Para ZTE, o mundo caminha para a China

Chineses em geral falam pouco e abrem poucas informações sobre suas atividades. Talvez por ser uma empresa aberta em bolsa, a fabricante de produtos para telecomunicações ZTE é um pouco diferente. Ela não apenas abre informações e mostra detalhes das linhas de montagem e teste, como critica abertamente os fornecedores tradicionais, expondo um grau elevado de animosidade que divide fornecedores tradicionais e os do novo mundo.
"A tecnologia chinesa está se tornando mais e mais aceita, e mesmo com a valorização do yuan (moeda chinesa), nossos preços seguem competitivos", diz Wu Zengqi, SVP da ZTE, responsável pelas Américas e África. Perguntado se ele acredita que a guerra de preços entre os dois maiores fornecedores chineses (a própria ZTE e a Huawei) e entre os chineses e os fornecedores tradicionais teria chegado a um limite, o executivo responde de maneira direta: "Sim, os preços estão quase no limite, e agora só cairão mais com a queda nos preços do componentes".
Os fornecedores chineses, especificamente a ZTE, têm conseguido a maior parte de seu sucesso em mercados emergentes. "Hoje, nossas operações são mais rentáveis na África e na Ásia, mas ainda assim seguimos brigando para entrar nos mercados tradicionais. As barreiras que ainda existem são basicamente por conta do ambiente que já existe em favor das empresas tradicionais e por conta das exigências que são feitas, justamente para dificultar a nossa entrada. Mas mais e mais estamos buscando atender a estas exigências". É um detalhe importante: a ZTE, por exemplo, exibe com orgulho uma série de certificações de qualidade obtidas nos últimos anos.

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A visão de um novo player acerca de players tradicionais é igualmente provocativa. "A Siemens e a Nokia se juntaram e mesmo assim continuam perdendo espaço. A Nortel desapareceu. Quantos produtos a Motorola lança por ano?", declara Wu Zengqi. "Hoje eles têm mercado, mas vão morrer. É assim que a economia mundial evolui. O mundo está vindo para a China e para a Índia. Mesmo eles já têm suas fábricas na China", provoca.
A ZTE reconhece, entretanto, que parte do espaço que ainda não tem se deve ao fato de ter demorado para a desenvolver determinadas tecnologias, como as de celular. Segundo Zhu Jin Yun, presidente da área de produtos UMTS, a ZTE não tem liderança na área de telefonia fixa e na área de tecnologias 2G de celular, e isso custou à empresa espaço nos mercados consolidados. Mesmo em tecnologias de 3G, diz o executivo, a ZTE demorou um ano a mais que os concorrentes europeus para iniciar as pesquisas e o desenvolvimento de produtos. "Hoje posso dizer que já estamos no mesmo status das demais empresas em pesquisa e desenvolvimento da tecnologia LTE e do WiMax", diz.

Motorola

A ZTE evita comentar a possibilidade de adquirir, no futuro, a divisão de telefonia móvel da Motorola, conforme tem sido especulado no mercado. Jogo de cena ou não, o fato é que Wu Zengqi faz pouco caso desta possibilidade. "Eu particularmente acho que a Motorola tem uma boa marca, mas não acho que agregaria produtos ou tecnologia ao nosso portfólio. Não acho que seja uma idéia muito boa comprar nessas condições", diz.
O fato é que a ZTE, pelo menos na área de handsets, ainda não tem uma marca forte, pois até hoje seu foco tem sido na venda de aparelhos customizados para as operadoras, que os vendem com marca própria. Agregar uma marca conhecida ao portfólio da empresa pode de fato ser útil caso a estratégia seja vender o handset direto ao consumidor.
No Brasil, conforme já adiantou este noticiário, a empresa tem parcerias com a Celéstica e com a Evadin para a produção local e deve vender seus celulares diretamente ao consumidor, ainda que uma parceria com uma operadora móvel esteja para ser anunciada no mercado de 3G, o que pode incluir a fabricação de celulares com a marca da empresa.

Nova disputa

A primeira etapa do embate entre os fornecedores tradicionais de equipamentos de telecomunicações e o que parece ser a nova geração, formada basicamente pelas empresas chinesas, foi marcada pelos preços extremamente agressivos e apetite nas concorrências. A resposta das empresas tradicionais foi a consolidação em busca de preços mais competitivos. Aparentemente, existe um segundo movimento nesta batalha: o esforço em mostrar qualidade nos produtos. Chineses, assim como aconteceu com os japoneses há três décadas, são normalmente tachados de falsificadores e vendedores de produtos de péssima qualidade. Mas as empresas chinesas agora se esforçam para mudar essa imagem. A ZTE convidou TELETIME e mais um pequeno grupo de jornalistas do Brasil e da Argentina para conhecer suas instalações em Shenzen e Xangai, na China. O que a empresa procurou enfatizar é que existe pesquisa por trás dos produtos. Segundo os dados registrados em balanço, são cerca de 10% a 12% das receitas, que em 2007 foram de US$ 6 bilhões. Ainda segundo a ZTE, isso já gerou à empresa um total 13,5 mil patentes. No centro de desenvolvimento de celulares, em Xangai, a empresa mostra orgulhosa o estúdio de desenho industrial e o esforço de inovação em produtos. Já no centro de testes de handsets, em Shenzhen, as amostras da linha de produção são submetidas a testes de funcionamento e esforço intenso. Também na linha de produção de montagem de placas para equipamentos da linha fixa e celular, o que se pôde observar é uma fábrica organizada, moderna e, como se espera de qualquer linha de produção de eletrônicos avançados, pouquíssimos funcionários, que basicamente supervisionam máquinas.

Menos China

Mas independentemente da discussão de quem seja maior ou melhor, o fato é que as empresas chinesas de tecnologia em telecomunicações são as que mais ganham espaço. A ZTE cresceu em 2007 cerca de 50% em receitas e deve repetir a dose em 2008. Na América Latina a empresa cresceu 100% em receitas em 2007 e pretende crescer mais de 200% este ano. O segredo dos fornecedores chineses é o forte espaço ocupado no mercado doméstico. "Mas na China todos os fornecedores têm negócios, ao contrário do que acontece nos mercados tradicionais", diz Wu Zengqi, que lembra ainda que desde 2007, no caso da ZTE, a China já não é o principal mercado.

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