[Do Mobile Time] Atualmente na terceira fase do projeto, a TV 3.0 ainda necessita de testes das tecnologias propostas. Porém, já acontecem pilotos nacionalmente e a expectativa é de que em "pouco tempo" ela esteja disponível. A iniciativa tem a gestão da RNP, envolve 80 professores e pesquisadores de dezenas de universidades e institutos de pesquisa do Brasil e promete conteúdos interativos com dispositivos IoT – como sensores de cheiro, ar condicionado e luzes inteligentes –, celular como segunda tela – em especial para a acessibilidade – e muito mais.
"Não queremos que a TV vire um computador, mas que aproveite outros recursos de acessibilidade e multissensoriais, 3D, OTT etc", disse Estefânia Angelico Pianoski Arata, coordenadora de P&D da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), em conversa com Mobile Time (parceiro de conteúdo de TELETIME) durante o 25º Workshop da RNP, que acontece nesta semana, na UFF, em Niterói/RJ.
Alguns aspectos devem ser considerados sobre a TV 3.0:
- A nova televisão usará IP e será transmitida pelo ar. Para que não haja interferência, a Anatel colabora com a limpeza de espectro.
- Não será necessário que a casa tenha Internet para usar o básico da nova televisão aberta, mas o conteúdo será enriquecido com rede, seja ela em banda larga ou Wi-Fi.
- Entre os incrementos que já estão em desenvolvimento, estão recursos de acessibilidade em que será possível ter audiodescrição e legendas ou tradução para libras, mas a TV também atenderá comandos de voz, gestos e fixação do olhar.
Há ainda as possibilidades de recursos extras, que são sincronizar o áudio alternativo que está disponível com o streaming; melhorar a qualidade do sinal; acionar a descrição em Libras pelo celular; e receber alertas de emergência, integrados à linguagem de sinais de modo que todos entendam o alerta enviado.
A TV também poderá ser conectada a diferentes dispositivos inteligentes, como óculos de realidade virtual, sensores de odores, ar condicionado, luzes inteligentes, entre outros. Um filme, por exemplo, pode ganhar outras dimensões como, em uma determinada cena, exalar um cheiro particular a partir do difusor de cheiros, esfriar o cômodo, esquentar ou ventilar o ambiente, dependendo do momento, ou mudar a iluminação para criar um clima extra.
Essas possibilidades poderão acontecer a partir de uma API chamada NCL, que tem o propósito de oferecer novas experiências a partir do conteúdo da TV aberta.
Segunda tela, o celular
Dispositivos móveis, como smartphones ou tablets, também poderão ser uma alternativa para receber vídeos complementares, como uma segunda tela. E é possível que cada membro da casa escolha se quer ou não usar um avatar.
"Você está assistindo a um conteúdo que chega pelo ar e tem um conteúdo relacionado que é sugerido para você consumir como OTT. Se você estiver no seu celular, existe a possibilidade de alternar de maneira absolutamente transparente entre o conteúdo que está chegando ao usuário e o conteúdo chegando via OTT. A TV que está no ar, seja com o aplicativo próprio seja através de parceria com outros provedores OTT, pode fazer esse tipo de trabalho de recomendação. Outros tipos de aplicação são conteúdos hiperpersonalizados", explica Adriano Adoryan, gerente de soluções da RNP.
Uma outra opção será a possibilidade de comprar pela TV, ou usando o dispositivo móvel como carteira digital. De acordo com Adoryan, a ideia é recuperar um pouco a proposta de comprar nascida na TV 2.0, mas que não deu certo no início da TV digital.
"A interface da TV 2.0 era difícil. A TV não era conectada, você acabava sendo levado para outro dispositivo. Com o ecossistema completo de integração isso se torna muito mais simples. Na prática, você está assistindo à televisão e, ao ter uma call to action na programação, será possível fazer a transação de compra pelo celular ou até mesmo pela televisão porque essa nova geração de TV vai ser possível ter um registro de usuário. Antes, isso não era possível: havia alguma interação, mas as pessoas eram anônimas. Com a TV 3.0 é possível ter um perfil de usuário e todas as preferências, incluindo o seu cartão de crédito, serão armazenadas. Tudo isso em conformidade com o LGPD, com segurança, e com as especificações da norma", diz Adoryvan.
Detalhes técnicos
Sobre a qualidade do sinal, Marcelo Moreno, professor associado do departamento de Ciência da Computação da UFJF, explicou que se trata de um "vídeo escalável". É possível mandar a camada principal do vídeo pelo ar assim como a "camada de enriquecimento" e dar o "upscale de qualidade, fazer uma transmissão mais robusta e uma outra mais simples."
Outro ponto é melhorar ou adaptar a experiência de acordo com o congestionamento da rede. Ou seja, adaptar a qualidade do vídeo, por exemplo, de acordo com o tráfego.
A TV 3.0 poderá ter qualidade desde o Full HD, até o 4K e 8K, a depender também da televisão. O áudio, será Mpeg-H, espacial e interativo. "Cada fonte de áudio é identificada como um objeto específico e posso interagir com cada um desses objetos", explicou Moreno.
Aplicativos
Haverá canal de audiodescrição e tudo será conectado a aplicativos, como acontece atualmente com os streamings pagos. Assim como na smarTV em que a escolha do canal pela televisão se dá por aplicativos, as emissoras abertas também serão acessadas por aplicativos. O desafio aqui é organizar o layout de modo que o telespectador não se perca com a novidade.
Em contrapartida, o telespectador terá um perfil próprio, capaz de ler e armazenar seus gostos. A partir do seu consentimento, ele poderá criar um perfil e seus dados serão usados para oferecer novos conteúdos de acordo com seus gostos.
O que falta
"Na camada física ainda precisamos de mais testes para decidir a tecnologia que será usada. Mas o sistema será disruptivo em termos de tecnologia", disse Moreno. A ideia é promover testes até setembro deste ano.
Vale dizer que, de acordo com o decreto 11.484/2023, a TV 3.0 deve iniciar oficialmente seus trabalhos em 2025 e, segundo Juscelino Filho, ministro das Comunicações, o brasileiro verá a Copa do Mundo masculina de futebol, de 2026, com a nova tecnologia.
Adoryan contou que já existem pilotos sendo realizados em uma escala pequena, porém nacional. "A gente já tem algumas experiências acontecendo na geração intermediária que é a TV 2.5, dentro de uma limitação, mas já são operações comerciais. O problema é que ela roda em alguns aparelhos que já estão atualizados. São emissoras e radiodifusores que estão experimentando novos modelos, mas com as limitações da tecnologia atual", resume.
Até o final deste ano, o governo federal deverá publicar as regras de transição.