O segmento de data centers está crescendo dentro da estratégia de operadoras de telecomunicações de diversos portes, resultando em novos investimentos e modelos de negócios para suporte de aplicações corporativas e de novos recursos de inteligência artificial (IA).
O tema foi discutido nesta terça-feira, 18, durante o primeiro dia do Fórum de Operadoras Inovadoras, promovido por TELETIME e Mobile Time em São Paulo. Na ocasião, Embratel, Alloha Fibra e Um Telecom (a partir de sua nova unidade para data centers, a Atlantic) discutiram o papel do setor no desenvolvimento da infraestrutura de processamento de dados.
Diretor de soluções e pré-venda de serviços de TI na Embratel, Paulo Venâncio recordou que o investimento em data centers não é uma novidade para o setor de telecom: a própria empresa (unidade da Claro para o mercado corporativo) possui cinco data centers e está partindo para a sexta estrutura, visando tanto o atendimento de clientes quanto demandas internas.
Se considerada também a infraestrutura de edge computing e parceiros de cloud, a Embratel soma presença em 180 localidades. "Transformamos muitos pontos de atendimento de rede de telecom para atender a demanda de processamento de dados colocando em pequenos e micro data centers", lembrou Venâncio.
Segundo o executivo, um dos desafios para atuação na área tem sido a exigência por flexibilidade entre clientes, que demandam soluções sob medida e atuação ao lado de parceiros. Venâncio também notou que o mercado está em processo de entender como usar recursos de IA de forma mais intensiva, e que apesar de "solavancos" na projeção de demanda (como o causado pela DeepSeek), a busca por data centers seguirá em alta.
Aposta similar é feita pela Um Telecom, que inaugurou em janeiro a Atlantic Data Centers para explorar o segmento. A empresa tem seu primeiro centro de dados (o Recife 1) em construção, com previsão da primeira fase ser concluída em dezembro e passar a atuar comercialmente em 2026. O projeto começa com 1 megawatt (MW) de capacidade e deve alcançar 6 MW na segunda e terceira fase de expansão.
"Telecom tem diversos desafios, enquanto TI cresce em um ritmo de duas a três vezes maior", reconheceu o COO da Um Telecom e presidente da Atlantic Data Centers, Daniel Gomes, ao explicar a nova aposta. A operadora, focada no mercado corporativo, passou a atuar com TI de forma estruturada há cinco anos, e no ano passado teve 30% da receita oriunda da vertical.
No caso dos data centers, a tese da empresa não é o investimento em centros para atender a demanda hyperscale (de grandes provedores de nuvem), e sim o atendimento de clientes no varejo e em busca de infraestrutura computacional descentralizada (fora do eixo SP-RJ-Fortaleza). "Nosso data center é neutro: a Um vai usar, mas também queremos dezenas de outros operadores", afirmou Gomes.
A estratégia também traz alguns desafios, como a necessidade de investimento intensivo, o acesso à capital e a tributação sobre equipamentos. "O 'recheio' do data center custa dez vezes mais [que a construção]", notou o presidente da Atlantic. Ele também se mostrou otimista com uma possível política de redução tributária para os equipamentos, a partir de trabalho atualmente em curso no governo.
Por outro lado, há também oportunidades. Uma delas é a matriz energética do Brasil, de perfil bem diversificado e limpo na comparação com outros países, como os Estados Unidos. A situação seria especialmente interessante no Nordeste, que concentra 90% da geração de energia eólica do País. "Podemos ser um grande fornecedor de serviços de data center para o mundo, não só para o Brasil", aposta Gomes.
Segundo dados trazidos pelo executivo, o mundo possui hoje cerca de 50 gigawatts de capacidade em data centers, com metade dela situada nos Estados Unidos e apenas 1% no Brasil. Nos próximos anos, a previsão da Atlantic é que a demanda quadruplique tanto lá quanto aqui, gerando grande oportunidade para empresas do segmento.
Federação
No caso da Alloha Fibra, a aposta da divisão para o mercado corporativo Giga+ Empresas é aliar tanto data centers próprios quanto a infraestrutura de terceiros, pontuou o diretor comercial nacional B2B do grupo, Clayton Moreira do Carmo.
Este modelo híbrido se vale de uma série de edge data centers incorporados pela Alloha ao longo dos últimos anos de aquisições de provedores, relata o diretor. Ao todo, a empresa soma uma "federação edge" com pelo menos 300 pontos de presença entre data centers de menor porte, PoPs e infraestrutura dos parceiros de cloud.
Agora, com a Alloha empreendendo uma ampla modernização de rede, a ideia é que a infraestrutura de processamento impulsione níveis de serviço ainda mais sofisticados a partir da rede de fibra da empresa. Moreira reconhece que as operadoras não podem se contentar em ser apenas a "empresa de tubos e conexões", mas também destacou o papel central da infraestrutura de conectividade na equação.
"A fibra acaba sendo a via e a porta de entrada, e ela que vai fazer a inteligência artificial transitar na alta taxa que ela requer, com baixa latência e alcançado longas distâncias", concluiu Moreira do Carmo. O Fórum de Operadoras Inovadoras retorna nesta próxima quinta-feira, 19, para um segundo dia de debates.