Publicidade
Início Entrevista “5G de verdade” é mais do que uma questão de release, diz...

“5G de verdade” é mais do que uma questão de release, diz CTO da Claro

André Sarcinelli, CTO da Claro

O edital de 5G está movimentando as operadoras de telecomunicações e criou posicionamentos diferentes das empresas em relação a um dos principais aspectos: a viabilidade de se adotar, no Brasil, uma obrigação de redes 5G no Release 16, com funcionalidades que obrigam a construção de uma rede Standalone nova, ou seja, desvinculada das redes de 4G. A ideia, trazida pelo relator do edital, conselheiro Carlos Baigorri, é controvertida e afeta diretamente os planos das operadoras. Nessa entrevista, André Sarcinelli, CTO da Claro Brasil, diz que o desafio vai além de apenas seguir ou não um release, como propôs a agência. Para ele, o processo de evolução das redes é muito mais longo e complexo, há a necessidade de ponderar as demandas de mercado e os investimentos necessários, e diz que a inovação será estimulada se cada operadora puder definir sua própria estratégia.

TELETIME – A Claro é contra o uso de redes Standalone no 5G?

André Sarcinelli – Tem uma coisa que está mal explicada e gera certa confusão em relação ao nosso posicionamento: não somos contra a adoção do padrão Standalone (SA) para redes 5G. Somos a favor desse caminho, e é nisso que acreditamos como evolução da tecnologia e da padronização. “O que” vai ser, portanto, está super claro. Mas o “como” é que é outro problema, e divergimos nesse aspecto de outras opiniões que estão sendo colocadas. A pergunta é se faz sentido tirar a opção de escolha estratégica da operadora, dando a ela o poder de decidir como, quando e onde fazer a rede em função das necessidades dos clientes. É aí que temos nossa divergência. Estamos testando redes Standalone em alguns casos de uso e temos uma operação na Áustria totalmente 5G SA, então o problema não é com a tecnologia. Está no nosso roadmap chegar lá, mas tem um caminho a seguir e essa decisão varia de empresa para empresa e em função das demandas dos consumidores.

Notícias relacionadas

O problema, portanto, é ter essa obrigação no edital? 

A gente nunca teve essa necessidade de orientação do governo quando decidimos ir do 3G para o 4G, ou do 4G para o 4.5G, ou adotar o Cat-M, ou adotar o NB-IoT ou o 5G DSS. Chegamos onde chegamos motivados pela inovação tecnológica, tanto que o 4.5G chegou antes dos terminais. Não precisa de regulamentação para ter inovação em um mercado competitivo, como é o nosso. Quando o mercado tiver uma demanda, teremos a melhor tecnologia para atender a esta demanda. Eu tenho certeza que se a gente lança agora uma rede Standalone com todas as funções habilitadas, 80% das ERBs exigidas pela Anatel ficarão ainda ociosas para estas funções talvez pelos próximos dois anos. E outras regiões que demandam outro tipo de cobertura e serviços não vão ter o serviço porque a gente priorizou outro investimento, por conta da obrigação. Colocar uma obrigação que direcione uma estratégia vai tirar a possibilidade de outros tipos de inovação. 

Qual é então o caminho de evolução da rede e dos modelos de negócio de vocês?

Quando houver, em 2022, a liberação para ativar rede 5G, a rede non-Standalone (NSA) é que será a tecnologia de entrada para o 5G no segmento massivo, que vai acessar a rede com um smartphone, um tablet ou o roteador. E, paralelamente, no segmento empresarial, indústria 4.0, para os setores que demandam a automação e robotização, o SA é a tecnologia que vai abraçar essas necessidades. O que pode até acontecer ao mesmo tempo em relação à implantação massiva, desde que haja a demanda real.

Mas se é possível fazer uma rede 5G Standalone já, por que não fazer?

Uma coisa é falar de uma rede privativa para uma empresa, e outra é uma rede massiva. A diferença está na dificuldade de integração e adaptação de todo o sistema periférico, de plataformas periféricas que não são nativas para o 5G. O 5G não é só antena. Não é só o New Radio (NR). Muito se fala do custo da antena, e de fato o preço do rádio habilitado com o software para uma rede NSA ou para uma rede SA é rigorosamente o mesmo. Mas não estamos falando só do custo da radiobase, mas de todo o sistema. Estamos falando da parte de RF mas também dos custos relacionados à transmissão, aos elementos de MEC (Mobile Edge Computing), orquestração, do core da rede, dos dispositivos… Para possibilitar os conceitos de baixíssimas latências (URLLC) e conexões massivas (m-MTC) e slicing, não se pode ignorar a preparação para o Edge Computing. 

