A rentabilização do 5G e de casos de uso da inteligência artificial (IA) para além da redução de custos devem dominar as discussões das operadoras durante a edição de 2025 do Mobile World Congress (MWC 2025), que ocorre em março em Barcelona.
A expectativa foi reforçada durante debate promovido pela consultoria Teleco na última quinta-feira, 20, e que reuniu especialistas do setor. A expectativa é que o evento seja uma oportunidade para que as companhias mostrem ao mercado como rentabilizar essas tecnologias emergentes. A delegação do Brasil na edição deste ano em Barcelona deve ser a maior dos últimos 13 anos.
Gerente sênior de service providers das Américas da consultoria Omdia, Ari Lopes destaca que as operadoras ainda não viram transformações significativas nos resultados financeiros ligados ao 5G – apesar dos altos investimentos em infraestrutura. Logo, o congresso deste ano deve abordar como as companhias planejam monetizar a tecnologia, seja por meio de serviços B2B (como soluções corporativas em 5.5G e 6G) ou modelos inéditos para consumidores.
IA
O presidente da Teleco, Ari Lopes, citou uma pesquisa realizada pela GSMA sobre os temas de foco para a MWC 2025, segundo as operadoras. A inteligência artificial foi o tema mais citado nesse estudo. Muitas operadoras passaram a utilizar essa tecnologia para automação de redes e no atendimento ao cliente.
No entanto, Ari Lopes disse que o setor precisa precisa explorar a geração de novas receitas e tornar mais claro como elas pretendem fazer isso. Ele comentou ainda casos na Ásia de operadoras tentando lançar ofertas de GPU as a Service (GPUaaS), o que pode ser um caminho para as teles.
A regulamentação da IA também entrará na pauta. Diretora da Conexis Brasil Digital, Daniela Martins ressaltou que o debate no evento servirá de referência para o Marco Legal da IA no Brasil – aquele projeto de lei que regula a tecnologia no País, que foi aprovado no Senado e aguarda avanços na Câmara.
Para ela, a MWC será importante para que os legisladores brasileiros observem como outros países estão equilibrando inovação e regulação.
Open Gateway
Na última edição da feira, em 2024, o Brasil foi apresentado como destaque devido ao desenvolvimento de interfaces de programação (APIs) para telecomunicações. Isso ocorreu após um movimento das três principais operadoras brasileiras, que anunciaram uma coordenação inédita para viabilizar o Open Gateway.
"Nos outros países, a gente ainda vê um trabalho descoordenado", contou Ari Lopes. Segundo ele, a expectativa agora é que a MWC 2025 apresente novos casos de uso dessas APIs, com novos relatos de clientes reais – como ocorreu com o Itaú.
Telcos para 'TechCos'
A transformação das operadoras de telecom em TechCos (empresas de tecnologia com portfólio diversificado) foi definida por Lopes como uma "crise existencial" para o setor.
"Pouquíssimas operadoras têm uma parcela grande de suas receitas vindo de serviços não ligados à conectividade. Isso precisa crescer", disse. Nesse sentido, o congresso deve revelar quais empresas estão liderando essa transição e quais estratégias estão sendo adotadas.
Tributação e data centers
Daniela Martins citou ainda a tributação como um "inibidor de tecnologias" e disse que esse deve ser um dos temas debatidos na MWC 2025. Para a diretora da Conexis Brasil, tanto o mercado quanto os legisladores devem entender como a carga tributária impacta o desenvolvimento de inovações como IA e IoT.
Quanto aos data centers, essenciais para tecnologias como IA, Ari Lopes foi direto: "O Brasil precisa fazer mais". Desde o ano passado, especialistas já alertam sobre a necessidade do País fomentar esse mercado para não perder a onda de demanda por centros de processamento de dados.
Hoje, o Brasil tem como diferencial competitivo a matriz energética limpa, com custos inferiores na comparação com nações norte-americanas e europeias. Ari lembrou que o tema de data centers é do interesse das operadoras, já que eles são necessários para suportar as novas demandas de tecnologia – como a própria IA e o edge cloud, por exemplo.