Conhecido pelo posicionamento ultraconservador, o candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump emitiu comunicado nesta quarta, 21, opondo-se ao "plano de Obama de entregar o controle da Internet americana a poderes estrangeiros". Naturalmente ele se refere à transição das funções da entidade que administra nomes e domínios, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (IANA), marcada para o dia 1º de outubro próximo. É um discurso alinhado ao pensamento do senador republicano Ted Cruz, que afirma que os EUA estariam entregando a Internet para regimes como da Rússia e da China ao permitirem a transição.
No comunicado, em costumeiro tom agressivo e ultranacionalista, a campanha de Trump (assinada pelo diretor de políticas nacionais Stephen Miller) defende que os EUA "não deveriam entregar o controle da Internet para as Nações Unidas e a comunidade internacional". Afirma que o partido republicano está "liderando admiravelmente uma luta para salvar a Internet nesta semana no Congresso" e pede ao público norte-americano ajuda na cruzada. "Os democratas de [a também candidata] Hillary Clinton se recusam a proteger a população americana ao não proteger a Internet", acusa.
O argumento básico de Trump é que o governo dos EUA cuida do controle da Internet, mantendo-a "livre e aberta sem censura de governos", fundamentados na liberdade de expressão da constituição norte-americana, e que tirar esse poder seria um ato contra a própria nação. Assim como Ted Cruz, o candidato republicano também acusa o presidente Barack Obama de querer entregar o controle a "interesses internacionais, incluindo de países como China e Rússia, que têm um longo histórico de tentar impor censura online".
Os argumentos são sensacionalistas, apesar de fazerem barulho. A proposta de transição da IANA foi supervisionada e aprovada pelo próprio governo norte-americano e inclui pelo menos dois anos de debates envolvendo a comunidade técnica mundial da Internet. O planejamento atende às exigências dos EUA de manter o controle em um modelo de governança multissetorial e impreterivelmente contra multilateralismos, impedindo a presença dominante de governos ou de entidades como ONU e União Internacional de Telecomunicações (UIT). Além disso, inclui mecanismos de responsabilidade (accountability) e transparência para a IANA. A proposta foi defendida por vários setores, incluindo o próprio presidente da atual administradora, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN).