Transformação digital é uma saída para teles em meio à crise

Diante de um cenário regulatório cada vez mais incerto, as operadoras precisam fazer mudanças dentro do possível para sobreviver não apenas ao cenário macroeconômico (também cada vez mais instável no Brasil), mas também aos novos modelos e mercados das over-the-top. Uma das saídas é o que as teles têm chamado de "transformação digital", que pode parecer um termo de marketing, mas é uma iniciativa complexa para as empresas de serviços tradicionais, como as de telecomunicações, se reestruturarem para a nova realidade de dados. Faz parte disso também a implantação de virtualização de funções de rede (NFV) e redes definidas por software (SDN) para modernizar a infraestrutura. No final das contas, a questão é a competição com os negócios que já nasceram digitais. "As outras empresas estão correndo atrás, querem ser concorrentes", explica a gerente de consultoria da Logicalis, Jhuli Takahara.

Na visão de Takahara, o avanço de uma empresa como a Telefónica em implantar grande plataforma de analytics se trata não apenas de seguir os passos de gigantes dos dados como o Google, mas de aproveitar e rentabilizar o ativo que já possuem. "Todas as teles já têm big data, o problema é como e o que fazer com isso", declara. E explica que a operadora pode ajudar com ferramentas de contexto, aplicando inclusive dados coletados com Internet das Coisas. "A operadora tem que sair do mundo (apenas) do cliente."

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Ela enxerga que iniciativas de autoatendimento com canais digitais, entretanto, ainda não são suficientes para a transformação digital. A gerente da Logicalis exemplifica com o mercado móvel, no qual a maior parte da base é de pré-pagos, com menor renda média por usuário (ARPU). "Eles (os clientes) têm dificuldades de usar aplicativos (de atendimento), preferem telefonar, e aí cai na URA", diz, ressaltando que esse comportamento acontece mesmo entre jovens.

Não é só economia

Para a gerente de tecnologia da companhia, Larisse Gois, é uma questão de reinvenção para as teles. "Elas estão em um mercado de commoditie, com demanda crescente de tráfego e o preço de megabit por segundo caindo. A alternativa é a tecnologia de SDN e NFV para trazer esses ganhos, ou também a IoT para trazer novos negócios", avalia. Ela garante que o receio da indústria mudou, e que agora a ordem é realizar a integração de camadas e a convergência das redes óticas com redes IP, tratando-as como uma rede conjunta. "Porque quando cria aplicação SDN ou banda por demanda a rede fim a fim precisa estar preparada para esse tipo de coisa", diz. "A gente já vê a movimentação nesse sentido."

Segundo a gerente de tecnologia da Logicalis, as teles continuam comprando infraestrutura "como era antes", mas agora já procuram adquirir as camadas juntas, prevendo a convergência. Com isso, já começam a fazer testes de orquestração de redes e de virtualização de hubs inteiros. "As coisas estão acontecendo, mas talvez não transpareça tanto", diz. A questão é procurar o crescimento contínuo de olho em novas tecnologias e oportunidades. "O grande impulsionador para investimentos é a necessidade de crescer a infraestrutura."

Também o analytics tem de ser melhor aproveitado não apenas para dar um possível novo fluxo de receitas, mas para poder estimular o consumo do cliente. Isso é possível com a adição de flexibilidade para o cliente – daí a utilização de SDN. Assim, Góis defende que a questão não é apenas procurar otimizar e reduzir o Opex com as novas tecnologias. "Não necessariamente a virtualização é mais barata; a infraestrutura é o maior ativo da operadora, ninguém vai jogar fora o que ela tem do dia para a noite", esclarece. O ganho para operadora, diz, está na possibilidade de novos serviços ou modelos de negócio, como a flexibilidade de oferta na banda larga fixa, com pacotes de velocidades maiores em final de semana, por exemplo. "Mudanças para usar NFV e SDN trazem mais oportunidade que risco", afirma.

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