Que tipo de adaptações precisam ser feitas nesses “sistemas periféricos”? 

Vamos dar um exemplo: o Vigia, que é a plataforma usada para interceptação legal. Não é uma plataforma para 3G, 4G, ou para 5G especificamente. Ela não foi desenhada dentro do padrão do 3GPP, e por isso tem um esforço de adaptar e integrar. A mesma coisa para o billing das empresas, as adaptações de CDR, plataformas anti-fraude… O que a gente viu na indústria é que entre o processo de padronização, desenvolvimento dos fornecedores, testes e homologação das operadoras, aplicação controlada e deployment massivo, estamos falando de um ciclo de quatro ou cinco anos. Em 2022 esse ciclo não vai estar maduro para lançarmos uma rede em todas as capitais com todas as funcionalidades. Precisa de um tempo maior, tempo de maturidade, de esforço de desenvolvimento. Para colocar o 5G Standalone apenas em uma empresa, em uma rede privativa, não precisa fazer todo esse esforço de adaptação e integração, a complexidade é infinitamente menor, porque o core é mais simples. Mas em uma rede massiva é diferente. Não é só questão de dinheiro, portanto.

Mas o Release 16 não é o caminho necessário para isso?

Os releases do 5G são simplesmente a indicação de uma padronização das tecnologias atreladas às aplicações e casos de uso. O Release 15, por exemplo, já permitia redes Standalone. Nós mesmos temos uma na Telekom Austria, porque a gente não tinha rede 4G. Mas todas as operações de 5G na Europa hoje ainda estão em redes NSA no Release 15, e essa padronização atende muito bem uma operadora que esteja focada apenas em Enhanced Mobile Broadband (e-MBB). O Release 16 traz mais maturidade abordando outros casos de uso, mas se esses casos de uso não estão no portfólio da empresa, não tem porque ir. E mesmo o Release 16 não está completo ainda, algumas coisas ficaram para o Release 17 na questão das aplicações massivas de IoT, como dispositivos para missões críticas. A gente fala que o Release 16 é o mais completo, mas nada é totalmente  completo porque a evolução permanece, algumas coisas virão no Release 17, outras no Release 18 e por aí vai até o 6G.

Qual é o efeito negativo de ir já para uma rede 5G Standalone? 

Tem a questão dos custos, que é o mais importante, mas também problemas triviais mais imediatos. Por exemplo, não existe solução nativa para o serviço de voz. Nesse caso, precisaria dar uma solução alternativa, e tem dois caminhos. Ou pode fazer o handover para a sua própria rede 4G e faz VoLTE (voz sobre LTE), e nesse caso tem uma integração que precisa ser feita entre o core da rede 5G e o core da rede 4G; ou você precisa de um terminal que já tenha uma solução de Voice over New Radio (VoNR), que não está disponível hoje. O chipset com VoNR deve ficar pronto no final do ano e só a partir de então é que os dispositivos vão começar a trazer essa funcionalidade, isso em meados ou final de 2022. Uma empresa que compre a frequência de 3,5 GHz hoje e não tenha uma rede 4G não vai ter como oferecer serviços de voz na sua rede. Pode ainda usar aplicações de voz sobre IP, como Whatsapp, Viber, Skype, mas nesse caso depende que os dois clientes tenham o mesmo aplicativo, e ainda assim a integração para chamadas de emergência não é garantida, interceptação telefônica legal é inviável, o modelo de negócios é outro para as operadoras.

Mas a Anatel alega que ao exigir uma rede Standalone, isso equaliza o jogo e evita que uma operadora aproveite um investimento que já faria para cumprir uma obrigação do edital. Concorda com isso?

Quando a gente fala que um modelo com redes Standalone vai evitar a vantagem competitiva que as operadoras teriam de usar as redes legadas, a gente precisa lembrar que tem todo o restante da rede que vai ser aproveitado: torres, dutos, as redes de fibra para transmissão… Qualquer rede 5G vai usar essa parte da rede legada. Não dá para dizer que o modelo de rede Standalone vai fazer todo mundo sair do mesmo ponto. Não vai, porque parte da estrutura já está lá para o 3G, para o 4G, e a gente precisa ser transparente nisso. Existe uma infraestrutura instalada que recebeu investimentos, e ela será aproveitada, porque seria irracional não aproveitar.

