Facções dominam 10% da Grande Fortaleza, indica setor de telecom

roubo de cabos
Foto: Gabriel Centeno/Ascom SSP do Rio Grande do Sul

Cerca de 10% da população da Grande Fortaleza está dentro de áreas atualmente controladas pelo crime organizado, indica um levantamento feito entre operadoras locais de telecomunicações afetadas por ataques de facções contra a infraestrutura de conectividade.

As áreas afetadas compreendem cerca de 400 mil habitantes da região metropolitana da capital cearense – que soma 3,7 milhões de pessoas. Nessas localidades, criminosos impedem e vandalizam instalações de infraestrutura de telecomunicações, prejudicando a oferta de serviços essenciais aos usuários.

A informação faz parte de um levantamento das associações setoriais de telecom, apurou TELETIME. Fontes informaram que esse problema escalou rapidamente nos últimos três meses na Grande Fortaleza. Até pouco tempo atrás, eram cerca de 100 mil pessoas vivendo nessas áreas – número que agora chegou a 400 mil. 

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Ataques

A ascensão do crime organizado em uma das principais regiões metropolitanas do Brasil preocupa provedores de Internet. Na banda larga, por exemplo, cresce o número de chamados relacionados a sabotagens contra as infraestruturas, acompanhados de relatos de coerção para que os moradores contratem apenas os provedores ilegais das facções.

Na madrugada da última segunda-feira, 17, pontos de venda de dois provedores de banda larga foram invadidos em Caucaia, cidade da região metropolitana de Fortaleza: um da Giga+ Fibra (que teve uma loja incendiada) e outro da GPX Telecom (cujos equipamentos foram destruídos). Essas duas lojas ficam a 1,1 km de distância uma da outra.

Loja da Giga+ (do grupo Alloha Fibra) incendiada, na Rua Santa Helena, bairro Parque São Gerardo, em Caucaia (CE). Ataque ocorreu na madrugada do dia 17 de março. Imagem: Reprodução/Diário do Nordeste

O ataque, inclusive, forçou a GPX Telecom a encerrar os nove anos de atividades na região. "Infelizmente, em meros 20 minutos, atos de vandalismo devastaram tudo o que construímos com tanto esforço e comprometimento", afirmou a empresa em comunicado aos clientes.

A provedora disse ainda que esse episódio evidencia a fragilidade da segurança pública atual. "Esperamos por justiça diante dessa situação alarmante que afeta a todos nós", prosseguiu a empresa.

Provedores também têm sido alvo de outros tipos de represálias, que vão desde a destruição de cabos e incêndio a veículos até tiros disparados nas fachadas de estabelecimentos. No último dia 12, a Polícia Civil do Ceará prendeu 12 pessoas suspeitas de envolvimento em ataques a empresas de Internet no estado.

Uma das principais hipóteses levantadas pelas investigações é que os ataques estão sendo praticados contra empresas que se recusaram a pagar uma taxa a uma facção criminosa para poder ofertar o serviço.

O mercado móvel também não escapa da atuação dos criminosos. O setor de telecomunicações denuncia que quadrilhas começaram a sabotar instalações de redes de celular nas áreas dominadas – por medo de que essas infraestruturas auxiliem em processos de investigação policial. Além dos provedores de banda larga, a atuação criminosa na Grande Fortaleza também impacta a operação de grandes plataformas de transporte, como Uber e 99.

Temor

Uma fonte das associações setoriais afirmou a este noticiário que essas entidades temem que novos casos avancem para outros estados brasileiros. Atualmente, já existem problemas como esse no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco, no Espírito Santo e no Pará, para ficar nos casos mais evidentes. 

Diante do aumento de casos desse tipo, uma comitiva de associações que representam empresas que prestam serviços de telecomunicações se mobiliza junto ao Ministério da Justiça em Brasília.  O diálogo já começou ao lado a Secretaria Nacional de Segurança Pública da pasta. 

Em Brasília, a Anatel também monitora o aumento de ocorrências envolvendo ataques, sequestros e operação clandestina de redes de telecomunicações por facções criminosas no País. No último dia 13, a agência revelou ter solicitado participação no Grupo Nacional de Apoio ao Enfrentamento ao Crime Organizado (Gaeco Nacional), criado em fevereiro para fortalecer a atuação do Ministério Público Federal no combate à criminalidade.

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