CEOs da Claro e da Sky pedem união do setor para chegar a modelo mas inclusivo do serviço

As duas maiores operadoras de TV por assinatura do país propõem à indústria, programadores e operadores, um esforço conjunto para que se chegue a um modelo de empacotamento e de custos mais competitivo. No PAY-TV Fórum, evento online promovido por TELA VIVA e TELETIME nestes dias 18 e 19, o CEO da Claro, José Félix, foi enfático: a base da TV por assinatura cresceu acima da capacidade de renda nos anos de crescimento acelerado, sobretudo até 2014. "A base começa a refletir mais a renda do brasileiro. Enquanto não terminarmos de limpar a base, vamos continuar perdendo assinantes", disse.

Para Félix, o serviço tradicional de TV por assinatura, "infelizmente", não é um serviço para todos. Por ter rede própria, explica, demanda um nível de excelência em vendas, atendimento e manutenção que o torna difícil expandir para além da classe AB. E, segundo ele, da receita líquida, 51% é direcionada ao conteúdo. "Por isso buscamos um modelo com os programadores que torne o serviço mais acessível", diz.

Segundo o executivo, falta, por parte das programadoras uma boa vontade na busca por novo um modelo preservando o ecossistema da TV por assinatura. Por um lado, aponta um "ranço" em negociar, em consequência de negociações muito duras no passado. "Entre empresas de operação e programação, houve uma certa rixa muito forte, com 'uma certa infantilidade'", mencionando as ameaças, de ambos os lados, de tirar canais do ar. Ele propõe um compromisso com objetivos comuns, no qual o operador é remunerado pela distribuição dos canais OTT e o programador se beneficia de um canal de distribuição que vende e atende o assinante, o que, explica, é caro e demanda conhecimento. "Em que pese toda a dificuldade que estamos (o setor) tendo, há programador que, na renovação, quer 20% de aumento", diz. Não é uma equação de solução simples, afirma, reduzir custos para chegar a tickets menores, mas o modelo atual é para poucos. "Temos que achar um que possa aumentar essa base".

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Félix criticou a estratégia dos programadores na adoção de modelos de comercialização direct to consumer (D2C), embora não seja contra a diversificação de modelos por parte deles. Para ele, o investimento em uma nova frente não deveria se dar em detrimento de outra já estabelecida e economicamente viável. "Não pode vender no direct to consumer mais barato do que vende para mim. Isso é trocar uma receita certa por uma incerta", afirma. Foi ainda mais duro na estratégia de valorização das plataformas próprias de streaming dos grupos de mídia. "Se ouve dizer que vão tirar conteúdos da TV por assinatura. Um dos que dizem isso recebe R$ 400 milhões por ano de nós. Do ponto de vista estratégico, não é melhor ficar com o R$ 400 milhões no bolso e também tentar um novo mercado? O assinante de TV por assinatura já está garantido".

Estanislau Bassols, CEO da Sky, que também deu entrevista no evento virtual, vai na mesma linha de seu par na Claro. Segundo ele, o tempo que levará para construir uma base relevante no direct to consumer não é tão curto quanto o da queda na receita, caso não se proteja o ecossistema da TV por assinatura. A maior operadora de DTH do País, conta Bassols, investe milhões em vendas anualmente para manter o resultado atual, que é o de manter a base ou apresentar leve queda. "Se não houver investimento (em vendas), as margens sobem na hora, mas a erosão da base acontece em um clicar de dedos", diz. "Manter a base com vendas que acontecem em lugares cada vez mais distantes e difíceis é para sinalizar aos programadores que podemos manter volumes. Posso fazer o oposto, segurar as vendas com economia para fazer caixa para os próximos três anos, mas o faturamento do programador despenca. Posso usar minha rede de instaladores para outros serviços", completa. A operadora conta com colaboração de mais de 5 mil parceiros e mais de 25 mil pessoas.

O CEO da Sky concorda que vê um "ranço" nas negociações. "Muitas vezes, em vez de negociar pensando nos próximos cinco anos, se prendem em negociações individuais por ranços do passados. As conversas estão discutindo o que aconteceu em 2012 ou 2013", diz.

Novos produtos

Félix confirmou a preparação do Claro Streaming Box, produto "OTT puro" da operadora. Segundo ele, ainda não há data de lançamento. Sobre a adequação como Serviço de Valor Adicionado ou Serviço de Acesso Condicionado, diz que "enquanto o SeAC existir, vamos fazer como SeAC". A ideia é que seja um produto com custo mais baixo, com autoinstalação e autoatendimento digital. Eventualmente, pode vender a caixa do serviço. "Goste ou não, as pessoas querem a caixinha. Querem Netflix na caixinha. A TV [o aparelho] fica mais moderna. Está sempre funcionando. Mas a gente não exclui nenhuma possibilidade", diz, abrindo a chance de lançamento de uma versão totalmente baseada em aplicativo e no modelo de SVA puro, desde que tenha certeza de que existe segurança regulatória.

Em outro debate, Alessandro Maluf, diretor de produtos de vídeo da Claro, disse que o produto permitirá oferecer o serviço a outros perfis de assinantes e marcar a chegada da operadora em novos mercados. Além disso, não descarta a venda para não assinantes da banda larga da Claro.

Já Bassols lembra que a AT&T, dona da Sky, lançou recentemente nos Estados Unidos o DirecTV Go, que combina canais lineares com VOD. "Estão trabalhando em uma solução com o melhor da pay-tv para qualquer tela em formato de streaming. Sem dúvida esse é o caminho. Mas a minha vocação é a de ser um agregador, que continua dependendo de um ecossistema. Não me incomodo de ser o shopping e preciso de lojas que atraiam o público", diz. "O programador produz o que eu vendo, há um respeito enorme por ele", completa.

Assimetria

Félix voltou a cobrar simetria regulatória e tributária entre as diferentes modalidades de serviço de vídeo por assinatura. "Queremos isonomia de regras. Pagamos 25% de imposto, não faz sentido que quem faz a mesma coisa pague 2,5%", disse. Segundo ele, quem está oferecendo canais lineares por streaming sem uma licença de SeAC "claramente afronta a lei". "Estão dando um jeito de fazer o que querem e não gostam da lei. Tem lá uma engenharia", disse. Segundo ele, a discussão sobre a legalidade ou não se alonga há dois anos não porque exista dúvida, mas porque se quer "achar um jeito" de liberar oferta de serviços como SVA.

Félix, no entanto, não se coloca contra o enquadramento do serviço de TV por assinatura como serviço de valor adicionado, contanto que a regra seja a mesma para todos. "Se a ideia é SVA, vamos de SVA;, se é SeAC, vamos para o SeAC". Além disso, para a Claro, a mudança poderia começar imediatamente. "Eu não estou preocupado com transição (entre os modelos). Pode começar amanhã, desde que tenha regras iguais", completa. Por fim, o executivo é categórico. "Já disse inúmeras vezes que, por mim, se acaba com o SeAC".

Ele lembra que parte do receio no setor em acabar com a modalidade do serviço está na separação entre distribuição e produção imposta na Lei do SeAC.

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