No setor de telecomunicações brasileiro, apenas 8% das empresas de porte intermediário (ou seja, que faturam entre R$ 4,8 milhões até R$ 300 milhões) contam com nível avançado de maturidade em governança ambiental, social e corporativa (ESG).
Os números fazem parte de levantamento feito pela Anatel com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) discutido durante evento virtual promovido pela Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) nesta terça-feira, 17.
Os dados, que consideram não apenas operadoras, mas também fornecedores, confirmaram que empresas com menor faturamento estão significativamente atrás das grandes corporações em termos de maturidade ESG.
Já quando se fala das empresas de porte ainda menor (que faturam até R$ 4,8 milhões), essa taxa de maturidade ESG avançada encolhe para 4%. Os resultados foram apresentados pela chefe de gabinete da superintendência executiva da Anatel, Ana Beatriz Souza.
"Mais de 85% das empresas menores ainda não possuem estratégia climática definida ou tratam a estratégia climática de forma muito pontual. Existe um papel muito importante que pode ser adotado nessa seara, tanto pelo órgão regulador, no sentido de estabelecer diretrizes, como nas entidades setoriais, como é o caso da Abrint, nessa visão de auxiliar os associados a participarem ativamente desse debate e buscarem adequação", afirmou Ana Beatriz.
Grandes empresas
Esse cenário é diferente quando se analisam as empresas de maior porte. Entre as companhias cujo faturamento anual está na faixa de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão, 25% têm nível ESG avançado, enquanto 50% são classificadas como "moderadas" nesse aspecto.
Já entre as maiores do setor (que faturam mais de R$ 1 bilhão por ano), 75% apresentam nível avançado de maturidade ESG, e 25% possuem nível moderado. As empresas de grande porte também se destacam na publicação regular de relatórios de sustentabilidade baseados em normas internacionais.
Já as iniciativas das empresas menores geralmente se baseiam em critérios próprios. Segundo a Anatel, 86% das empresas que publicam relatórios ESG estão submetidas à obrigatoriedade de transparência imposta por outras reguladoras, nacionais ou estrangeiras.
Importância
"A gente já tem visto alguns indicativos da Anatel de aumentar o nível de exigência de demanda do mercado da adequação desses parâmetros", disse Ana Beatriz Souza. Ela observou que cada vez mais critérios de ESG passam a ser considerados em licitações.
Até o final de agosto, a agência também prevê implementar o Selo Climático ESG da Anatel. A inciativa foi estruturada por meio de uma parceria com o BID. A representante da agência disse que esse projeto tem caráter voluntário, mas podendo se tornar um diferencial competitivo no futuro.
"É fundamental entender que muitas dessas práticas não necessariamente exigem recursos financeiros. São práticas que podem ser implementadas a partir de ações da empresa", disse a general consul e head of legal no NIC.Br, Raquel Gatto.
Para ela, empresas devem se antecipar às futuras exigências regulatórias – adaptando-se às práticas ESG enquanto ainda há incentivos e menor impacto operacional.
Critérios analisados
De acordo com a Anatel, uma empresa tem uma maturidade ESG avançada quanto tem processos formalizados, metas quantitativas claras, monitoramento contínuo (como inventários de emissão de gases do efeito estufa – GEE) e, também, "quando divulga esses resultados com regularidade com nível percebido de integração das práticas ESG em sua governança".
São consideradas de maturidade moderada aquelas que têm iniciativas no campo ESG, "mas de forma parcial ou sem a devida formalização que podem levar a lacunas como, por exemplo, metas que não são quantificadas ou processos de monitoramento esporádicos".
Já quando a empresa demonstra pouca ou nenhuma ação consistente em relação às principais práticas, ela é considerada como tendo nível de maturidade "baixo ou inexistente".
"Nós tivemos como respostas 87 empresas que se dispuseram a responder esse questionário qualitativo. E elas representam esse amplo leque de perfis de empresas, que vão de operadoras a fabricantes. E nós tivemos tanto uma pesquisa qualitativa como uma pesquisa quantitativa, que enriqueceu bastante as análises", disse Ana Beatriz Souza.
