Slim, sobre leilão de 5G: "O importante não é quando virá, mas que venha bom"

Carlos Slim Domit e Jair Bolsonaro

O empresário e chairman da America Movil, Carlos Slim Domit; o CEO do grupo, Daniel Hajj; e o COO, Oscar von Hausken, estiveram esta semana no Brasil para uma rodada de reuniões em Brasília. Ao lado de José Felix, presidente do Grupo Claro no Brasil, encontraram o presidente Jair Bolsonaro, sinalizando um plano de investimentos do grupo de R$ 11 bilhões ao ano pelos próximos três anos. Estiveram também com o Ministro da Economia, Paulo Guedes; com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre; e com o presidente da Anatel, Leonardo Euler. Saíram com uma percepção otimista do cenário econômico e setorial, conforme relataram a este noticiário em entrevista exclusiva.

Entre os temas abordados nas reuniões estiveram a disposição de manter investimentos no país, o futuro edital de edital de 5G, a ampliação das redes e o mercado de TV por assinatura. Em uma conversa com TELETIME, os executivos detalharam as pautas discutidas com o governo. Reiteraram a importância de que as decisões sobre as tecnologias que serão adotadas no 5G fiquem a cargo das empresas, a demanda para que o edital de 5G traga regras isonômicas a todos os players, independente do tamanho, e a disposição para novas aquisições no Brasil. Também participaram das reuniões em Brasília o vice-presidente de assuntos regulatórios, Oscar Petersen, e o vice-presidente de relações institucionais, Fábio Andrade. Confira os principais pontos.

TELETIME – Vocês têm reiterado nas conferências com analista que não pretendem mudar os planos de investimentos em função de 5G. Após as conversas com o governo houve alguma mudança neste direcionamento?  

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Carlos Slim Domit – Os encontros foram muito positivos. Nós temos quase 20 anos no Brasil e é um país que vemos com muito potencial e com muita confiança para continuarmos a investir muito nos próximos anos. Mas estamos aguardando o que virá das propostas de 5G. Faltam definições, e não apenas no Brasil, mas em geral, em todo o mundo, sobre se as frequências serão concedidas por preço ou por compromissos de investimentos e cobertura. É preciso entender as definições que virão.

Daniel Hajj – É importante destacar que os investimentos que estamos fazendo e que pretendemos fazer serão importantes no 5G. Estamos investindo em rede, em infraestrutura, em virtualização, e tudo isso é fundamental para o 5G. Estamos nos preparando para o que vier.

TELETIME – Preocupa a possibilidade de que o leilão no Brasil possa trazer novos competidores?

Daniel Hajj – Sempre trabalhamos com competição no Brasil, é um mercado muito disputado, com quatro operadores. Em outros países há três ou dois. Competição não é um problema, mas o que consideramos muito importante é que nas regras esteja claro que teremos condições isonômicas de disputar, qualquer que seja o tamanho das operadoras.

TELETIME – Existe hoje uma pressão dos EUA para que alguns fornecedores chineses sejam excluídos das redes de 5G, como se observa no caso da Huawei. Como enxergam esta questão?

Carlos Slim Domit – Hoje temos no mundo Nokia, Ericsson e Huawei que são os mais importantes em 5G, e a Huawei tem uma participação muito relevante. Estamos sempre atentos à questão de segurança, porque sabemos que não se pode deixar os consumidores vulneráveis a riscos. Mas quem tem que escolher o que é o melhor, qual o modelo de negócios, é o operador.

TELETIME – Vocês adquiriram a Nextel recentemente no Brasil. Muito se especula sobre o interesse na Oi, apesar de vocês já terem negado negociações. Isso significa que vocês estão fechados a novas aquisições? Poderiam, por exemplo, adquirir ISPs para expandir a rede de fibra?

Daniel Hajj – Estamos sempre observando as oportunidades. O Brasil é um mercado muito competitivo mas de muitas oportunidades, e se houver boas chances de novas aquisições, faremos. Mas nosso foco hoje é na expansão da nossa rede, estamos expandindo para mais cidades nossa rede de fibras, porque precisamos da rede em todo o Brasil.