Como evoluiria esse modelo híbrido de migração que você mencionou?

Quando falamos da migração de um modelo NSA para um modelo SA, temos uma primeira fase, em que todo o 5G vai rodar em cima da rede legada, depois vamos chegar em um momento em que as duas redes vão conviver e o 5G SA estará implantado para áreas ou clientes específicos, e a gente ainda não sabe ao certo onde essa rede standalone estará, porque depende dos modelos de negócio. Até que chegaremos em um terceiro momento mais adiante em que toda a rede 5G será standalone. Evidentemente que uma operadora pode resolver já lançar o 5G com uma rede Standalone, e se o business plan dela faz sentido, tem escala, ela tem que fazer. Mas garanto que para fazer isso ela precisa estar se planejando para essa estratégia nos últimos três anos. Em um ano, ela não vai fazer de maneira ampla, completa e massiva, porque o trabalho técnico, de planejamento e investimento é muito intenso. 

Investimentos de que natureza, por exemplo? O que precisa ser feito para se antecipar ao 5G?

O 5G com baixas latências depende de processamento na borda da rede. O modelo de Mobile Edge Computing (MEC) no Brasil é novo e ninguém ainda começou a fazer na escala das necessidades dos novos “use cases” que a gente vai ter. O MEC é como se fosse um mini datacenter, um rack com pequenos servidores que atendem uma área geográfica pequena e que é dedicado a algumas aplicações específicas. Por exemplo, uma mineradora pode ter um MEC dedicado, ou uma aplicação de jogo numa determinada área. São aplicações que demandam uma capacidade de processamento tal que faz sentido colocar isso na borda da rede, num bairro, numa região, num estádio de futebol… E isso depende das aplicações que a gente vai ter, para poder dimensionar e planejar essa estrutura de MECs. Fazendo o paralelo automobilístico  que está sendo usado para explicar a rede 5G Standalone, o fato de ter Ultra Low Latency, por exemplo, não significa que a sua Ferrari vai andar como uma Ferrari. Se você esqueceu ou não configurou o Mobile Edge Computing, você não faz slicing, você está usando uma Ferrari para fazer serviço de Uber, não para uma corrida.

Como ficará a questão da cobertura das redes 5G no modelo de 5G Standalone?

Ao contrário do que aconteceu em outras frequências, a Anatel, no edital das faixas de 5G, não está cobrando continuidade na cobertura. Está cobrando apenas quantidade de sites implantados com 5G SA. É uma opção que tem um efeito colateral, que é a criação de áreas de descontinuidades da rede. Isso vai exigir outros esforços e investimentos. Em um grid standalone em 3,5 GHz apenas, o 5G vai ficar ilhado dentro da cobertura do 4G nas outras frequências, que certamente será mais ampla num momento inicial. Vai ser um “5G hotspot”. A gente já viu esse problema com a cobertura 4G em 2,5 GHz, que ficava isolado até a gente ter o 700 MHz. Para você ter um 5G com uma cobertura melhor tem alguns caminhos: ou você expande muito a quantidade de antenas 5G SA para cobrir as áreas de sombra, o que é caro e tem toda a complexidade que a gente conhece de colocar redes nos municípios; ou você dedica outras frequências que você tenha para a sua rede 5G Standalone, numa espécie de carrier aggregation, e nesse caso o desempenho vai depender da quantidade de espectro que você dedicar ao 5G; ou você suplementa a capacidade e a cobertura do 5G com a sua rede 4G num modelo em que se combina as capacidades (throughput) das duas redes e as frequências via DSS, e nesse caso você precisa aproveitar o core 4G e ter uma rede NSA; ou você fica jogando o cliente da rede 5G para a rede 4G, fazendo o handover, o que também é possível, mas já compromete a experiência do 5G e também exigirá uma rede 4G própria ou um acordo de roaming. Em síntese, se você obriga o 5G SA, você cria uma série de outros problemas que precisarão ser contornados imediatamente. É uma equação que não envolve apenas custos e retorno de investimento, mas a complexidade e o tempo de execução.

Uma das questões centrais para o 5G é o slicing, ou seja, a capacidade de oferecer conexões dedicadas e com qualidade de serviço específicas a cada tipo de aplicação. Isso não se viabiliza melhor com o Release 16?

