A evolução das redes 5G no Brasil e na Índia (dois dos maiores mercados emergentes do mundo) reflete estratégias distintas que resultaram em desafios e avanços diferentes para cada país. Isso é o que indica uma análise realizada pela firma de medições Opensignal, em parceria com o GSMA Spectrum Programme.
Segundo o estudo, a Índia se destacou por alcançar uma alta disponibilidade da tecnologia, enquanto o Brasil priorizou o desempenho em termos de velocidade de download. Prova disso é que, no segundo trimestre de 2024, os usuários de 5G na Índia passaram 52% do tempo conectados à rede de nova geração. No Brasil, essa taxa foi menor: 10,8%.
Mas para a Opensignal, o Brasil compensa a menor disponibilidade com velocidades médias de download superiores, atingindo cerca de 350 Mbps. Por outro lado, na Índia essas médias caíram para 243 Mbps no mesmo período. Entre as razões que explicam essa diferença estão as diferentes estratégias de uso do espectro adotadas pelos dois países.
Espectro
O estudo destaca que as operadoras na Índia optaram por uma abordagem mista no uso do espectro, utilizando tanto faixas baixas de 700 MHz quanto médias, de 3,5 GHz. As frequências menores por lá garantiram uma cobertura mais ampla. Mas isso teve um preço: a limitação da velocidade.
Já no Brasil, segundo a Opensignal, 99% das conexões 5G utilizam a faixa de 3,5 GHz. Isso garante melhores velocidades. Como contrapartida, a cobertura se torna mais limitada em áreas rurais.
"As escolhas de gerenciamento de espectro da Índia e do Brasil destacam o delicado equilíbrio entre cobertura e velocidade", aponta o estudo. Enquanto a Índia prioriza uma maior cobertura, a escolha do espectro de 700 MHz impacta a velocidade em um dos países mais densamente povoados do mundo.
Desempenho
Outro ponto que contribui para as diferenças de desempenho é a largura de faixa utilizada para as conexões 5G. No Brasil, 40% das conexões utilizam larguras de faixa acima de 100 MHz, o que garante velocidades mais altas. Já na Índia, apenas 18% das conexões utilizam larguras superiores a 100 MHz, o que limita o desempenho da rede, segundo o relatório.
"A largura de faixa maior do espectro está correlacionada com velocidades mais rápidas e melhor desempenho", ressalta o relatório da Opensignal. Essa diferença também explica por que o Brasil mantém velocidades de download de 5G próximas a 350 Mbps, enquanto a Índia enfrenta queda nas velocidades à medida que a adoção do 5G aumenta.
Congestionamento e infraestrutura
A análise também sugere que o congestionamento da rede está impactando negativamente as velocidades na Índia, especialmente em áreas urbanas com alta densidade populacional. "O aumento do tráfego 5G provocou uma pressão adicional sobre a infraestrutura, particularmente em cidades com alta densidade populacional", afirma o estudo. Esse problema se agrava devido à disponibilidade limitada de backhaul de fibra, essencial para suportar o 5G de alta velocidade.
Já no Brasil, a baixa densidade populacional e as vastas áreas remotas (como a Amazônia) criam desafios diferentes. As operadoras brasileiras, por exemplo, enfrentam custos elevados para implantar a infraestrutura 5G em regiões pouco povoadas. Isso resulta em menor retorno sobre o investimento.
Futuro
Para a Opensignal, tanto o Brasil quanto a Índia precisam refinar as estratégias de 5G para lidar com os desafios que surgem com o crescimento da demanda. O estudo sugere que a gestão do espectro continuará sendo essencial, mas outros fatores, como a expansão da infraestrutura de backhaul, a disponibilidade de dispositivos compatíveis e o equilíbrio entre cobertura e velocidade, também serão determinantes para o sucesso do 5G nos dois países.
Apesar desses desafios, a Opensignal afirma que a inovação e o investimento contínuo ajudarão a superar obstáculos como o congestionamento da rede e a conectividade rural, impulsionando o desenvolvimento digital e o crescimento econômico nas duas nações. "Enquanto a Índia alcançou uma forte disponibilidade de 5G, o Brasil atingiu velocidades médias rápidas", conclui o estudo.