A América Móvil (AMX) afirma ainda não ter encontrado um comprador para parte de seus ativos que serão vendidos no México, e esse processo pode não ser tão rápido. Durante conferência com analistas nesta terça, 22, o CEO do grupo mexicano, Daniel Hajj, afirmou que a empresa ainda está trabalhando em uma lista de possíveis players interessados. Uma vez conseguido um acordo para a venda dos ativos, aí sim o plano será apresentado ao Instituto Federal de Telecomunicaciones (IFT), que revisará e dará o aval (ou não) para a conclusão do projeto.
Até que tudo isso aconteça, Hajj afirma que a AMX está preparada para lidar com as novas regras no mercado local, incluindo atuar no papel de empresa dominante no mercado (Agente Económico Preponderante), no qual será obrigada a ceder infraestrutura e extinguir as tarifas de interconexão e de longa distância, valendo tanto para as operações fixas da Telmex quanto para a móvel Telcel. "Estamos preparados para trabalhar com as regras assimétricas e preponderantes, estamos com Capex e banda preparada, temos 70 mil funcionários no México, então, sabemos como operar com essas regras, sabemos quais são e queremos fazer as coisas transparentes e apresentar à IFT exatamente o que queremos".
O CEO do grupo mexicano explica que ainda faltam muitos detalhes para serem acertados. "Não sabemos exatamente as datas, mas primeiro precisamos ver o que queremos aqui no México, com o que a IFT estaria confortável. Não sabemos exatamente o que eles vão dizer, se dá para fazer TV nesse tempo", diz, referindo-se à possibilidade de investir no mercado de TV paga, que conta com regras menos rígidas atualmente.
Perguntado por um analista sobre como seria feita essa oferta de ativos, Hajj se esquivou e não deu detalhes sobre qual aspecto dominante é contabilizado pela agência mexicana. A IFT dá a entender que a empresa precisa ter menos de 50% de participação no mercado considerando a base de usuários, mas em termos de receitas, de infraestrutura e capacidade, os termos não são claros. "O que realmente temos de fazer é reduzir os 50% e criar competitividade", desconversa o executivo.
Comprador
A América Móvil não é obrigada a apresentar o projeto de reestruturação ao Instituto apenas quando houver um comprador, mas a empresa considera que é importante ter todas as variáveis já definidas. "O que queremos primeiro é achar uma companhia que se adapte a todos os requerimentos e aí vamos apresentar à IFT".
Daniel Hajj não citou nenhum possível interessado, mas o dono do grupo, Carlos Slim, já havia declarado em entrevista à agência de notícias Reuters no dia 11 de julho que o comprador dos ativos deveria ser uma única empresa e, provavelmente, um novo entrante. Alegando que pretende ser flexível, o CEO da AMX detalhou alguma das características da pretendente ao namoro financeiro. "Achamos que trazer uma nova companhia é bom para as telecomunicações no México e uma companhia sólida e forte poderia investir no país e criaria competitividade", explica.
Spin-off
Uma das medidas anunciadas pelo grupo para se adequar às novas regras mexicanas é a de "separar" todas as estações radiobase (ERBs), torres e infraestrutura passiva – esse negócio separado iria alugar os ativos para operadoras interessadas. Essa transação também ainda não está com os detalhes acertados. "Não consideramos nenhuma coisa do que faremos, não decidimos ainda sobre os spin-off, mas achamos que é o melhor valor para acionistas. Estamos ainda fazendo o plano", diz Daniel Hajj. Um dos problemas é que há a necessidade de definir o valor desses ativos, segundo ele.
A AMX espera definir tudo antes de 2015. "Precisamos apresentar o plano, em dois meses talvez tenhamos tudo pronto. Mas precisa ter a autorização para fazer o spin-off, então vai levar um tempo. Acho que até o final do ano vamos ter mais claridade em relação a isso". Hajj dá a entender que existe a possibilidade de estender a decisão para outros países. "Temos a decisão no México, é o que estamos trabalhando, na América Latina não temos nenhuma decisão ainda."
Mercados estrangeiros
A conferência praticamente não abordou a estratégia da AMX no Brasil, mas Daniel Hajj reafirmou o compromisso com a rota submarina que liga Fortaleza ao Caribe, bem como a província mexicana de Yucatán à Flórida (EUA). "Vamos começar a usar o cabo submarino neste trimestre e vamos estar completamente (operacionais) no quarto trimestre", assegura.
Mesmo após o desinvestimento da AT&T (como consequência da manobra de compra da DirecTV) como acionista na América Móvil, a estratégia da mexicana nos Estados Unidos com Start Wireless, operadora móvel virtual (MVNO) controlada por meio da subsidiária Tracfone, não mudará. "Trabalhamos com a Verizon e a T-Mobile lá, e vamos continuar, não teremos nenhuma grande mudança com a Tracfone", assegurou.
Na Europa, o tom é outro. A AMX assumiu o controle da Telekom Austria na semana passada, detendo aproximadamente 51% do capital da empresa. A companhia espera poder capitalizar a austríaca até o final do terceiro trimestre. "O que queremos basicamente é fortalecer a posição capital para deixá-la em boa situação", diz Hajj. A estratégia será a mesma de suas empresas na América Latina: agregar outros serviços como banda larga fixa e TV paga para atuar com combos e vendas cruzadas.