O slicing é um dos grandes atributos do 5G e vai viabilizar vários modelos de negócio, e por isso o 5G é super importante para as operadoras. Mas apenas exigir o 5G Release 16 não te garante que isso vai acontecer. Para fazer slicing, o backbone precisa estar preparado, a rede precisa estar orquestrada para garantir a qualidade de ponta a ponta, a transmissão de última milha e agregação precisam estar preparados, os datacenters e o MEC têm que estar no lugar correto… Nada é instantâneo, mesmo com o 5G SA. As funcionalidades não estarão disponíveis do dia para a noite. Há uma série de outras coisas que precisam estar preparadas também. O “5G de verdade”, como o 5G SA está sendo descrito, não depende apenas de um número a mais no release, mas sim da capacidade que a operadora tiver em toda a sua rede. Cada empresa tem seu business plan, seus acionistas, prazos de retorno de investimento, foco empresarial… E dificilmente alguém vai ter uma rede em que não dependa de nada da rede de terceiros. Então, para garantir todas essas funcionalidades, você vai precisar que os outros também se preparem. Do contrário, vai ter uma Ferrari com um motor de fusca. 

Mas você disse que o caminho de evolução natural seria para o 5G Standalone. Isso pode não acontecer? 

É preciso deixar claro que a gente acredita em todos esses modelos do 5G. A gente vê mercado para maiores velocidades com e-MBB, para conexões massivas de IoT (m-MTC), para aplicações de ultra low latency, para slicing de rede… A Claro é uma empresa de múltiplos serviços. Mas a gente não acha que tudo isso fará sentido no mesmo momento em todo o Brasil, mesmo que seja limitado ao número de sites que a Anatel está impondo no edital, porque o investimento invariavelmente terá que ser feito em toda a rede. E fazer esse investimento sem saber exatamente onde e qual será a demanda significa fazer menos investimentos onde a gente já sabe que faz sentido e há demanda de 5G. Isso não necessariamente segue a lógica e o cronograma fixados em um edital. Por isso o nosso modelo é híbrido, com uma rede NSA que seja complementada e evolua para uma rede 5G SA onde faça sentido, começando com aplicações empresariais específicas que é quem terá a demanda.

O que é preciso fazer no core (núcleo) da rede para chegar a uma rede 5G Standalone e por que isso é tão complexo?

A adaptação do core da rede é outra questão crítica. No core estão todas as funcionalidades, tudo aquilo que a rede executa. Numa rede NSA a gente pode aproveitar o desenvolvimento que já foi feito no core de 4G e suas funções, o que faz sentido porque está tudo testado, integrado, dimensionado. Ali estão plataformas das funções da rede, e também coisas como o Vigia, que é a plataforma de interceptação legal, ou os sistemas contra fraudes, os Serviços de Valor Adicionado etc… Numa rede SA, tudo isso precisa ser refeito para um core “cloud native” 5G configurado em microserviços. É impossível falar que não tem custo e também é impossível falar que o custo é igual. Vamos ter que criar uma estrutura para dar suporte a esse novo core, estimar a migração de clientes, licenciar novamente softwares, integrar com os bancos de dados… E ninguém faz um core para atender uma radiobase apenas. Além disso, se você continuar usando a sua rede 4G, vai ter que manter dois cores e ainda criar um common core que compatibilize as duas coisas. São soluções que estão aparecendo no mercado, que ainda terão um tempo de amadurecimento, um tempo de teste, depois um tempo de implantação nacional, de maneira descentralizada, assegurando performance… Isso não estará pronto em dois anos. Não é trivial e não é barato. A gente já fez conta e um novo core 5G pronto e integrado com o core atual custa de cinco a seis vezes mais caro do que uma transição.

E nos terminais de acesso 5G, faz alguma diferença ter uma rede Standalone ou não?

Na questão dos terminais, hoje existe uma limitação para terminais compatíveis com redes  SA, mas acredito que isso não será um problema tão grave até o ano que vem. Os terminais já virão com chipset com capacidade para operar tanto em redes NSA quanto em redes Standalone Release 16, com poucas exceções. Mas é preciso lembrar que isso depende dos fabricantes habilitarem as funcionalidades, o que passa também de uma negociação com as operadoras porque isso implica pagamento de royalties. Isso é simples e pode ser feito pela rede, com uma atualização de software, mas há uma negociação. De qualquer forma, a opção por redes NSA ou SA não significa que a base de terminais será mais ou menos defasada no futuro. Talvez impacte um pouco o usuário de roaming internacional que venha de uma rede NSA, ou alguns tipos de aparelhos, mas será pontual. O verdadeiro calcanhar de Aquiles nesse momento é a voz nativa nas redes Standalone, porque os chipsets não acompanharam a especificação que está na norma do Release 16. Os chipsets com Voice Over New Radio (VoNR) estão prometidos para o final do ano e começam a chegar nos terminais provavelmente só em meados ou final de 2022.

