Confira abaixo o editorial da revista TELETIME 123, do mês de julho, que já está em circulação. O texto foi escrito antes da conclusão da primeira parte do plano de reestruturação anunciada pela Telefônica nesta sexta, 17:
"Há cerca de um mês, a Anatel determinou a suspensão das vendas do serviço de acesso banda larga Speedy, da Telefônica. Foi a mais drástica medida contra uma operadora de telecomunicações de que se tem notícia desde a intervenção na CRT, ainda no final dos anos 90. O episódio, marcante não apenas pelo aspecto simbólico do ponto de vista regulatório, é ainda mais significativo do ponto de vista operacional. Pela primeira vez desde a privatização do Sistema Telebrás, uma concessionária de serviços públicos de telecomunicações, com alta capacidade de investimento e notória experiência operacional, falha de maneira retumbante ao atender a uma demanda de mercado.
Desde a primeira grande pane na rede da Telefônica, em 2 de julho de 2008, que deixou 2 milhões de pessoas, repartições públicas e empresas sem acesso à Internet por 72 horas no Estado de São Paulo, um ano se passou.
Exatamente um ano atrás, TELETIME trazia reportagem de capa sobre o problema na rede da Telefônica, ouvindo especialistas e apontando possíveis causas. Na explicação oficial dada pela empresa naquela ocasião, o presidente da Telefônica, Antônio Valente, ainda sem muita clareza do que havia acontecido, descartava a hipótese de que o apagão tivesse se dado por falta de manutenção ou de investimentos na infraestrutura para abarcar o crescimento explosivo da banda larga no País. "A rede está preparada para o crescimento", enfatizava o executivo.
Hoje, um ano depois e sem resolver o problema, a Telefônica assumiu publicamente a responsabilidade pelas sucessivas falhas e segue dizendo que o problema não é falta de investimento ou manutenção, mas agora atribui o problema justamente à grande expansão da rede de banda larga. "O mercado de telecomunicações do Estado de São Paulo, em particular o de banda larga, é caracterizado por aumentos expressivos na quantidade de usuários, na intensidade de uso dos serviços, na complexidade da operação necessária para suportar esses serviços, e no volume de atividades destinadas justamente à expansão e modernização da rede", contextualizou a companhia, chamando a atenção para sua expressiva expansão na base de usuários e na cobertura, a mudança de padrão de uso dos clientes e as seguidas intervenções na rede. Tudo isso, disse a tele, contribuiu para que a situação chegasse onde chegou. Em outra ocasião, a Telefônica reconheceu que seus servidores DNS têm capacidade inferior à demanda. Depois, se descobriu, pelos processos administrativos abertos na Anatel, que a empresa permitiu que seus fornecedores utilizassem equipamentos não homologados pela agência. Por fim, a empresa anunciou um plano para resolver os problemas em 180 dias. O plano inclui a revisão de procedimentos e realocação de investimentos.
Executivos da matriz da Telefônica que estiveram no Brasil no final de junho disseram ao TELETIME News que acreditavam que esses problemas se devem à gestão local, já que a Telefônica no Brasil era a única, dentro de um modelo administrativo adotado pela tele espanhola em vários outros países, que estava dando problema.
Fica no ar a impressão de que há um problema mais grave por trás dessa questão.
Há um ano, a empresa se dizia preparada para o crescimento, apesar da pane. Um ano depois, as panes continuaram e a empresa atribuiu o fato ao crescimento do mercado de banda larga.
É estranho que uma empresa do porte da Telefônica, com sua importância social e econômica e com a quantidade de bons profissionais que tem, não tenha se planejado para o crescimento do mercado de banda larga, não tenha detectado o impacto do YouTube e outros serviços altamente populares no padrão de uso da Internet, ou tenha se prejudicado tanto em função das intervenções para a portabilidade (o que não aconteceu em outras operadoras). Parece que os executivos da matriz espanhola fazem um diagnóstico simplista. A Telefônica no Brasil tem um tamanho, um peso e uma complexidade de operação diferentes da Telefônica no Peru, por exemplo.
E por isso mesmo precisa ter muito mais agilidade e autonomia do que esses outros mercados. Mas não é o que acontece. Há muitos anos se escuta aqui e ali, de diferentes funcionários e executivos da empresa, que tudo precisa passar pela Espanha e que as decisões no Brasil são lentas e complicadas. É mais provável que o tal problema de gestão da Telefônica esteja aí".