O presidente global da Qualcomm, Cristiano Amon, entende que a crise com a fabricante chinesa Huawei provocada pelas medidas restritivas do governo dos Estados Unidos não deverá trazer impactos significativos à fornecedora de chipsets. "Não posso falar do impacto financeiro. Ele existe, mas é pequeno porque temos vários outros clientes, a Huawei não é nosso maior", explica. Ele reitera ainda que as parcerias com outras empresas chinesas como Xiaomi, Vivo, ZTE e Lenovo não serão afetadas. Perguntado se haveria algum impacto indireto com a demanda de 5G, o executivo justificou que acredita que a tendência do mercado é de continuar com os planos com a tecnologia.
O executivo destacou que todas as empresas norte-americanas precisaram cumprir a ordem do presidente Donald Trump, e que isso ainda está sendo assimilado. "Minha opinião é que isso está acontecendo agora e as empresas estão tentando entender", disse. A fornecedora de chipsets ainda mantém "parcerias possíveis" com a chinesa, incluindo licença de tecnologia e com clientes em comum.
Mesmo diante de todo o cenário, Amon entende que tudo poderá ser sanado de forma pacífica. "Em geral, eventualmente essas coisas sempre são resolvidas com solução de diálogo", explicou ele em conversa com jornalistas nesta durante o Painel Telebrasil 2019 terça, 2.
Espectro no Brasil
"Na questão do espectro, resistência é inútil", afirmou Cristiano Amon durante sua apresentação em painel mais cedo. Ele defende que a chegada do 5G vai tornar o serviço móvel semelhante às utilities, com a essencialidade e quase onipresença do serviço, incluindo "velocidade ilimitada e pacotes de dados ilimitados". Porém, perguntado se a Anatel ter descartado a inclusão da faixa de 28 GHz no próximo leilão seria prejudicial ao País, o executivo respondeu que não encara dessa forma, enxergando positivamente a disposição de licitar a faixa de 26 GHz. "É uma demonstração de liderança da Anatel entender que o 5G não é só 3,5 GHz. Além disso, a banda de 26 GHz será global, com adoção na Europa, China e outros países da Ásia." Ainda assim, o diretor de assuntos regulatórios da Qualcomm, Francisco Giacomini, diz que a empresa continuará trabalhando junto à agência para viabilizar a faixa de 28 GHz. "Não integralmente. A gente entende que parte do espectro é exclusivo, mas isso são 1 GHz, e a faixa tem 4 GHz", declara, embora reforce que a banda ainda não está na agenda regulatória da Anatel.
P&D
A Qualcomm continua com parceria com o governo brasileiro com o projeto Snapdragon system-on-a-chip, com a qual procura recolocar o País no mapa da pesquisa e desenvolvimento para hardware móvel. A empresa já tem dois smartphones produzidos no Brasil e recém-lançados com a tecnologia (ambos da Asus) e está em conversa com diversos outros fabricantes, segundo Cristiano Amon. Além de handsets, também há uma iniciativa de implantar o Snapdragon em Internet das Coisas. "Otimizar para IoT é muito importante, pois diminui a barreira de entrada e permite participação maior na cadeia de valor", declara.
Por outro lado, o executivo sugere que o País invista na modernização da fabricação de tecnologia no Brasil, para não só desenvolvimento interno como também para manter o parque fabril e exportar. E coloca ainda que a indústria brasileira deveria aproveitar a força que tem para promover a transformação tecnológica. "Acho que a provocação também vale para a planta instalada do setor automobilístico", declara. "Não temos conversa com empresas automotivas brasileiras, mas temos com as globais e não há nada que as limite de implantar as tecnologias aqui."