A 15º edição do Encontro Nacional Abrint, realizada em São Paulo na última semana, evidenciou a agenda dos provedores regionais de Internet brasileiros – encabeçada por temas como o acesso aos postes, ao espectro de 6 GHz e à financiamento, além da manutenção de regras mais brandas para os ISPs.
Ainda assim, um outro tema começa a chamar atenção do segmento, revelou o presidente executivo da Abrint, Mauricélio Oliveira, em entrevista ao Boletim TELETIME (disponível em nosso canal do Youtube): o risco de que preços predatórios praticados na banda larga comecem a colocar em risco a qualidade do serviço prestada pelos provedores.
"Os provedores têm comentado muito que os preços estão baixos e há consciência coletiva que do jeito que está, não dá pra continuar […] Algo precisa mudar na forma que a Internet é vendida e entregue, até pela saúde financeira das empresas", alertou o dirigente.
"A preocupação é que preço predatório comece a refletir na qualidade de serviço", completou o dirigente – indicando temor que, com o acirramento da guerra de preços, provedores não tenham recursos para seguir investindo em atualização tecnológica.
Em paralelo, a Abrint também defende uma nova modalidade de financiamento para provedores, não necessariamente focada na construção de redes de fibra, mas em sua atualização. "Chegamos em um ponto que onde podia ser construído, já foi […] Precisamos de financiamento apropriado". Confira a entrevista de Mauricélio Oliveira na íntegra:
Postes
A maior dor de cabeça para as empresas da Abrint, contudo, seguem sendo os postes, cujas novas regras para compartilhamento seguem em discussão entre Anatel e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Oliveira reiterou alguns dos elementos que a associação entendem que deveriam fazer parte da nova regulamentação: um preço teto a ser cobrado pelo uso dos postes e uma espécie de entidade gestora – reunindo reguladores e empresas – para definição do processo de ordenamento da ocupação.
"A gente espera que todos [os provedores] paguem os postes e estejam legalizados, mas também precisamos de fiscalização que proteja quem está pagando", afirmou Oliveira.
O presidente da Abrint ainda abordou a defesa dos provedores pela faixa de 6 GHz integralmente para o Wi-Fi, o ceticismo do segmento com a proposta das teles de "fair share" junto às grandes plataformas e o risco da reforma tributária para ISPs que hoje são microempresas – e que não serão capazes de gerar créditos para clientes no novo regime.
A abordagem regulatória diferenciada para grandes e pequenas operadoras na banda larga também foi lembrada. "As grandes infelizmente prestam serviço de baixa qualidade", disparou o presidente Abrint, ao defender o modelo de assimetrias que impõe regulação mais acirrada aos grandes grupos. "Já o mercado dos PPPs já atende os níveis de qualidade de forma espontânea", defendeu.