TELETIME – Vocês gostariam de poder investir em conteúdo no Brasil como fazem em outros países?

Carlos Slim Domit – Na América Latina fazemos alguns poucos investimentos em conteúdo, muito específicos, como um complemento ao que temos, mas não é algo que pensamos em ampliar. O que buscamos são parcerias e acordos. Preferimos seguir investindo em rede e qualidade de serviços.

Daniel Hajj – Hoje temos acordos com todos os produtores de conteúdo, com Fox, com HBO, com Netflix.

TELETIME – E se as empresas de conteúdo decidem ir diretamente ao consumidor, pular o intermediário, que são as empresas de telecomunicações e TV por assinatura?

Carlos Slim Domit – Se fazem isso, acreditamos que elas perdem um grande potencial de mercado possível e vão contra os próprios interesses. E já há tanta oferta de conteúdo que é preciso mais, é preciso agregar valor ao usuário.

Daniel Hajj – Queremos ser a empresa que terá todos os conteúdos em um só lugar e oferecerá isso ao usuário em qualquer plataforma. Vamos fazer a agregação dos serviços de telecomunicações, dos vários conteúdos, faremos o analytics.

TELETIME – Há quem especule que vocês poderiam comprar a Globo no Brasil. É possível?

Carlos Slim Domit – Não, até porque a legislação não permite. Nosso foco está na distribuição. Não somos produtores.

TELETIME – Qual é o futuro que vocês veem para as operadoras de telecomunicações?

Carlos Slim Domit – Cada vez mais conectividade, cada vez mais rápida e com mais capacidade. Com o 2G, a capacidade de banda e latência permitiam as mensagens de texto. Com 3G surgiram os smartphones. Com 4G os serviços em streaming se tornaram possíveis. Com o 5G saímos da conectividade entre pessoas para a conectividade das coisas, mas com mais capacidade, mais velocidade e potencial de fazer outras coisas. Em todos os países as demandas de investimento em telecomunicações são gigantes, para dar cobertura e para fazer frente à demanda de dados. O que teremos são três ou quatro empresas com capacidade investindo intensamente, e cada vez mais empresas utilizando estas redes para oferecer serviços.

TELETIME – Mas o modelo de negócios muda com 5G, não? Porque a conectividade será outra com o slicing, com a possibilidade de conexões individualizadas…

Daniel Hajj – Saímos desse mercado tradicional que é o celular, a banda larga, TV, para mercados novos de IoT, como segurança, automação doméstica, novos serviços empresariais. E por isso vamos fazer alianças com empresas que conhecem estes mercados.

TELETIME – O momento político e econômico na América Latina é complicado. Como enxergam o Brasil dentro deste contexto?

Carlos Slim Domit – O Brasil tem muito dinamismo no setor que atuamos, muitas oportunidades, mas muita demanda por investimentos. Das nossas operações, é onde mais estamos investindo. O Brasil é o país que adota mais rapidamente as novas tecnologias, há uma cultura digital.

Daniel Hajj – O Brasil é muito promissor. Depois de alguns anos complicados, vemos uma melhora este ano e no próximo deve melhorar mais um pouco. Por isso temos muito otimismo e acreditamos em um forte crescimento.

TELETIME – Acreditam que o Brasil será o primeiro a ter 5G na América Latina?

Carlos Slim Domit – Não importa ser o primeiro se não puder desenvolver o mercado de forma massiva. Pode-se fazer um teste, lançar em uma cidade, mas não seria significativo. Por isso o mais importante é a forma do leilão e que haja uma definição que venha do governo e do regulador que indique a forma de desenvolvimento massivo do serviço.

TELETIME – Esperam o leilão para o próximo ano?

Daniel Hajj – O importante não é quando virá, mas que venha bom. Se é preciso um pouco mais de tempo para que a licitação venha da forma adequada, não temos nenhuma restrição que seja em 2021. O importante é que todos os operadores tenham as mesmas possibilidades e igualdade de regras.

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