Movimentos da AT&T dependem de aprovação nos EUA, diz presidente da Sky

Este ano, a DirecTV recebeu uma oferta para ser adquirida pela AT&T. Isso significa que a Sky passará a ser controlada por uma das maiores operadoras de telecomunicações do mundo. O que muda na vida da operadora? Por enquanto, diz o presidente da operadora, Luiz Eduardo (Bap) Baptista, não mudou nada. "Esse ano muita coisa aconteceu no mercado e muita gente especulou se a AT&T já não estaria se movimentando", diz ele, em referência ao leilão de 700 MHz ou ao interesse da gigante norte-americana na Oi. "Mas o fato é que a AT&T não pode e não vai fazer nada enquanto não houver a aprovação regulatória nos EUA", diz ele. A expectativa é de que essa aprovação saia no começo de 2015, mas é um assunto complexo e que está passando por uma discussão mais ampla nos EUA, que vai desde o debate sobre neutralidade, competição e pelo quadro de concentração, como a fusão entre Comcast e Time Warner Cable. "Na prática, o impacto imediato no Brasil deve ser pequeno porque nós não temos nenhuma sobreposição com a atuação da AT&T". Bap não confirma nem desmente, mas comenta-se no mercado que parte do acordo com a AT&T inclua a manutenção do management atual das operações da DirecTV por três anos, o que incluiria o comando da operação brasileira.

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Banda larga

"Nós temos a nossa estratégia e o nosso plano B, inclusive para banda larga. Vamos manter o foco nas cidades que são mal servidas pelas outras empresas. Os resultados esse ano foram fantásticos", diz ele, se referindo ao serviço de banda larga wireless, com tecnologia 4G TD-LTE, prestado pela rede de 2,5GHz adquirida pela operadora. No ano passado, diz Bap, o projeto andou devagar, por conta do ajuste na estratégia do serviço de TV paga, mas em 2014 os resultados já foram melhores e em 2015 o caminho será o mesmo. "Não posso garantir que essa estratégia seria mantida pela AT&T nas demais operações da DirecTV porque cada mercado tem uma realidade. Para nós tem funcionado muito bem ".

Ano difícil

Sky foi até aqui uma das operadoras de TV por assinatura que mais cresceu em 2014. No ano, a operadora teve uma expansão de 273 mil assinantes até setembro, e só ficou atrás, em números absolutos, da Net Serviços (que cresceu 521 mil). "Isso não quer dizer que tenha sido um ano fácil. Ao contrário, tem sido um ano muito desafiador", diz o presidente da Sky. Ele resume a situação com uma frase: "basta dizer que se no ano passado a gente teve que dizer não para 500 mil pessoas, esse ano a gente teve que recusar cerca de 1,2 milhão de potenciais clientes". O problema, explica Bap, está na inadimplência, que em 2014 estourou e foi para patamares muito acima dos índices de anos anteriores. "Desde o ano passado passamos a uma estratégia de focar na rentabilidade e na sustentabilidade do crescimento", diz o executivo.

Ele admite que o episódio vivido pela Sky no ano passado, quando precisou fazer um ajuste de base cortando mais de 200 mil clientes inadimplentes (e passando inclusive por uma auditoria interna da sua controladora DirecTV), se não foi o detonador dessa mudança de estratégia, foi parte do processo. "Vimos que a situação da inadimplência podia ficar insustentável, era uma bomba que poderia estourar se não agíssemos. Por isso passamos a selecionar com muito mais critério nossos clientes". O resultado, segundo ele, foi uma melhoria na qualidade na base. "E algo que é mais importante: a receita média por usuário de quem sai é menor do que a receita média de quem está entrando na base", diz Bap. Ele diz que essa mudança não é fácil porque existe uma pressão, inclusive das equipes de venda, para vender mais, mesmo que seja com menor qualidade.

Bolha

O presidente da Sky acredita, contudo, que exista algo semelhante a uma bolha no crescimento da TV por assinatura atual. "O que eu vejo é um número de assinantes sendo declarado por algumas operadoras à Anatel que não bate com o que está sendo pago aos programadores. Ou seja, é assinante ruim, que provavelmente já está inadimplente", diz ele, ressaltando que a Sky não tem essa prática. "O nosso número bate". Segundo as contas do executivo, essa bolha está perto de 2,3 milhões de assinantes hoje, e ele estima que até o começo do ano que vem seja de 2,7 milhões. "Eu vejo essa boca de jacaré crescendo".

