Por espectro, venda da Oi Móvel é "irresistível" para competidoras, diz BTG

Foto: Pixabay

A Oi pode estar diante de um horizonte mais positivo em 2020. A cotação das ações ordinárias da companhia mostrou uma elevação de 1,11% nesta sexta-feira, 17. A alta acontece depois da divulgação no dia anterior do relatório realizado pelo Banco BTG Pactual, que manteve a recomendação de compra para ações ordinárias (OIBR3), incluindo uma estimativa de preço por papel de R$ 2 (US$ 0,48), mais do que o dobro do que é negociado atualmente (R$ 0,91 no final da tarde desta sexta). O otimismo se deve especialmente à possibilidade de venda da Oi Móvel, considerada "irresistível" para as concorrentes pelo banco por conta de quase 100 MHz de capacidade em espectro. Com isso, estima que a operadora que poderia levantar mais de R$ 15 bilhões e deixaria a empresa restante avaliada em mais de R$ 20 bilhões. 

O relatório do BTG ressalta que a situação da Oi é "longe de ser fácil", estimando que o desempenho do caixa da operadora teria reduzido de R$ 7,5 bilhões em janeiro do ano passado para entre R$ 2 bi e R$ 2,2 bilhões ao final de dezembro. E acredita que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) baixo somado ao Capex acelerado resultará em um consumo de mais R$ 3,7 bilhões de caixa em 2020 e R$ 2,8 bilhões em 2021. O relatório coloca que endereçar esse gap é a prioridade número um da empresa, que precisaria levantar R$ 6,5 bilhões adicionais nos próximos dois anos para entregar o plano de reestruturação de negócios.

Porém, o banco diz que a nova diretoria, incluindo o atual COO, Rodrigo Abreu, que substituirá Eurico Teles na presidência no final deste mês, provoca um "renovado senso de urgência", com ações como a emissão de debêntures para capitalização de R$ 2,5 bilhões; a pagamento de R$ 669 milhões de superávit do plano de pensão Sistel à operadora (em 36 parcelas mensais); e a venda de um prédio em Santa Catarina por R$ 79 milhões. Há ainda a expetativa de conclusão da venda de torres até março deste ano, com potencial para levantar mais R$ 500 milhões, e da venda de data centers ainda em 2020 por mais R$ 500 milhões. As fibras que a empresa detém em São Paulo, por sua vez, seriam vendidas por entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, "o que seria mais do que suficiente para cobrir o gargalo deste ano". 

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Além disso, o BTG cita o jornal português Expresso, que afirmou que a companhia petroleira estatal Sonangol teria confirmado interesse em comprar a fatia da Oi na angolana Unitel (25% do capital da empresa) por um valor estimado em R$ 4 bilhões. Vale ressaltar que, também nesta semana, a justiça de Angola congelou as contas bancárias e participação em empresas da empresária Isabel dos Santos em decorrência de investigação de corrupção. Em redes sociais, a executiva negou a acusação de que teria tentado vender a um investidor árabe a Unitel, na qual também tem participação de 25%. O revés para a filha do presidente angolano poderia significar uma barreira a menos para a venda da participação da Oi na companhia, cuja conclusão estava prevista para o final de 2019, mas ainda não foi finalizada. 

Ativo "irresistível"

O principal ativo da Oi Móvel, e que a tornaria mais interessante para as competidoras, são as fatias de espectro, que totalizam uma capacidade atual de 92 MHz. São 20 MH na faixa de 2,5 GHz;  24 MHz em 1,9 GHz; 43 MHz em 1,8 GHz; e 5 MHz em 900 MHz. Lembrando que para o 4G, a empresa utiliza 2,5 GHz e 1,8 GHz (neste caso, por meio de refarming do espectro usado em 2G). Naturalmente, deve se considerar que muito do espectro atual da Oi está ainda em operação com tecnologias legadas como 2G e 3G. A empresa ainda tinha em novembro 7,29 milhões de acessos GSM e 5,52 milhões em WCDMA, contra 24,79 milhões em LTE. 

O BTG diz que as frequências são "a razão mais óbvia" para as outras empresas mostrarem interesse, especialmente após a aquisição da Nextel pela Claro. No total, a tele do grupo América Móvil terá 170 MHz (sem considerar o trunking), contra 136 MHz antes da operação. Por sua vez, a Vivo detém 139 MHz e a TIM, 113 MHz. Segundo o relatório, "seria natural esperar que tanto a Vivo, quanto, especialmente, a TIM procurarem meios de diminuir essa diferença [com a Claro]". Mesmo diante da previsão do novo leilão de espectro da Anatel, a capacidade adicional da Oi, com sinergias e ganhos de escala estimados em R$ 7,5 bilhões, "parece um pacote irresistível".

Venda da Oi Móvel

O relatório calcula o valor da Oi Móvel entre R$ 15 bilhões e R$ 18 bilhões. O banco entende que TIM, Vivo e Claro teriam interesse na consolidação, "bloqueando a entrada de um novo entrante no mercado e garantindo a formação de três players em longo prazo". A venda da Unitel e a capitalização com as debêntures dariam à administração da Oi "conforto necessário para negociar adequadamente a venda da divisão móvel". Para os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, que assinam o relatório, as sinergias possíveis com a aquisição dos ativos da rede móvel compensariam os custos associados à manutenção da infraestrutura, além de otimizar o Capex das compradoras, incrementando o acesso a "espectro de valor incalculável".

Os analistas da instituição financeira dizem que sem o segmento móvel, a operadora "parece promissora", com cobertura de fibra até a residência (FTTH) e backbone em quase que de todo o País, excetuando apenas São Paulo. Para o BTG, a Oi poderia se tornar um provedor de capacidade de fibra no atacado – algo que a própria operadora já disse querer se tornar, embora também queira abordar o modelo de franquias com provedores regionais. "Imediatamente após a venda, a empresa teria receitas de R$ 12 bilhões e EBITDA de cerca de R$ 3 bilhões", estima. 

Sem o serviço móvel, o Capex da Oi seria de R$ 5 bilhões em 2020, equivalente a 40% do estimado para as receitas de linhas fixas no ano. Assim, e considerando EBITDA, o gargalo do fluxo de caixa livre ficaria por volta de R$ 2 bilhões, com mais R$ 1,6 bilhão em 2021. A venda dos ativos non-core cobriria essa quantia. Já a dívida líquida da Oi seria "dramaticamente reduzida". No final do terceiro trimestre de 2019, a companhia reportou R$ 14,7 bilhões de dívida, com possível crescimento no final do ano. Com a injeção de R$ 15 bilhões na venda da Móvel, a empresa teria uma alavancagem "muito baixa".

A expectativa do BTG é que, pós-venda da móvel, a Oi se torne uma operadora de fibra e infraestrutura, o que ainda a colocaria como um player "completo" de telecom, mas com retornos "mais seguros e previsíveis e margens de fluxo de caixa livre (EBITDA – Capex) mais altas". No contexto, afirma que a implantação da estratégia FTTH tem sido bem sucedida, chegando a 4 milhões de homes-passed em 73 cidades em outubro do ano passado, um aumento de 2,8 milhões em relação ao final de 2018. A própria operadora disse esperar encerrar 2019 com 4,6 milhões de HPs, aumentando em mais 9 milhões em 2020 e totalizando 16 milhões de adições até o final de 2021 e com taxa de adesão (take-up rate) de 25%, indicando uma base de 4 milhões de contratos. 

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