Grandes plataformas apostam em agregar conteúdos de diferentes provedores

No mercado de conteúdos audiovisuais por streaming, grandes plataformas estão cada vez mais consolidadas como agregadoras de conteúdos de diferentes provedores. Dentro desse cenário, não existe ainda uma que seja capaz de reunir todas as necessidades do consumidor, embora a briga já tenha alcançado um outro patamar de qualidade. Executivos da Claro, Sofá Digital, UOL Play, Roku TV e Vivo Play participaram da terceira mesa do primeiro dia do Brasil Streaming 2020, evento organizado por TELETIME e TELA VIVA pela primeira vez em modelo 100% virtual, para debater suas estratégias e os diferentes modelos existentes.

Alfredo Souza, da Vivo, explicou que a empresa trabalha com o objetivo de ser uma distribuidora de serviços digitais – dentro deles, o streaming de vídeo como um dos principais. Para ele, a operadora se destaca nesse cenário por duas razões: a primeira delas está ligada à questão financeira, isto é, a capacidade de ser o pagamento desses serviços por meio de faturas e recargas, promovendo uma comodidade ao consumidor que não quer ter diferentes contas a pagar; a segunda é a distribuição de conteúdo. "O consumidor está no centro da equação – no final, é ele quem decide onde, como e quando quer consumir determinado tipo de conteúdo. Nosso papel é oferecer essa possiblidade. No Vivo Play, quebramos barreiras: podemos colocar no mesmo nível de destaque programas da TV linear, um lançamento de série da HBO, uma nova comédia da Netflix… Tudo junto, de forma transparente para o cliente. A origem do conteúdo não faz diferença. Queremos facilitar o acesso", detalha. 

Márcio Carvalho, CMO da Claro, vai na mesma direção. "Existe um excesso de fragmentação, com o consumidor precisando saber o que tem de bom e de novo para assistir e ter acesso a essas informações com fluidez. Nesse sentido, precisamos usar os dados a nosso favor – coisa que empresas como Apple, Google e Roku já fazem bem e nos ensinam bastante a respeito. É um momento de rearranjo de um sistema restrito para um ambiente mais aberto. Fazemos todos parte de um jogo de plataformas com diferentes propostas de valor para oferecer ao consumidor. Precisamos buscar formas de atuar nesse ambiente – cada empresa vai ter que ser muito eficiente no que se propõe a fazer para não ser substituída pelo caminho", declarou. O executivo ainda disse que o mercado está buscando aprender como diferentes serviços conversam com diferentes plataformas, e afirma que a arquitetura de software hoje facilita essa integração. "No fim, estamos todos em busca de entregar as melhores experiências aos clientes. A conectividade está evoluindo em todas as plataformas. E novos concorrentes que são muito bons nisso estão vindo de fora", pontuou.

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Assim como as operadoras têm se consolidado como plataformas de distribuição de conteúdo – dado os exemplos de Vivo e Claro – outros players vêm surgindo logo atrás. É o caso do UOL, que em abril fez sua estreia no mercado streaming com o UOL Play. Marcelo Varon, executivo do grupo, diz que a missão principal da empresa é levar entretenimento ao público – e essa premissa segue presente nas novas estratégias. "Começamos lá atrás oferecendo canais de esporte. Tivemos muito sucesso, pessoas deixaram de assinar TV a cabo para acompanhar a programação com a gente. Então, surgiu o desejo de agregar novos canais e o UOL Play começou a se desenhar", relembra. O executivo afirma que, hoje, o objetivo do UOL é ser um hub de conteúdo que reúna diferentes opções em um só lugar, com uma única assinatura, e pontua algumas vantagens do grupo: "Temos uma gama enorme de assinantes, com um número que está na casa dos milhões. Ou seja, já existe uma base para oferecer esse tipo de produto. Somos a terceira maior audiência do Brasil, ficando atrás apenas do Google e do Facebook. Temos boas vantagens competitivas. Agora, estamos atrás de quem já faz conteúdo e faz bem – obviamente temos interesse em grandes canais, por exemplo. Apesar de termos nossa produtora própria, a MOV., o objetivo não é virar um Globoplay em termos de produção de conteúdo. Queremos manter esse braço, mas contando mais com conteúdos vindos de fora".