Se 2014 foi um ano difícil, diz Bap, 2015 tem uma perspectiva ainda pior. "O que nos dá segurança para enfrentar esse ano mais complicado são essas medidas que estamos tomando. Hoje a Sky está mais bem preparada para esse cenário do que estava no começo de 2014. Mas quem manteve uma estratégia de só crescer com base no preço vai ter problemas".

Uma das estratégias em que a Sky está concentrada, apesar do foco no aumento da rentabilidade, é no modelo pré-pago. "Não tem como avançar no serviço de TV paga no Brasil sem uma estratégia para o pré-pago. Não é exatamente a mesma coisa do celular, que tem uma outra escala e outros custos, mas é algo fundamental", diz ele, sem dar números do primeiro ano de operação do serviço pré-pago na Sky.

Outro elemento comemorado na estratégia da Sky é o serviço Sky Livre, que estimula os clientes a adquirirem o equipamento da Sky para receber apenas os sinais abertos e gratuitos, mas a partir do satélite da operadora, o que facilita uma futura migração para serviços pagos. Esses clientes não entram na conta dos 5,6 milhões de assinantes da operadora, mas já totalizam 2 milhões de domicílios. Pode parecer um número não muito maior do que o que havia no final de 2013 (1,5 milhão), mas, segundo Bap, esse número não cresce mais justamente porque é grande o índice de conversão em assinaturas pagas.

Peso regulatório

O tema que desperta posições mais contundentes do presidente da Sky, contudo, é a questão regulatória. Perguntado sobre como a Sky lidou com o Regulamento Geral de Direitos do Consumidor (RGC), Bap é categórico: "O impacto foi brutal. Trata-se de uma medida populista que cria um ônus para as empresas completamente descabido", diz ele. Na prática, argumenta ele, a forma como as obrigações são colocadas não só não melhora a qualidade dos serviços ao consumidor como faz com que piore a relação entre empresas e usuários. "Quando você muda o período de cobrança e dá mais trinta dias para o cliente pagar, você aumenta a inadimplência. Quando você tira a possibilidade de fazermos ofertas, você tira benefícios do cliente", diz ele. Ter mais ou menos ligações ao call center não é indicador de bons serviços, segundo Bap. "Muita gente liga para nós porque não tem condições de contratar o serviço mas não quer ficar sem, e aí começa um jogo. A Anatel deu aos usuários elementos para que os contratos existentes com os assinantes fossem quebrados sem que a gente possa fazer nada contra isso". Segundo Bap, nenhuma empresa quer tratar mal o consumidor, sobretudo em um mercado competitivo como é o de TV, mas nenhuma empresa vai perder dinheiro para manter o assinante na base simplesmente para que o índice de ligações ao call center caia.

Ancine

Outro antigo foco de críticas da Sky é a atuação regulatória da Ancine, desde o tempo da discussão sobre a Lei do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) e a política de cotas de programação nacional. "Pelo visto, só vai piorar em 2015", diz ele. Ele volta a atacar as cotas impostas pela Lei 12.485 que, segundo ele, "não trouxeram nenhum assinante para o mercado e só geraram custos para as operadoras e para os consumidores". Mas agora Bap está preocupado com a expansão dessas medidas. "A última novidade é querer expandir as cotas para os canais HD. A Ancine precisa entender que HD é tecnologia, não é pacote", diz ele, em referência à revisão da regulamentação do SeAC elaborada pela Ancine, a IN 100. Ele ressalta que existe uma limitação no espaço do satélite para as operadoras de DTH, e diz que não faz o menor sentido exigir que canais que já são carregados ganhem versões HD por uma obrigação regulatória. "Ninguém coloca mais um satélite no espaço sem muito dinheiro e muito planejamento".

Outro ponto de crítica, também trazido na proposta de revisão da Instrução Normativa 100, da Ancine, é a isonomia de preços entre canais brasileiros. "É um absurdo a Ancine querer controlar quanto cada operadora paga por cada canal", diz ele.

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