobra dinheiro no bolso. Se sobra, eu começo a gastar com outros tipos de serviços OTT. Haverão novos ganhadores e novos perdedores nesse movimento.", acrescenta. Omarson aposta em pacotes que unam serviços relacionados a conteúdo, música e games, que segundo ele são as três vertentes do entretenimento nas quais o consumidor gasta seu dinheiro. Como exemplo, ele cita uma parceria nova entre o Hulu (Disney) com o Spotify, que já supre dois desses três pilares, o de conteúdo e o de música, dentro de um mesmo pacote.

Peso do esporte

Omarson aponta ainda que os esportes podem ser um diferencial importante na briga de novas plataformas contra o Netflix, por exemplo. A plataforma Disney+ terá em sua plataforma o Hulu, ESPN e Disney dentro de um único serviço, sendo o primeiro provedor de conteúdo a oferecer algo do tipo. "Não é nada diferente do que a TV a cabo faz, mas com uma relação direta com o consumidor e eliminando um dos grandes problemas da pay TV, que é a compra de centenas de canais sendo que o público assiste a poucos deles.", explica. E essa novidade da Disney supre ainda um gap da Netflix, que é a oferta de esportes, inexistente na atual líder do mercado. Ele aponta ainda Amazon e Apple com apostas parecidas em conteúdos esportivos como diferencial.

O esporte é um capítulo essencial no que diz respeito ao futuro do streaming. No cenário atual, as ligas já têm seus próprios aplicativos – tendência esta que ainda não chegou efetivamente ao Brasil. Mas a Liga de Surf, por exemplo, fez uma parceria com o Facebook e está entregando seus conteúdos por meio da plataforma, já com bons números de audiência, que giram em torno da casa dos 100 milhões só no Brasil. "A Amazon e a Apple estão investindo não só em conteúdo original e local, mas também em esporte. Por isso, na minha opinião, elas são as mais preparadas para os próximos anos", defende Omarson, lembrando que ao contrário da Netflix, Amazon e Apple não precisam se preocupar com a geração negativa de caixa. "A combinação de investimentos em esporte e em conteúdo local é a última fronteira a ser massificada no streaming para fazer com que a TV aberta perca seu apelo.", pontua.

Por fim, Omarson aborda modelos de negócios, e afirma que a maioria dos serviços hoje é em SVoD, ou seja, via assinatura. Mas o emergente AVoD (Advertising VoD), segundo ele, é o que deve crescer substancialmente nos próximos anos, por conta de uma migração natural do anunciante da TV tradicional para o modelo programático oferecido pelas plataformas digitais.



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