A iluminação pública tem sido um elemento crítico ao longo do tempo para a gestão dos espaços públicos/urbanos por todo o poder e impacto que tem, e com o foco no conceito de cidades inteligentes com o uso de Internet das Coisas (IoT), ela é considerada um ponto-chave, a porta de entrada para a adoção de novas tecnologias.
Isso porque uma iluminação bem estruturada pode ter um impacto muito grande na forma como as pessoas se relacionam com uma cidade. Pode influenciar, por exemplo, em uma vida noturna mais movimentada; no oferecimento de uma maior sensação de segurança para um comércio ficar aberto até mais tarde; ou na possibilidade de os munícipes irem a um parque fazer exercícios à noite ou à praça para encontrarem com amigos.
Outros benefícios evidentes são a redução da criminalidade, conforme apontam estudos nacionais e internacionais, e a diminuição de acidentes de trânsito. Um estudo da Universidade Estadual Paulista, que compara trechos de rodovias federais em períodos anteriores e posteriores à implantação de iluminação pública, registrou, em um dos trechos analisados, a redução no número de acidentes e de feridos em 35%. O número de óbitos caiu ainda mais, 69%.
E, hoje, novas aplicações de IoT permitem uma gestão mais eficiente tanto do ponto de vista de redução de desperdícios e aumento de práticas sustentáveis como também de melhoria na economia de energia. Com o uso de tecnologias inteligentes acopladas a lâmpadas de LED, as empresas têm registrado uma redução média de até 30% no consumo de energia elétrica, com a diminuição de perdas e danos.
A partir da análise com big data e inteligência artificial, os governos e as concessionárias têm acesso, com a telegestão, a medições e parâmetros-chave de desempenho, e ao gasto energético, viabilizando a realização de manutenções corretiva e preditiva. As cidades podem trabalhar com variações de luminosidade, a partir da automação dos dimmers, o que gera maior conforto visual e menor poluição luminosa, entre outros benefícios.
Esse sistema de telegestão de sensores é baseado em redes LPWAN (Low Power Wide Area Network, ou Redes de baixa potência e longo alcance). Dentre essas redes, temos as redes neutras LoRaWAN – padrão aberto adotado globalmente para conectividade IoT e que opera como uma rede de área ampla de baixa potência. Isso permite um ecossistema aberto e robusto com a participação de operadoras de rede móvel, MVNOs globais e parceiros de soluções de iluminação.
Essa resiliente rede, combinada com a infraestrutura carrier grade da American Tower (ATC), faz com que a tecnologia seja escalável e conexões de custo ultra baixo, permitindo que empresas e governos implantem rapidamente os serviços de IoT sem que tenham que arcar com altos investimentos e com a complexidade de infraestrutura.
Um exemplo recente é da Bottom Up, empresa que desenvolve e fabrica uma linha de controladores e fotocélulas LoRaWAN para luminárias públicas. Ela montou projetos-piloto nas cidades de Recife e Gravatá (PE), Maceió e Arapiraca (AL), João Pessoa (PB) Fortaleza (CE) e São Paulo (SP) para testar a conectividade da luminária em qualquer local de seu território. Todas as comunicações entre a luminária e a plataforma foram replicadas paralelamente na infraestrutura LoRaWAN da ATC, o que conferiu alta disponibilidade do serviço, com custo zero de implantação (CAPEX) e um baixíssimo custo de operação (OPEX).
Modernização dos parques de iluminação
O crescimento deste tipo de solução de IoT no Brasil chega em um momento muito especial. Segundo o "Panorama da Participação Privada na Iluminação Pública", da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Iluminação Pública (ABCIP), o número de cidades que recorreram à parceria com a iniciativa privada para oferecer à população espaços públicos mais iluminados e mais seguros saiu de 17 para 51 e o número de projetos em andamento saltou de 287 para 422 em 2020 relação a 2019. Em termos de valores, os 51 contratos assinados representam mais de 17,3 bilhões e irão impactar mais de 35,8 milhões de pessoas.
Essa transformação na prestação do serviço de iluminação combinado com a expansão de IoT de baixo custo pode significar um passo importantíssimo para o desenvolvimento de cidades em espaços com gestão tecnológica inteligente. A cidade de Socorro, em São Paulo, por exemplo, está implementando um piloto de sistema de telegestão da Connexa, empresa especializada no desenvolvimento de sistemas voltados para dispositivos IoT, com a empresa de engenharia elétrica Engeluz. O projeto usa dispositivos de fotocélulas inteligentes da tecnologia LoRaWAN da Everynet, que é operadora global. Isso tem contribuído para a criação de um ecossistema propício para oferecer Internet das Coisas aos clientes com alto valor agregado e também com alta viabilidade econômica.
Além dos benefícios intrínsecos em eficiência, a adoção da Internet das Coisas para a iluminação pública pode representar ganhos adicionais – ou receitas acessórias, para usar uma expressão do mercado, e, por isso, esse setor de mercado é visto como a porta de entrada para o desenvolvimento de cidades inteligentes.
A partir da instalação das soluções de Internet das Coisas, os gestores podem estabelecer a conexão dos sistemas com outros serviços, em um modelo plug and play. Por exemplo, gestão de qualidade do ar e de resíduos sólidos, controle de semáforos, rastreio dos ativos da empresa ou da prefeitura, como carros e caminhões.
É um tipo de serviço que pode ser oferecido também para empresas privadas, como as que facilitam entregas de comida. Ao disponibilizarem dispositivos para os entregadores em uma cidade inteligente, elas conseguiriam acompanhar melhor cada atendimento e ter ações mais rápidas em situações mais críticas, a partir de informações enviadas pelos sensores.
Isso só mostra como benefícios são muito superlativos quando diferentes setores se unem, conversam e buscam atuar em sinergia. A Everynet, por exemplo, tem fomentado um ecossistema de parcerias com mais de 120 empresas – contando com mais de 200 soluções – e buscado ampliar cada vez mais o oferecimento das suas soluções como operadora das redes neutras LoRaWAN, como também do seu conhecimento para potencializar aplicações mais sofisticadas na área de iluminação pública, com alto valor agregado e potencial de impacto.
* Sobre o autor – Gustavo Zarife é Country Manager da Everynet no Brasil.