Qual a sua expectativa de custos para as frequências considerando essa obrigação das redes 5G Standalone?

A Anatel diz que fez o cálculo de VPL das frequências com base em uma rede Standalone e em todas as potenciais aplicações, e que as obrigações são descontadas desse valor. Por isso é importante ter clareza de quais as aplicações que serão viáveis e os custos para chegar lá numa rede 5G SA. O importante é notar que o que está acontecendo em outros países em relação a valor de espectro nem de longe se aplica ao Brasil. O ágio que a gente viu nos EUA se deu por uma razão específica deles, ou na Itália. O cenário aqui é outro. O Brasil tem um ARPU até sete  vezes menor do que outros países que estão implantando 5G. São US$ 5,28 no Brasil contra US$ 35,74 nos EUA, ou US$ 14 na Alemanha. Quanto mais cara a rede e mais incertas as aplicações, mais distante fica o retorno com esse ARPU. É possível dar ao usuário que quer uma velocidade muito maior o serviço com boa cobertura, em cima de uma rede NSA, e isso tem um custo que o bolso dele pode pagar. E para uma aplicação empresarial, vamos desenvolver uma rede SA dentro do custo que ele possa pagar. 

Concorda com a ideia de dar um prazo de cinco anos para que as redes Standalone sejam adotadas no Brasil, como se discute na Anatel como uma forma de atenuar o impacto da regra colocada sobre o Release 16?

Quando a gente fala de cinco anos para o 5G SA Release 16, e a gente concorda que esse prazo é importante, mas é importante ter em mente que isso não está baseado em um prazo para a adoção de serviços ou modelos de negócio. É somente um prazo para que se possa fazer todo o ciclo de seleção e adoção de fornecedores, desenvolvimento de produtos com os fabricantes, testes de laboratório, integração desses equipamentos no nosso ecossistema, fazer um piloto e depois o deployment nacional. É importante ter esse prazo, mas ele ainda é um exercício de futurologia quando a gente olha sob a ótica dos serviços e da demanda real do mercado. Cinco anos é o tempo que precisa para ter um core SA operando, com todas as funcionalidades, e implantado nacionalmente. Isso não quer dizer que não haverá redes Standalone antes em aplicações e clientes corporativos específicos. Por isso a gente acredita em NSA para consumo geral já; vários núcleos de rede dedicados, standalone, para aplicações empresariais específicas e; em cinco anos, ter um core completo, maduro, em produção, nacional para uma rede 5G standalone massiva.

O fato de desvincular as futuras redes 5G dos atuais fornecedores de 4G não seria uma vantagem?

A desvinculação de fornecedores em relação ao 4G depende muito dos contratos e das condições que você tem. Hoje a gente não tem essa necessidade de trocar os fornecedores porque a nossa relação é boa. Além disso, manter os mesmos fornecedores ajuda muito na hora de combinar o core 4G legado com o core 5G que você vai desenvolver. Para alguém que é greenfield de fato, que não tem 4G, ok, pode começar do zero com qualquer fornecedor. Mas quem tem 4G vai ter um esforço de integração mesmo com uma rede 5G Standalone. E quanto mais fornecedores você tem, é sempre mais complicado integrar.

Vocês seguraram investimentos nas redes depois que souberam da obrigação de uma rede 5G Standalone no edital?

A discussão que foi colocada no edital não atrapalhou ainda os nossos planos, e o que estamos fazendo tem plena sinergia com o edital de uma maneira geral, mas para a obrigação de rede 5G Standalone a gente vai ter que fazer novos investimentos e acelerar a alocação de recursos, sem ter o retorno de investimento. Isso é complicado, porque não é só uma antecipação, já que a gente não sabe se o retorno virá na mesma proporção. Só o que a gente quer é poder fazer os investimentos dentro de uma lógica empresarial, de negócios.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Sair da versão mobile