A demanda do Brasil por software para aplicações baseadas em 5G e redes de acesso desagregadas (Open RAN) pode alcançar R$ 101 bilhões até 2031, de acordo com estudo do Ministério da Economia realizado ao lado da Deloitte e da PNUD. A íntegra do estudo pode ser obtida nesse link.
Apresentadas em evento promovido por TELETIME nesta terça-feira, 19, as cifras se dividem em R$ 91 bilhões para o mercado de software que suportará o uso do 5G no setor produtivo e outros R$ 10 bilhões vinculados à cadeia emergente de redes abertas e desagregadas. No primeiro caso, a estimativa inclui aplicações variadas que serão usadas pelas verticais, ao passo que a demanda relacionada ao Open RAN viria em um segundo momento (visto que o começo da implementação do 5G utilizará tecnologias consolidadas).
Em paralelo, o estudo também calculou um benefício potencial de R$ 590 bilhões com a chegada do 5G no País, incluindo ganhos de produtividade e redução de custos, conforme antecipou este noticiário. O valor é atrelado a uma série de recomendações de políticas públicas listadas pela consultoria no diagnóstico entregue à Economia; secretária especial de Produtividade e Competitividade (Sepec) da pasta, Daniella Marques apontou que a agenda é considerada prioritária.
"Nosso ecossistema ainda é incipiente porque saímos atrás dos países desenvolvidos, mas temos boas perspectivas de avançar rapidamente, sobretudo no desenvolvimento de software e aplicações", resumiu a líder de tecnologia, mídia e telecomunicações na Deloitte, Marcia Ogawa. Com os incentivos corretos, o entendimento é que atores nacionais, incluindo empresas e startups, poderiam disputar frentes do mercado global de software 5G.
Um eventual plano nacional de aceleração da tecnologia, contudo, deveria superar uma série de obstáculos. Entre eles, a disponibilidade de recursos públicos e privados, a qualidade da mão de obra para tecnologia no Brasil, a própria velocidade da implementação de redes 5G comerciais no País, a percepção ainda baixa do valor agregado trazido pela nova geração de redes e mesmo a crise global na cadeia de suprimentos.
Recomendações
Neste sentido, a recomendação da Deloitte é pela criação de programas de médio e longo prazo que incluam possibilidades de captação de recursos. Entre as possibilidades mencionadas estão o uso de fundos setoriais como o Fust e a estruturação de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) para investimento em startups.
A política ainda deveria incluir diretrizes para universidades e empresas brasileiras, bem como a criação de uma plataforma que consolide testes, certificações e editais vinculados ao 5G no País. O estímulo à participação brasileira em órgãos internacionais de padronização também foi defendido, passando tanto por fóruns como o 3GPP até consórcios como o Telecom Infra Project (TIP) e O-Ran Alliance.
Do ponto de vista da infraestrutura, a recomendação é de alternativas para exploração sustentável do mobiliário urbano para cobertura 5G (incluindo estímulos para postes inteligentes e redes neutras). Uma regulamentação de novos modelos de redes privativas (como RAN as a service) e uma regulação que facilite o acesso a espectro também foram defendidas pela Deloitte no estudo entregue à Economia.
A proposta ainda inclui a criação de zonas econômicas especiais destinadas a temas 5G e de sandboxes regulatórios; a utilização do Senai e do sistema S para promoção da tecnologia; medidas que facilitem a chegada de profissionais estrangeiros, intercâmbios e a inclusão de mulheres na cadeia de telecom; a divulgação internacional de empresas brasileiras; e o fortalecimento da cadeia de suprimentos, com transferência de tecnologia e simplificação burocrática.
Não menos importante seria a identificação de casos de uso prioritários. Pela Sepec, a secretária especial Daniella Marques notou que o Brasil tem potencial para ser o maior exportador global de créditos de carbono e de energia limpa, um segmento no qual o suporte do 5G seria importante. Já a Deloitte recordou que a "tropicalização" do 5G pode passar pelo uso da tecnologia no agronegócio.
Apoios
Para a representante-residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, Katyna Argueta, a recomendação pela criação de um plano nacional 5G teria como o primeiro passo a criação de um fórum reunindo os principais atores da cadeia. "A chegada do 5G amplia a escala dos desafios e das oportunidades", afirmou Argueta, durante o webinar nesta terça-feira.
Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet também apoiou a estratégia e defendeu uma "aliança forte entre setor público e privado" que permita a captura do pleno benefício do 5G pelas empresas brasileiras. "Temos capacidade sim de entrar nesse jogo", concluiu o secretário de inovação e empreendedorismo do Ministério de Ciência e Tecnologia do MCTI, José Gontijo, também durante o evento.