Até dezembro passado, a distribuidora de energia paulista Elektro utilizava uma rede de rádio analógico em VHF para a comunicação com suas equipes em campo. A partir de janeiro, contudo, trocou o sistema por uma solução aparentemente inédita no mundo: um sistema push-to-talk (PTT) que mescla satélites e redes celulares. A mudança foi necessária em razão da intenção da Anatel de limpar as frequências hoje usadas por rádios analógicos VHF no Brasil, cujas licenças não serão mais renovadas a partir de dezembro deste ano. Agora, os 600 veículos que transportam os técnicos da empresa pelas mais de 200 cidades onde possui rede elétrica em São Paulo e Mato Grosso do Sul já estão equipados com o novo meio de comunicação.
A solução híbrida foi desenvolvida pela Thrane & Thrane, fabricante internacional de equipamentos via satélite, e pela brasileira Tesacom, que presta o serviço para a Elektro. "Foi um trabalho feito sob medida, estilo alfaiate", compara o diretor de operações da Tesacom, Marcelo Fernandes. Foi utilizado o Explorer 325, um equipamento de comunicação de dados via satélite da Thrane & Thrane para automóveis, que usa o serviço Bgan, da Inmarsat. Conectado a esse aparelho e instalado dentro do veículo está uma espécie de gateway PTT criado especialmente para o projeto. Nesta caixa estão dois modems 3G, de operadoras diferentes. E dela sai o microfone do rádio, para a comunicação dos técnicos.
A voz é transmitida via VoiP. A opção prioritária é a rede celular, por ser mais barata. Mas quando não está disponível, os dados viajam via satélite. Aproximadamente 70% do tráfego segue pela rede celular e 30%, por satélite, estima Fernandes. Para tornar possível o serviço, a Thrane & Thrane elaborou um codec especial, capaz de transmitir VoIP a uma taxa de 8 Kbps. Os técnicos conseguem conversar apenas com o centro de operações e despacho (COD) da Elektro. No COD, é possível acompanhar todas as equipes de campo e se comunicar com qualquer uma delas por voz, através do sistema.
A adoção da solução custará para a Elektro R$ 14 milhões em cinco anos, somando equipamentos e o serviço prestado pela Tesacom. O investimento inicial é mais alto do que aquele em uma rede VHF, mas a longo prazo sai mais barato, garante o diretor da Tesacom. Além disso, a empresa resolveu o problema regulatório e ampliou sua cobertura de comunicação, já que antes estava restrita ao raio de alcance de sua rede VHF.