Os acidentes com energia elétrica no Brasil registraram uma queda de 12,4% entre 2023 e 2024. O número de acidentes gerais caiu para 685 em 2024 (ante 782 no ano anterior), o que inclui, além dos casos fatais, lesões graves e leves.
Com os números, o Brasil registrou, no último ano, o menor índice de acidentes totais com a rede elétrica desde 2017, de acordo com a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
O dado, embora positivo, ainda exige atenção. Apesar da redução, os números continuam preocupantes, especialmente na região Sudeste, que concentra a maior quantidade de acidentes, com 262 casos de acidentes. A explicação, segundo a entidade está diretamente ligada à maior densidade populacional e ao alto nível de urbanização da região.
Na outra ponta, o Centro-Oeste apresentou o menor número de ocorrências, com 54 casos registrados, seguido por Sul (86), Norte (90) e Nordeste (193). Entre as principais causas, destacam-se construção ou manutenção predial, cabos energizados no solo, furto de condutor e equipamentos e ligações clandestinas e operação de equipamentos.
Mortes aumentam
O número de mortes, por outro lado, aumentou. Foram 257 acidentes fatais em 2024, sete a mais que os 250 registrados em 2023. Dos 685 acidentes registrados, 224 foram classificados como lesões graves e 204 como lesões leves.
A entidade, em conjunto com 42 associadas, reforça sua mobilização nacional por meio da campanha "Zero Acidentes", cujo objetivo é zerar o número de acidentes envolvendo eletricidade no país.
Principais Causas
O levantamento da Abradee aponta que os setores da construção civil e da manutenção predial continuam liderando as estatísticas de acidentes. A proximidade de obras com a rede elétrica, muitas delas pequenas ampliações residenciais, além do manuseio incorreto de materiais como vergalhões e andaimes, são fatores decisivos nesse cenário.
Outro destaque é o número significativo de acidentes causados por quedas de árvores. O problema revela uma lacuna na gestão da arborização urbana, que é responsabilidade das prefeituras, mas que também demanda ações constantes das distribuidoras, como podas programadas e a instalação de redes protegidas.
A quantidade de acidentes decorrentes de serviços de telecomunicações foi de 35 (41 se considerados serviços de antenas de TV), o que significa a terceira maior causa, atrás de acidentes em obras e por queda na fiação de energia. Já os casos de mortes em decorrência de operações com redes de telecom foram nove (quinta maior causa de mortes).
O uso irregular de energia elétrica também figura como uma das principais causas. Conexões clandestinas, conhecidas como "gambiarras", não só representam risco de choque e incêndios, como refletem um problema social: o impacto das altas tarifas de energia, que empurram parte da população à informalidade.
"O fato de você ter uma tarifa de energia mais cara, infelizmente, influencia a possibilidade de furtos de energia", destacou o presidente da Abradee, Marcos Madureira.
MP positiva. Telecom preocupa
Paralelamente às ações de segurança, a entidade também vê com bons olhos a medida provisória anunciada na última quarta-feira, 21, que prevê entre outras coisas a redução das contas de luz de até 60 milhões de pessoas.
Para Madureira, trata-se de um marco para equilibrar o mercado regulado e o mercado livre de energia. A proposta prevê a redistribuição de custos, como o das usinas nucleares, e busca tornar as tarifas mais justas, amenizando os fatores econômicos que muitas vezes levam a furtos e acidentes.
Além disso, o representante chamou atenção para o compartilhamento desordenado de postes com empresas de telecomunicação, que tem ampliado os riscos. Ele alega que, atualmente, mais de 20 mil empresas atuam no setor, e impressionantes 60% delas operariam sem contrato com as distribuidoras, o que caracteriza atuação clandestina. Fios soltos, sobrecarga de postes e trabalhadores sem treinamento são problemas recorrentes, recorda ele.
Mudanças climáticas
Outro ponto levantado durante coletiva de imprensa com a entidade foi o cenário de riscos agravado pelos impactos crescentes das mudanças climáticas. O aumento das tempestades, secas prolongadas, queimadas e fenômenos extremos, como ciclones, desafiam a resiliência da rede elétrica, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
As distribuidoras têm respondido com investimentos em automação, monitoramento meteorológico e melhorias na rede, como o uso de cabos isolados e ações preventivas em parceria com prefeituras. Um caso emblemático foi registrado em Porto Alegre, onde as enchentes de maio de 2025 inundaram a rede subterrânea, atrasando significativamente o restabelecimento da energia.
Zero Acidentes
Lançada como resposta a esse quadro, a campanha "Zero Acidentes" se baseia em quatro pilares: Zero Imprudência, Zero Descuido, Zero Desinformação e Zero Acidentes. A estratégia aposta na informação como ferramenta essencial para salvar vidas. "Cada vida importa. O nosso objetivo é zerar o índice de acidentes", defendeu Madureira.
A iniciativa ocupa múltiplas frentes. Além de forte presença nas redes sociais, a campanha conta com cartilhas distribuídas em escolas, associações comunitárias e sindicatos da construção civil e área rural. Workshops online também fazem parte das ações, com destaque para o primeiro, marcado para agosto de 2025, voltado ao setor da construção.