A exclusão digital no Brasil é mais persistente entre as pessoas com menor renda e a diferença na qualidade da Internet fixa entre os bairros mais ricos e os mais pobres nos principais centros urbanos do País aumentou nos últimos anos. Essa foi a conclusão de estudo realizado pelo Banco Mundial, com dados da empresa de medições Ookla.
A conclusão do estudo de que há uma relação direta entre renda e acesso à conectividade significativa não é nenhuma novidade – inclusive, já foi mostrada por outros estudos. Mas, desta vez, o Banco Mundial analisou a fundo o cenário de conectividade em seis capitais do País: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo.
O estudo identificou que, em 2022 e 2023, a diferença na qualidade da Internet fixa entre áreas ricas e pobres de todas essas seis cidades brasileiras aumentou. A pesquisa analisou as velocidades da Internet móvel e fixa nessas cidades de 2017 a 2023 usando dados de quase 100 milhões de testes geolocalizados Ookla Speedtest Intelligence.
"Os bairros mais ricos desfrutaram consistentemente de velocidades superiores, especialmente em redes fixas", afirmaram os autores do estudo. Ainda de acordo com os pesquisadores, esse cenário de desigualdade no acesso à Internet perpetua as divisões econômicas, já que dificulta o desenvolvimento regional.
Cidades
Durante todo o período de referência da análise (2017 a 2023), as áreas mais ricas de Manaus e São Paulo tiveram uma Internet melhor, e essa vantagem tem crescido com o tempo, segundo o estudo.
Em Brasília, essa mesma tendência de aumento observada acima se repetiu, com exceção de 2017 – quando as áreas mais pobres da capital federal tinham uma pequena vantagem em relação às áreas mais abastadas.
"No Rio de Janeiro, apenas nos últimos dois anos [2022 e 2023] a Internet nas áreas ricas foi melhor que nas áreas pobres, mas as diferenças estão diminuindo", afirmou o estudo.
Entre as capitais do grupo estudado pelo Banco Mundial, Belo Horizonte e Fortaleza foram as cidades com a qualidade de Internet menos desigual entre áreas ricas e pobres. Mesmo assim, essas duas regiões registraram um aumento na qualidade da Internet nas áreas ricas em 2022 e 2023 – ainda que menores que as outras capitais.
Pandemia
O material também avaliou o impacto do estresse causado na rede de Internet no Brasil após a declaração de emergência devido à pandemia da Covid-19. A pesquisa notou que o episódio causou uma redução média de 20% na velocidade média de download em todas as cidades.
No entanto, esse impacto foi maior em "áreas menos prósperas em comparação com as mais ricas". Em Manaus, a redução da velocidade de Internet na pandemia chegou a 29%. Em Brasília, essa queda foi de 7% – a menor entre as cidades avaliadas.
Nas outras capitais, a redução da velocidade durante a pandemia foram as seguintes:
- Rio de Janeiro (25%);
- Fortaleza (21%);
- São Paulo (19%);
- Belo Horizonte (16%).
Educação
A pesquisa também mostrou que 13% das áreas de influência em redor das instalações educativas têm velocidades de Internet abaixo de 80 Mbps – que é o limite exigido para o e-learning ou educação à distância. Essas áreas correspondem a uma área onde 8% da população em idade escolar reside.
"Além disso, essas localidades costumam apresentar menor riqueza, sugerindo um efeito de desigualdade agravado", segundo o estudo. A pesquisa mostrou também que as disparidades eram acentuadas entre as cidades, "com Belo Horizonte tendo o melhor desempenho e o Rio de Janeiro o mais baixo".
Colaborações
De acordo com os autores, os formuladores de políticas públicas e o setor privado podem estabelecer colaborações em políticas locais, direcionadas especialmente para atender áreas mais carentes.
Entre essas medidas, o estudo apontou o fomento à expansão da da tecnologia de fibra óptica até a residência (FTTH), a acessibilidade de pacotes de Internet de alta velocidade e dispositivos e, também, o desenvolvimento de habilidades digitais específicas por meio de programas de treinamento e conscientização.
"Todas essas medidas apoiarão um acesso mais equitativo à Internet, garantindo que todos os indivíduos tenham acesso a uma conexão à Internet rápida, acessível e confiável", afirmou a pesquisa.
Em relação ao desenvolvimento de habilidades digitais, uma outra pesquisa elaborada pela Anatel (e divulgada nessa segunda, 17) mostrou que o Brasil tem o terceiro pior nível desse tipo de conhecimento entre os países do G20.