Em conferência de imprensa dada após a decisão do Departamento de Justiça dos EUA entrar com uma ação para barrar a fusão com a Time Warner, a AT&T se mostrou indignada com a decisão do governo norte-americano. Segundo Randall Stephenson, CEO da AT&T, a medida vai contra quase cinquenta anos de precedentes e jurisprudência em casos de integração vertical, e se mantida adicionará uma considerável dose de incertezas sobre outras operações de fusão e aquisição ou joint-ventures nos EUA. A AT&T, contudo, afirma que caberá ao DoJ comprovar que a operação traz riscos concorrenciais, e que a empresa espera que o caso vá a julgamento em 60 dias. "O Departamento de Justiça não terá a última palavra. A Justiça terá", disse Stephenson.
A empresa disse que estava em conversas com o DoJ e ofereceu ao órgão todos os remédios possíveis para sanar eventuais preocupações concorrenciais, "dentro daquilo que as regras e a jurisprudência preveem", disse a empresa. A AT&T não detalha quais seriam estes remédios, mas diz que eles não diferem dos casos anteriormente analisados e aprovados pelo Departamento de Justiça. A decisão de uma ação na Justiça foi uma surpresa para a AT&T.
A empresa repetiu, na conferência de imprensa, os argumentos que vêm colocando desde que anunciou a fusão, de US$ 108 bilhões: o mercado de TV por assinatura mudou substancialmente com a oferta de serviços pela Internet. Segundo a empresa, a Netflix é hoje o maior operador de TV por assinatura no mundo com mais de 100 milhões de clientes, sendo cerca da metade deles nos EUA. A Amazon tem outros 16 milhões de clientes nos EUA, e as duas empresas de Internet estariam produzindo uma quantidade descomunal de conteúdos para suas próprias plataformas. A AT&T/DirecTV têm 25 milhões de clientes e a Time Warner não tem marketshare superior a 10% no mercado de programação (ele não especificou o critério, mas possivelmente estava se referindo à audiência). "Em nenhum cenário e em nenhuma hipótese analisada por nossos especialistas, que estudaram anos de precedentes e jurisprudência, essa consolidação não seria aprovada".
Randall Stephenson tocou na questão da oposição do presidente Donald Trump à fusão, manifestada já na campanha eleitoral. "É preciso falar do elefante na sala: essa decisão do DoJ tem algo a ver com a CNN? Eu não sei", disse, referindo-se à postura de enfrentamento entre Trump e os órgãos de mídia tradicional, especialmente a CNN. De qualquer forma, a AT&T diz que está pronta para o julgamento e quer conhecer as bases das acusações feitas pelo Departamento de Justiça. A empresa reiterou que não existe lógica de um acordo como esse ser destinado a retirar os canais da Time Warner das operadoras concorrentes ou de aumento de preço. "Isso simplesmente não faz sentido. Reiteramos que o objetivo da fusão é criar mais opções para os consumidores e levar os conteúdos da Time Warner para todos os dispositivos", disse.