Para atrair novas fontes de receita, as empresas de telecom vêm cruzando a fronteira da conectividade para se posicionar no amplo mercado de tecnologia. Esse movimento faz com que áreas como varejo e serviços financeiros ganhem mais importância na estratégia de negócios, mas a busca por novas soluções traz outro importante componente para o jogo: as startups. Na Vivo, as possibilidades com Corporate Venture Capital (CVC) já começam a mostrar resultados expressivos.
Em entrevista exclusiva ao TELETIME, Wana Schulze, head de investimento & portfólio da Wayra e Vivo Ventures, afirma que o objetivo é claro: trazer sinergias para as diferentes verticais da tele. O leque de setores na mira é amplo: além de finanças e varejo, áreas como educação, entretenimento, saúde, bem-estar, casa inteligente, consumer eletronics e energia têm atenção especial.
Há um ganha-ganha para ambas as partes. Enquanto as startups oferecem poder de inovação, com novas tecnologias e modelos que podem ser testados facilmente, a Vivo oferece não só os aportes, como poder no escala com mais de 1,8 mil lojas espalhadas pelo Brasil e 22 milhões de acessos mensais no seu aplicativo. "A Wayra só investe em startups que têm potencial de negócios com a Vivo, seja resolvendo uma dor interna para melhorar a eficiência da empresa ou como parceiro de negócios, contribuindo para a geração de receitas", afirma a executiva.
A relação da Vivo com as startups não começou ontem. Desde 2012, a operadora aposta em empresas de tecnologia por meio da Wayra, seu CVC voltado para o early stage, em co-investimentos com os principais fundos do País. No entanto, com o lançamento do Vivo Ventures, em 2022, o negócio ganhou outra envergadura.
Enquanto a Wayra oferece investimentos com teto máximo de R$ 2 milhões, o Vivo Ventures injeta entre R$ 10 milhões a R$ 25 milhões em séries A ou B. Em 12 anos, a Wayra já aportou cerca de R$ 30 milhões em 85 startups, com 25 empresas presentes no portfólio – elas possuem um valor de mercado acima de R$ 2,7 bilhões.
Por outro lado, o Vivo Ventures já investiu R$ 65 milhões em apenas dois anos. "Vivo Ventures e Wayra têm teses diferentes e complementares, realizando aportes em startups com perfis distintos, de modo a maximizar as oportunidades para a Vivo e para o grupo Telefónica", explica a executiva. A gestão dos dois fundos é conduzida pela Wayra.
A estratégia tem dado resultado. No ano passado, o balanço da Vivo apontou a cifra simbólica de R$ 100 milhões em negócios com startups, um salto de expressivos 35% na comparação com 2022. "Esse resultado deve-se à estratégia de inovação aberta da Vivo – conduzida pela Wayra e pelo Vivo Ventures – que enxerga a aproximação com startups como uma relevante fonte para oferecer novos serviços para seus clientes ou para otimizar processos internos", afirma Schulze.
Serviços Financeiros
Nesse movimento, a vertical de serviços financeiros é uma estrutura fundamental. No portfólio, estão fintechs como a QueroQuitar, de renegociação de dívidas, e a Klubi, especializada no setor de consórcios. "A área de serviços financeiros é um dos pilares do posicionamento da Vivo como hub digital. É a primeira na qual passamos a atuar e uma das mais maduras, tanto do ponto de vista de portfólio quanto de geração de receitas", diz Schulze.
Para se ter ideia, as receitas com serviços financeiros cresceram 36,4% no ano passado, totalizando R$ 403 milhões em 2023. O destaque é o Vivo Money, serviço de empréstimo pessoal que fechou o ano com uma carteira de R$ 358 milhões, aumento de duas vezes na comparação com 2022. Em março, essa carteira ultrapassou a casa dos R$ 400 milhões.
Em outra frente, a Vivo planeja pedir a licença de Sociedade de Crédito Direto ao Banco Central, o que dará à empresa maior flexibilidade para oferecer outros serviços de crédito e maior eficiência à medida que o portfólio se expande, diz a executiva.
Um bom exemplo dessa estratégia é a própria Klubi, fintech investida pelo Vivo Ventures e que gerou o lançamento um consórcio de smartphones que, desde julho de 2023, vendeu R$ 27,8 milhões em cotas.
Saúde e bem-estar
Os cheques mais parrudos do Vivo Ventures permitiram à empresa explorar a área de saúde e bem-estar. Além de R$ 15 milhões para a Klavi, R$ 10 milhões na Klubi e R$ 14,34 milhões na Digibee, uma plataforma lowcode que possibilita a integração entre sistemas tecnológicos legados, o CVC desembolsou R$ 25 milhões na Conexa, um ecossistema de saúde digital.
Após o deal, a Conexa se tornou a plataforma do Vale Saúde, serviço de assinatura da Vivo que permite o acesso a descontos em consultas médicas, exames e medicamentos. O investimento, segundo a executiva, teve aderência à visão da Vivo sobre a oportunidade do mercado de bem-estar e saúde mental e emocional.