Controle da IANA é melhor com americanos, diz especialista

A recente oficialização da extensão de um ano no contrato do governo dos Estados Unidos com a entidade que controla os nomes e domínios, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), pode não ter sido uma surpresa, mas o novo prazo para setembro de 2016 talvez seja uma previsão otimista. Na visão do consultor independente de Arquitetura da Internet da AT&T e membro do Hall da Fama da Internet, o norte-americano Dr. John C. Klensin, todo o trabalho não daria em nada, já que essa transição para o modelo multissetorial e internacional pode nunca acontecer, e deixar o controle nas mãos dos EUA seria a melhor saída.

Através do órgão de telecomunicações do departamento de comércio (NTIA), a administração do governo norte-americano estabeleceu várias condições para permitir essa transição da tutela das funções da Internet Assigned Numbers Authority (IANA), incluindo que o processo não leve a uma eventual revisão do modelo de funcionamento da ICANN. Mas Klensin acredita que isso acabará acontecendo. "A única coisa que vai me surpreender é se (a comunidade internacional) conseguir fazer isso em um ano, pois isso pode ficar se estendendo para sempre", declarou ele a este noticiário antes de participar de cerimônia em comemoração aos 20 anos do Comitê Gestor de Internet (CGI.br), em São Paulo, na quarta-feira, 19.

Ele critica o trabalho da comunidade internacional, afirmando que a transferência da tutela para um modelo multissetorial com participação internacional é algo simbólico e importante, mas perigoso. "Se algumas das coisas que têm sido propostas são o melhor que a comunidade pode fazer, é melhor deixar com o governo dos EUA", defende. "Se for para escolher entre ter uma supervisão de governo que não intervém de nenhuma forma substancial e a possibilidade de ter interferência de um punhado de loucos que não têm nenhuma participação importante no jogo, acho que prefiro deixar com o governo dos Estados Unidos. Seria melhor se deixasse com o governo brasileiro, ou dos Emirados Árabes, ou da China? Provavelmente não a China".

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Klensin, que foi um dos responsáveis pelo trabalho de definição para o Sistema de Nomes de Domínio (DNS), que deu origem à própria ICANN, argumenta que as funções da IANA têm sido fortemente politizadas, e que o governo norte-americano não conta com outro ponto de salvaguarda para esse ambiente técnico importante para a rede, ainda mais se for burocratizado com as várias etapas na tomada de decisão típicas da discussão no modelo multissetorial. "Isso fica inerentemente politizado. Remover o governo dos EUA desse ambiente fortemente politizado é um erro. Qualquer coisa que você não fizer, também é um erro."

"Não é problema meu"

A visão de John Klensin é particular e, como ele mesmo se acusa, "impopular". Perguntado sobre o que achava da posição do governo da China em manter uma Grande Muralha na Internet, ele até explica que, historicamente, a tentativa chinesa de ficar "meio fechada, meio aberta" não dá certo, mas que espera que a rede chinesa não se feche de vez. Sobretudo, ele pontua com mais uma opinião forte: "É mais fácil ser desconectado ou conectado completamente, ser meio conectado é muito difícil. Se a China está investindo recursos para isso, não é problema meu, é problema chinês". E se o governo resolver desconectar todo mundo naquele país, ainda segundo Klensin, "será chato, mas se isso não afetar mais ninguém, é problema deles, não meu".

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