Luis Bianchi, por sua vez, participa do debate representando outro modelo de agregador: a Roku TV, que nasceu tendo esta como função principal e hoje já se divide em três frentes de negócio, sendo inclusive líder em dispositivos OTT nos Estados Unidos. Para ele, a empresa consegue se destacar no mercado por ser uma plataforma mais "neutra" e "agnóstica" do que as outras, e que por isso lidar com a concorrência não é difícil. "Mesmo com lançamentos dos concorrentes ano após ano, mantemos nosso crescimento forte. Depois da maturação no mercado norte-americano, trabalhamos na expansão internacional. Chegamos ao Brasil como plataforma em SmarTVs da AOC e o feedback tem sido extremamente positivo. Acreditamos nessa proposta de valor", declara Bianchi. Ele ainda explica que no dia a dia a empresa negocia tanto com provedores de conteúdo que eles desejam ter na plataforma, como Netflix e HBO, mas também se mantém aberta a desenvolvedores menores que queiram lançar seus aplicativos na Roku. Produtores de conteúdo, aliás, são alguns dos principais parceiros do grupo, que preza por uma oferta robusta para oferecer aos clientes. "Ser o número um dos EUA nos coloca em uma posição competitiva boa. Agora, o fortalecimento de parceiros locais está no nosso foco principal, além da proximidade com os fabricantes de TV e telcos também. Precisamos criar esses relacionamentos e mantê-los. Trabalhamos com a tela da TV – esse é nosso foco e é aí que queremos crescer", define.

Fábio Lima, diretor da Sofá Digital, uma das principais agregadoras de vídeo sob demanda da América Latina, apresenta um ponto de vista mais geral do atual momento do mercado: "Estamos acompanhando o surgimento dessas que eu chamo de superplataformas, isto é, serviços com capacidade de rede e ofertas de conteúdo. Essa evolução também passa por uma transformação cultural e especificidades locais. Mas acredito que plataformas com essa capacidade vão dominar – ainda que exista mais concorrência. O avanço tecnológico permite essa concorrência dos modelos agregadores de serviço". Nesse sentido, Lima aponta um problema que já é debatido no mercado de streaming há bastante tempo: a dificuldade que o usuário enfrenta na hora de encontrar conteúdo. "Ainda não existe facilidade e fluidez. Passa por uma questão de interoperabilidade de acesso. Não dá para alguém romper com esse cenário e achar que será o grande vencedor de produção de conteúdo. Tem muito conteúdo sendo produzido e não existe demanda para tudo isso. Enquanto o consumidor deixou de assistir vídeo por três horas diárias e passou para quatro, a linha de produção foi de mil para milhões. Só em TVoD são uns 50 filmes novos por semana", cita. O especialista ainda apresenta alguns possíveis caminhos para o futuro dos modelos de negócio do streaming, que em alguns casos já se mostram insustentáveis. Ele sugere, por exemplo, uma cobrança no sistema "Ifood", na qual o usuário pagaria apenas pelo que fosse consumir, ou uma carteira de créditos, que seriam descontados a cada conteúdo visto. "'Há diversas maneiras de evoluir as formas de remunerar o provedor de conteúdo. As pessoas podem ser fiéis a um hardware, mas dentro do conteúdo vão fluir muito", opina.

Tratamento de dados

Todo esse trabalho para oferecer a melhor experiência possível aos clientes esbarra no tratamento de dados, isto é, que tipo de dados de consumo coletar e como usá-los na prática – dentro, é claro, dos limites legais. Márcio Carvalho conta que, quando o Now surgiu, a Claro controlava toda essa parte de metadados, mas que hoje faz sentido que tanto a programadora que produz o conteúdo quanto a plataforma que está agregando tenham esse acesso, pois fazer sua própria curadoria e entregar o serviço de recomendação é uma necessidade. "Temos que combinar experiências para entregar conteúdo de forma fluída ao consumidor", conclui.

Souza concorda: "Compartilhamento de dados é um ganha-ganha para todos, pois ter acesso a esse material é importante para ambas as partes". O porta-voz da Vivo ainda explica que a negociação da coleta de dados ocorre de diferentes maneiras, dependendo do parceiro em questão, mas tendo sempre em vista a entrega de um serviço melhor. No caso da Roku TV, Bianchi diz que o trabalho também é feito caso a caso, de acordo com o parceiro de conteúdo. "Tentamos usar os dados para gerar uma melhor experiência de navegação e oferecer uma oferta melhor e mais customizada. Mas acho que, do nosso lado, ainda há um longo caminho para percorrer e entender o que mais pode ser feito", analisa.

Impasse regulatório

Apesar das questões relacionadas à regulamentação não estarem no centro do debate, é impossível não tocar no assunto, uma vez que os desdobramentos das futuras estratégias das plataformas dependem dessas definições. Carvalho, como representante da Claro, se mostra bastante desconfortável com o rumo que o debate regulatório está tomando. "Cada empresa está encontrando seu core e sua competência, mas não dá para deixar de frisar, por exemplo, de que a Netflix é uma TV por assinatura – mas a regulação caminha para um entendimento contrário, de que não é a mesma coisa", lamenta. Para o executivo, o problema é grave porque inibe tanto novos investimentos quanto inovação – coisas que deveriam ser fomentadas por um ambiente seguro. Em sua fala, ele ressalta ainda que regular por tecnologia, e não por tipo de serviço, é errado. Por fim, Carvalho afirma: "Nossa oferta de conteúdo é muito centrada no modelo linear dos canais. No momento em que houver um entendimento distinto [do atual de SeAC], pensamos em oferecer de forma independente os canais, o Now e até conteúdos exclusivos".

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