Depois de meses de especulação e inúmeras viagens ao estado natal, Rio Grande do Norte, o ministro Fábio Faria convocou a imprensa em Brasília nesta terça-feira, 22, para comunicar que permanecerá à frente da pasta de Comunicações. Ou seja, ele desistiu de se candidatar à vaga no Senado representando o estado.
Para tanto, Faria afirmou que só vai deixar o cargo no governo Jair Bolsonaro até entregar o 5G em todas as capitais, o que deverá acontecer até o dia 31 de julho, conforme o edital do Leilão do 5G determina. Ele acredita que a entrada em operação da tecnologia será seu "maior legado" e que se vê compelido a aguardar esse momento. Depois disso, contudo, ele fala em voltar à iniciativa privada.
"Eu ficava muito preocupado em sair do Ministério agora em março e não consegui entregar meu maior legado, que é o 5G funcionando", declarou. "Eu tinha muita vontade de poder visitar essas 27 capitais e ligar o botão do 5G." Faria alegou que se sentia desconfortável em sair como candidato representando o Rio Grande do Norte sem completar isso. Ele então entrou de férias e tomou a decisão há cerca de 15 dias. "Pretendo concluir minha missão, e depois vou voltar de onde eu vim: a iniciativa privada."
Outros elementos podem ter tido peso igual na decisão do ministro. Ele disputava com o colega da pasta do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, pela possibilidade de concorrer ao Senado pelo RN com apoio de Bolsonaro. Marinho, contudo, obteve a preferência do presidente. Outro possível destino de Faria especulado no meio político seria do de vice na chapa de Bolsonaro.
Já o prazo de entrega do 5G não depende apenas da vontade do ministro. É preciso que estejam satisfeitas as condições previstas no edital, notadamente a migração dos canais de TV via satélite na banda C para a banda Ku, com a distribuição dos kits de recepção para os beneficiários do Cadastro Único que dependam da tecnologia para receber os sinais da radiodifusão. Para que essa condição aconteça, é preciso ainda definir o satélite que receberá os canais (prazo definido para 10 de março), migração dos canais, definição e compra dos equipamentos, localização dos beneficiários aptos a receber os kits, distribuição e instalação dos equipamentos. Lembrando que o edital prevê a possibilidade de um adiamento em 60 dias para essas etapas.
Escolas conectadas
Outro assunto mencionado por Fábio Faria no pronunciamento foi a de parcerias. A primeira é com a Nokia e o governo israelense para o desenvolvimento de postes de iluminação públicos que "já vêm com o 5G". Provavelmente ele se refere a estações radiobase (ERBs) embutidas nesse imobiliário urbano.
Outra questão é a parceria com a Viasat. O ministro visitou a sede da operadora satelital norte-americana em San Diego na semana passada, e voltou de lá com a informação da ampliação da capacidade de instalação de pontos do programa Wi-Fi Brasil, por meio do Gesac, que utiliza o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC). Segundo Faria, a empresa conseguiu passar de 2 mil para 3 mil pontos por mês. A companhia satelital assinou também um Memorando de Entendimento com a Telebras, que afirmou estudar a viabilidade de utilizar o ViaSat-3 no futuro.
"Já contratamos mais de 5,7 mil pontos, e mais 4 mil estão sendo contratados. Depois disso, vou fazer roadshow para ver se as empresas privadas querem fazer doações para que a gente possa, até o final do ano, não ter mais nenhuma escola não conectada", afirmou, sem especificar se seriam as empresas privadas que operam no segmento de satélite ou provedores de acesso com fibra. Contudo, ele mesmo diz que o ponto principal é a de inaugurar a nova geração de redes móveis. "Só sairei do ministério após entregar o 5G funcionando em todas as capitais", declarou ele em seguida.