Adesão de empresas industriais brasileiras ao conceito de indústria 4.0 ainda é baixa

Até 2025, os processos relacionados à chamada indústria 4.0 poderão reduzir custos de manutenção de equipamentos entre 10% e 40%, bem como o consumo de energia entre 10% e 20%, além de aumentar a eficiência do trabalho entre 10% e 25%, de acordo com projeções da consultoria McKinsey.

Outro estudo, este da Accenture, estima que a implementação de tecnologias ligadas à Internet das Coisas — que estão intimamente associadas às atividades industriais — nos diversos setores da economia deverá impactar o PIB brasileiro em aproximadamente US$ 39 bilhões até 2030. O ganho pode alcançar US$ 210 bilhões, caso o país crie condições para acelerar a absorção das tecnologias relacionadas, o que depende de melhorias no ambiente de negócios, na infraestrutura, programas de difusão tecnoló­gica, aperfeiçoamento regulatório etc., projeta a consultoria.

Mas, apesar desses ganhos, pesquisa da CNI revela que o conhecimento da indústria brasileira sobre tecnologias digitais e a sua incorporação à produção, pré-condições para o avanço da indústria 4.0, ainda é pouco difundido. O levantamento mostra que apenas 48% das empresas industriais do país utilizam pelo menos uma tecnologia digital. O dado preocupante, de acordo com a entidade empresarial, é que 42% das empresas desconhecem a importância das tecnologias digitais para a com­petitividade da indústria e mais da metade delas (52%) não utiliza nenhuma tecnologia digital de uma lista com dez opções (veja tabela abaixo).

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O estudo aponta ainda que 31% das 2.225 empresas consultadas não responderam ou declararam não saber se utilizavam alguma das tecnologias listadas, revelando o alto nível de desconhecimento sobre o tema. O desconhecimento é significativamente maior entre as pequenas empresas (57%), embora 32% das gran­des corporações não identificaram nenhuma das dez tecnologias digitais apresentadas como importantes para a competitividade (veja gráfico abaixo).

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A análise dos setores, contudo, revela uma forte assimetria no grau de utilização dessas tecnolo­gias. O uso é maior nos setores de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e óticos (61%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (60%); derivados de petróleo e biocombustíveis e máquinas e equipamentos (ambos com 53%). Por outro lado, setores como outros equipamentos de transporte (23%); manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (25%); produtos farmacêuticos (27%); minerais não metálicos (28%); vestuário (29%) e calçados (29%) se destacam pelo baixo uso de tecnologias digitais.

O relatório da CNI avalia que a incorporação da digitalização à atividade industrial — que resultou no conceito de Indústria 4.0, em refe­rência ao que seria a 4ª revolução industrial — vai permitir, por exemplo, que diferentes unidades da empresa, ou mesmo de empresas diferentes, troquem informações de forma instantânea sobre compras e estoques, permitindo uma otimização logística até então impensável, além de estabelecer maior inte­gração entre os elos de uma cadeia produtiva. Mas os impactos irão muito além de ganhos de produtividade no chão de fábrica. Segundo o estudo, ala vai proporcionar a redução dos prazos de lançamento de novos produtos no mercado, a simulação das condições de produção, melhor gestão do pós-venda e até mesmo a capacidade das empresas de se integrarem em cadeias globais de valor.

O estudo aponta também os desafios da Indústria 4.0 no Brasil , que vão desde os investimentos em equipamentos que incorporem essas tecnologias, à adaptação de layouts, adaptação de processos e das formas de relacionamento entre empresas ao longo da cadeia produtiva, cria­ção de novas especialidades e desenvolvimento de competências, entre outras. Além disso, a sua consolidação exigirá uma nova concepção de política industrial para o Brasil, tais como a ampliação da cooperação entre agentes econômicos; o reforço da competitividade entre sistemas produtivos, que incluem empresas, fornecedores, clientes e ambiente; o estabelecimento de novos modelos de negócios e de inserção nos mercados, com a possível redefinição de setores de atividade econômica; a ampliação da escala dos negócios; e o surgimento de novas atividades e novas profissões, que demandarão adaptações no padrão de formação de recursos humanos.

O relatório da CNI chama atenção para o fato de que em alguns países a Indústria 4.0 já começa a se tornar realidade, inclusive com o apoio dos go­vernos das principais potências econômicas, que a tem colocado no centro de suas estratégias de política industrial. Isso, na opinião da entidade empresarial, cria um duplo desafio para o Brasil, pois, além de buscar a incorporação e o desenvolvimento dessas tecnologias, é preciso fazê-lo com relativa agilidade a fim de evitar que o gap de competitividade entre o país e alguns de seus principais competidores aumente.

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