PL de proteção de dados avançou, mas pode ser melhor

O substitutivo ao Projeto de Lei do Senado 330/2013, que trata da proteção de dados, avançou, mas ainda tem espaço para ser melhorado. É o que indicam as manifestações dos participantes da audiência pública realizada na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado, realizada nesta terça-feira, 18. Entretanto, as sugestões apresentadas são, em grande parte, conflitantes.

O artigo 6º do substitutivo, que define os direitos básicos do titular dos dados é o mais conflitante. Para o diretor de Política de Negócios e Operações da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Leandro Vilain, a obrigação de a metodologia de cruzamento de dados das informações ser transmitida ao cidadão, como diz o projeto, poderia afetar as análises de risco de crédito para o consumidor. "A norma reduziria a capacidade de análise de crédito, tornaria vulneráveis as centenas de variáveis adotadas por cada instituição e, consequentemente, se elevaria o risco de fraude", defende.

O promotor de Justiça e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital (IBDDIG), Frederico Ceroy, concorda em parte. Na opinião dele, informar abertamente a lógica do tratamento automatizado dos dados é "algo como entregar a fórmula da Coca-Cola para a Pepsi". Mas ele defende que as fórmulas devem ser entregues para as autoridades. "O Senado, por exemplo, tem o dever de saber como isso é feito, mas o consumidor precisa saber a lógica, o segredo da fórmula das empresas? O funcionamento do algoritmo?", questionou.

Notícias relacionadas

A doutora em Direito Privado pela Universidade de Berlim, Laura Schertel, por sua vez, defendeu a possibilidade de "reanálise de crédito", caso a avaliação automatizada o negue em primeira mão. Na opinião da especialista, o cidadão deve ter o direito de conhecer o nexo da análise de risco, merece saber por que recebeu um 'score' ruim e teve o crédito rejeitado.

Laura considera que o projeto é tímido em relação à avaliação de crédito e traz normas que já existem na legislação atual, como a do cadastro positivo.

Internet das coisas

A diretora do Conselho de Estudos Jurídicos da Associação Brasileira de Internet (Abranet), Carol Conway, mencionou a necessidade de separar os dados anônimos dos dados pessoais. Segundo ela, os dados anonimizados são decorrentes da Internet das coisas, de uma geladeira conectada, por exemplo.

"Se queremos colocar o Brasil à frente na questão tecnológica temos que debater o 'big data' e colocar definição de dados anonimizados, que não se confunda com a de dados pessoais. É importante incorporar para termos uma legislação moderna", disse Carol.

Já o chefe de gabinete da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça, Fabrício Lazaro, disse que o governo está elaborando uma proposta legislativa para regulamentar o setor a partir das contribuições da população e de entidades especializadas, durante a fase de consulta pública. Ele afirmou que os assessores da Senacon estão contribuindo no aperfeiçoamento do PLS.

O relator do substitutivo na comissão, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), informou que, a partir da contribuição das instituições, irá fazer modificações ao relatório, antes de apresentar na CCT, para votação. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) ressaltou que é preciso ter cuidado para não privar o usuário do que ele precisa saber. "É preciso garantir um tratamento impessoal dos dados porque os vazamentos ocorrem nessa área e não por meio de hackers, que podem ser barrados com a adoção de sistemas mais seguros", completou.

Todos os participantes defenderam a necessidade de se definir uma autoridade para fiscalizar o tratamento de dados pessoais. Porém, o relator afirmou que, por se tratar de uma proposição de parlamentares, a criação dessa figura não pode ser estabelecida no projeto. "O máximo que pode vir é uma descrição da atuação dela, caso seja criada pelo executivo", disse.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!