Embora a população brasileira esteja cada vez mais conectada, ainda temos cerca de 45 milhões de conterrâneos sem acesso à internet — ou 17,3% dos domicílios nacionais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando falamos em banda larga, a proporção de domicílios no país com os dois tipos de conexão (fixa e móvel) é de apenas 59,2%. No entanto, se destacarmos a fixa, a proporção vai para 77,9%. Considerando alguns dos Estados com maior acesso à banda larga por morador, Minas Gerais (86%) e Rio Grande do Sul (90%), por exemplo, ainda têm espaço para evoluir, segundo dados da Anatel. Neste cenário em que a expansão da banda larga tem um longo caminho para avançar, um dos maiores obstáculos do percurso é a construção de uma infraestrutura de rede própria de fibra ótica nas regiões mais remotas do país.
Nesse sentido, as redes neutras — ou compartilhadas — chegam como uma solução viável para enfrentar o desafio de expandir esse tipo de serviço até localidades onde, até então, não era economicamente possível a somente uma única operadora investir na infraestrutura (construção, manutenção, aprimoramento) e gestão dos produtos e serviços oferecidos ao consumidor final. Sobretudo neste momento em que, após os leilões da Anatel em novembro do ano passado, a rede 5G deve começar a se expandir pelos grandes centros do país já neste primeiro semestre de 2022 e exigirá uma infraestrutura de rede sólida para sustentar a demanda da nova tecnologia. Mas o que são e como funcionam as redes neutras?
As redes neutras são um novo modelo de distribuição de banda larga com infraestrutura compartilhada entre diferentes operadoras e provedores de internet. As vantagens desse "aluguel" da fibra óptica, como dizem, já são conhecidas e vão desde o aprimoramento dos serviços oferecidos aos consumidores até a maior capilaridade da internet em alta velocidade para todas as regiões do país — dos rincões aos grandes centros.
Agilidade
Do ponto de vista do provedor de serviços de internet (ISP), a vantagem da rede neutra é a possibilidade de escalar de maneira mais ágil e com menos custos financeiros envolvidos a sua presença e capilaridade em cidades de pequeno, médio e grande portes em todo o país. As perspectivas econômicas de investimento no negócio são igualmente positivas, em função das oportunidades que se avizinham. Como já mencionado, as redes neutras podem desempenhar um papel central em termos de avanço tecnológico e expansão dos negócios no setor, inclusive com a entrada de novos players e empresas sólidas que empregam uma boa qualidade de serviços de fibra óptica.
Nesse sentido, a fibra óptica em si pode ser considerada uma commodity em todos os seus aspectos, e o que realmente vai diferenciar as empresas é como elas utilizam o serviço e proporcionam aos clientes uma experiência diferenciada de banda larga. Dessa forma, existem três camadas de diferenciação no negócio:
- Produto e Oferta;
- Infraestrutura com Backbone ("espinha dorsal" que interliga servidores distantes) e FTTH (tecnologia de interligação de residências através de fibra óptica para fornecimento de serviços de TV digital, rádio digital, internet e telefonia);
- Experiência do Cliente, ou Customer Experience — essa deve representar a terceira via de crescimento das companhias do setor (lembrando que as outras duas são crescimento orgânico e M&A).
Em relação à última camada, vale ressaltar que a terceira via de crescimento das companhias (não só orgânico ou M&A) está ganhando força e deverá representar uma grande oportunidade para qualquer provedor levar um grande produto ou serviço junto com uma experiência diferenciada para um volume considerável de lares brasileiros.
É claro que há muito espaço para melhorar. O atendimento final ao público é um ponto de atenção, pois como o provedor de serviço de internet (ISP) não é responsável pela gestão da infraestrutura da rede, pode haver ruídos de comunicação na interação e suporte técnico aos consumidores. Já a maior difusão da rede neutra passa invariavelmente por um modelo econômico mais estudado e viável, com um maior equilíbrio financeiro entre os parceiros com vistas a uma relação win-win (ganha-ganha).
Acredito que isso acontecerá no médio e longo prazo, é apenas questão de tempo. Porém, os primeiros resultados da implementação das redes neutras mostram que o modelo funciona bem e que potencialmente pode mudar o mercado dos provedores regionais, que deve focar cada vez mais em serviços e menos na infraestrutura.
*-Sobre o autor: Fabiano Ferreira é CEO da Vero Internet. Também é membro do conselho de administração na TelComp – Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas. As opiniões expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.