Nas últimas décadas, temos experimentado uma evolução tecnológica sem precedentes. A popularização dos computadores pessoais, a chegada da internet e o surgimento dos smartphones provocaram mudanças na rotina e influenciaram a forma como nos deslocamos, nos alimentamos, nos divertimos e nos relacionamos. Até o fim do ano passado, segundo o relatório de mobilidade da Ericsson, havia 8,4 bilhões de assinantes móveis no mundo – em outras palavras, existem mais conexões celulares do que pessoas no planeta.
Nessa nova configuração social, dispositivos, aplicações, plataformas de dados e conectividade lideram uma revolução tecnológica na qual a comunicação transcende a esfera humana e se cria uma interação entre "tudo". Essa conectividade exponencial é a chamada Internet das Coisas – ou, simplesmente, IoT.
Iniciei minha jornada no mundo das "coisas" há seis anos, quando IoT já era um tema, embora bem mais hipotético do que real. Na época, visitei outras operações e países para entender como estava a maturidade em outros contextos. Mas, na prática, nada era muito diferente do que acontecia no Brasil, onde os principais casos de uso eram de conectividade para rastreadores de carros e máquinas de cartão de crédito.
Lições com IoT
Desde então, uma infinidade de discussões surgiu. Das mais básicas, sobre as diferentes tecnologias e aplicações possíveis, até as mais elaboradas, como a importância do ecossistema, as especificidades da cadeia de valor, os modelos e verticais de negócio. Nessa jornada que tende ainda a ter muitas temporadas, aprendemos lições valiosas:
– Jogo coletivo: como uma componente de transformação digital, a Internet das Coisas é, sem dúvidas, um jogo coletivo. Independentemente do caso de uso, sempre haverá uma natureza "phygital" (físico + digital), com dispositivos ("coisas"), aplicações, alguma conectividade para unir esses pontos. E o principal: dados, muitos dados. Cada elo da cadeia demanda diferentes competências e especialidades, que evoluem todos os dias. Como é cada vez maior o desafio de ser especialista em tudo, a combinação das partes é fator crítico de sucesso. Nada acontece sem a sincronia dos diferentes elos da cadeia.
– O todo é maior que a soma das partes: é natural que a primeira onda de qualquer nova tendência tecnológica seja repleta de pilotos, testes e provas de conceito, mas a escala na IoT reforça o papel fundamental dos integradores. Além dos aspectos técnicos citados no item anterior, em cada vertical e casos de uso existem necessidades (ou "dores") específicas, modelos de negócio, financiamento, aspectos legais e até regulatórios. Sem contar a necessidade de integração e/ou adaptação a processos e sistemas de cada cliente final. Os integradores são, portanto, essenciais para abstrair complexidades técnicas e de negócio, conectar as pontas soltas e capturar os ganhos da digitalização, visando entregar o máximo valor para o cliente final no melhor "empacotamento" possível.
– Oportunidades reais = desafios reais: alguns casos de uso são discutidos há anos e até hoje não se concretizaram. Por outro lado, é fantástico vivenciar experiências que já são realidade, como morar numa casa ou almoçar em um restaurante que tem medidores inteligentes. Ir à praia e saber que a iluminação pública daquela orla é gerida remotamente. Ver que um início de alagamento em uma via importante de uma grande cidade foi identificado rapidamente por um sensor. Ou ainda que carros e cargas roubadas têm sido recuperados com uma eficiência cada vez maior, bem diferente de anos atrás. Tudo isso hoje é real, resolvendo problemas reais e com real geração de valor para todos os envolvidos, da sociedade aos provedores de solução. E a aceleração da escala passa por essa crescente evolução na maturidade do mercado sobre onde estão as maiores e melhores oportunidades.
– Dados, dados, dados: como já mencionado, nossa sociedade experimenta uma relevante transformação social e econômica provocada pelo volume de geração e incremental acesso a dados de diversas naturezas. A IoT, nesse contexto, chegou com um efeito catalisador, dando "voz" a objetos até então "silenciosos" e trazendo uma enxurrada enorme de dados que num primeiro momento era até difícil de identificar a melhor forma de organizar e gerar valor a partir deles. Isso evoluiu com a maturação dos atores envolvidos, porém agora ganha a possibilidade de um salto quântico com a evolução das ferramentas de Inteligência Artificial, que chegam não só com a capacidade de processar e concluir, mas também de aprender e se autodesenvolver tendo como matéria-prima os dados, que a crescente escala da IoT tende a trazer em volumes cada vez maiores.
Apesar de todos os avanços, é bastante razoável acreditar que o melhor ainda estar por vir. O 5G chega a uma sociedade já bastante conectada, onde celular é elemento básico, então é justo considerar que um grande potencial de crescimento está justamente nas "coisas", e já é possível ver esse movimento acontecendo.
O Digital China Development Report 2022, divulgado recentemente, apontou que a China alcançou o número de 1,845 bilhão de coisas conectadas, sendo o primeiro país onde o número de objetos conectados superou o de usuários de celular. E, como já exploramos anteriormente, a real disrupção desse processo evolutivo de transformação digital da indústria está na capacidade de geração de valor para a sociedade.
E a combinação do potencial dos dados gerados pelas coisas em volume sem precedentes e os avanços recentes em Inteligência Artificial, com a popularização de ChatGPT e companhia, criam espaço para um círculo virtuoso e possibilidades hoje ainda difíceis de ser previstas. Fica como tema para o próximo artigo.
*- Sobre o autor: Daniel Laper é diretor sênior de Fibra e Novos Negócios da American Tower. As opinões expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.
Muito bom