Em seu depoimento na CPI da Pandemia nesta terça-feira, 18, no Senado Federal, o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que em nenhum momento criou atritos com o governo Chinês. Mas em audiência pública na Câmara em março deste ano, e apesar de ter afirmado que o governo brasileiro não aderiu ao programa Clean Network, Araújo manifestou concordância com os princípios de segurança e privacidade que o projeto do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmava defender para as redes de 5G no mundo.
Araújo justificou seu posicionamento dizendo que o 5G é um tema lateral e que a preocupação do governo é de ter um sistema seguro, que respeite a legislação e as liberdades fundamentais, independente de quem seja o provedor. "E essa era a ideia de Clean Network, que nós não aderimos e apenas manifestamos a nossa concordância com os princípios de segurança e privacidade, que estão previstos na nossa Constituição".
Clean Network foi um programa liderado pelos EUA para banir a Huawei e outras fabricantes chinesas do fornecimento de equipamentos para a tecnologia 5G em países aliados. O Brasil chegou a ser listado entre os países que aderiram ao programa. No dia da posse do atual presidente norte-americano, Joe Biden, a página do programa foi retirada do ar.
Itamaraty
Antes, em novembro de 2020, o secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Itamaraty, Pedro Miguel da Costa e Silva, fez uma declaração à imprensa dizendo que governo brasileiro apoia o programa capitaneado pelos Estados Unidos. No mesmo mês, Ernesto Araújo defendeu o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) quando o filho do presidente acusou o governo chinês de espionagem no Twitter. Mas Araújo fez isso por meio de nota do próprio Itamaraty, embora esse posicionamento não esteja disponível no site do Ministério.
Em entrevista ao TELETIME em agosto de 2020, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, disse que o país asiático "é contra o uso de meios executivos para interferir ou impedir a participação legítima" de empresas – vale lembrar que o país é o maior parceiro comercial do Brasil. Ele criticou fortemente a postura dos EUA, mas declarou que acredita que o governo brasileiro "saberá tomar decisões racionais com independência e autonomia" em relação à presença da Huawei no 5G.
Na ocasião, o diplomata chinês pontuou que os ataques norte-americanos são "infundados" e "puramente difamatórios", e que os EUA tentavam impor uma alegada "rede limpa" apenas como prática comercial discriminatória, e não com o propósito alegado de proteger a liberdade ou a privacidade.