A demanda por data centers, impulsionada pelo uso crescente de inteligência artificial, serviços em nuvem e grandes volumes de dados, está aumentando significativamente. E não deve parar por aí: segundo estimativas da McKinsey, a demanda triplicará globalmente até 2035. Empresas como Google, Amazon e Microsoft, por exemplo, atualmente estão expandindo seus centros de dados a nível global, o que demonstra o crescimento robusto e contínuo do setor.
Contudo, a operação de um data center requer investimentos em infraestrutura essencial, incluindo um fornecimento de energia elétrica estável, competitivo e, preferencialmente, renovável. Além disso, é fundamental a conexão a redes de alta tensão e um sistema de refrigeração eficiente, que, por sua vez, depende da garantia de suprimento de água.
Isso porque a operação dos diversos servidores e sistemas de armazenamento de data centers demanda uma quantidade significativa de energia, além de exigir sistemas de resfriamento adequados e suprimento de água para manter a temperatura adequada e evitar falhas.
Nesse cenário, o Brasil apresenta vantagens competitivas que o tornam promissor para investimentos nesse setor. Além da abundância de recursos renováveis e do território amplo para expansão de infraestruturas de data centers, a rede de transmissão de energia no País segue em contínua expansão ao longo dos últimos anos e oferece um ambiente regulatório favorável.
Com 181 complexos de data centers, localizados, em grande parte, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, esse mercado atingiu US$ 5,32 bilhões no ano passado no País e deve crescer para US$ 7,06 bilhões em 2029, conforme estimativa da Statista.
A expectativa de crescimento do setor no Brasil é impulsionada pela expansão da inteligência artificial e fatores estratégicos do mercado, como:
- Alta demanda interna: população de cerca de 200 milhões de habitantes, elevada penetração da Internet e forte presença em fintechs, e-commerce e mídia digital.
- Disponibilidade hídrica: o Brasil detém 12% da água doce mundial, essencial para o resfriamento dos data centers.
- Energia renovável abundante: grande oferta de energia limpa (eólica, solar, hidráulica e biomassa), garantindo competitividade no longo prazo.
- Ambiente regulatório favorável: incentivos à infraestrutura elétrica, segurança jurídica com a LGPD e políticas da Anatel para expansão digital e de banda larga.
O crescimento do mercado de data centers no Brasil tem um impacto significativo na demanda energética, com projeção de alcançar 9 GW até 2035. Esse aumento está relacionado ao pedido de acesso à Rede Básica de transmissão de energia em estados como Ceará, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Bahia e São Paulo. O crescimento deve ser avaliado considerando três aspectos principais: acesso à rede, fontes alternativas de energia e sistemas de armazenamento de energia para garantir a estabilidade do fornecimento.
Acesso à Rede
A expansão do sistema de transmissão no Brasil tem sido robusta, com 4,4 mil quilômetros de novas linhas de transmissão em 2024, e uma previsão de 1,5 mil quilômetros em 2025. Estudos da EPE apontam alternativas para atender à demanda dos data centers, como a liberação de 1,2 GW de margem para a conexão de grandes consumidores à Rede Básica. A regulamentação existente, como a Portaria n° 24/2014, proporciona previsibilidade e segurança para os data centers, fortalecendo o ambiente regulatório e promovendo a expansão e confiabilidade do sistema.
As licitações regulares do Governo Federal para concessões de transmissão e melhorias no sistema de energia reforçam a capacidade da rede e reduzem os riscos de interrupções. A construção de novas linhas de transmissão e subestações é essencial para garantir a eficiência e confiabilidade das operações dos data centers, contribuindo para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. O monitoramento contínuo das necessidades do setor assegura que a infraestrutura energética evolua conforme o crescimento do mercado de data centers.
Potencial renovável do Brasil
Embora os Estados Unidos liderem o setor de data centers em termos de infraestrutura, o país depende fortemente de combustíveis fósseis, com os data centers consumindo 4,4% da energia em 2023 e podendo chegar a 12% até 2028. Em contraste, o Brasil, com mais de 50% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis, está bem posicionado para atender à crescente demanda por processamento de dados de forma sustentável. O País demonstrou sua capacidade de sustentar essa demanda com o crescimento da capacidade elétrica em 2024, com 8,87 GW provenientes de fontes renováveis, um aumento de 1,5 GW.
Além disso, o Governo Federal oferece incentivos à sustentabilidade energética, como a isenção de encargos setoriais para a autoprodução de energia. Além disso, vale lembrar a implementação e regulamentação do mecanismo do "Dia do Perdão", facilitando a regularização de projetos de energia renovável. Essas políticas reduzem custos operacionais e incentivam novos empreendimentos, tornando o Brasil um ambiente ideal para o desenvolvimento de data centers. Combinado com a expansão do parque elétrico, especialmente em energias renováveis, o Brasil oferece uma infraestrutura robusta e um cenário regulatório favorável à inovação e ao investimento sustentável.
Sistemas de Armazenamento de Energia
Por outro lado, a geração de energia renovável, embora crucial para a transição energética e mitigação das mudanças climáticas, enfrenta desafios devido à intermitência das fontes solar e eólica. Nesse contexto, a implementação de sistemas de armazenamento de energia pode ser a solução para garantir gestão energética, flexibilidade, confiabilidade e equilíbrio no sistema elétrico, especialmente para data centers, que exigem redundância. A Aneel tem discutido a regulamentação desses sistemas desde 2023, com a Consulta Pública n° 39/2023, focando em questões como acesso à rede, autorizações e remuneração.
A proposta de regulamentação está em fase de conclusão, com expectativa de que seja aprovada no primeiro semestre de 2025. Essa regulamentação deve impulsionar o interesse de investidores no desenvolvimento de data centers e em soluções energéticas que garantam o suprimento confiável para essas instalações.
O Brasil se posiciona de forma vantajosa para a expansão de data centers, oferecendo um ambiente competitivo e sustentável para investidores do setor. Com uma matriz energética predominantemente renovável e em contínua expansão, o País está preparado para atender à crescente demanda energética dos data centers, alinhando-se às expectativas de sustentabilidade e eficiência. A contínua promoção de investimentos em infraestruturas de banda larga e na Rede Básica facilita a instalação de data centers em regiões além das grandes metrópoles, ampliando as possibilidades de desenvolvimento econômico em diversas partes do País.
Além disso, o ambiente regulatório favorável, com incentivos à autoprodução de energia, isenções de encargos setoriais e políticas públicas de proteção de dados pessoais e expansão digital, reforça o Brasil como uma escolha atraente para a instalação e expansão de data centers. Isso contribui para o avanço da era digital de maneira sustentável, posicionando o Brasil como um hub estratégico para o setor.
* Sobre as autoras – Ana Carolina Katlauskas Calil, Fernanda Silva e Eduarda Carmo são, respectivamente, sócia e advogadas associadas das áreas de Energia e Telecomunicações do Cescon Barrieu. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a visão de TELETIME.