Contra robocall, Anatel avalia nova autenticação para chamadas; teles temem custos

Um debate promovido pela Anatel nesta quinta-feira, 16, revelou que a estratégia da agência para combate às ligações de robôs (robocalls) e técnicas de spoofing (como a imitação de um número telefônico) podem passar por um novo modelo de autenticação conhecido como stir shaken.

A possibilidade da tecnologia ser usada no País ainda é incipiente, mas já considerada potencialmente custosa pelas teles. Pelo lado de provedores de serviços, há entendimento que o modelo de verificação da identidade de chamadores deve trazer oportunidades.

Diretor comercial da Cleartech, Carlos Pinto afirmou que o Brasil é o líder mundial em chamadas indesejadas, ultrapassando recentemente os Estados Unidos. "Hoje, temos quase o dobro de ligações indesejadas que eles", afirmou Pinto.

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A implementação do stir shaken nos EUA está em curso após um longo debate, passando pela criação de certificadoras e de uma entidade centralizada para gestão do serviço. Segundo Pinto, o trabalho é facilitado pelo perfil de redes majoritariamente IP no mercado norte-americano, ainda que soluções para redes tradicionais (TDM) também tenham sido criadas.

O diretor da Cleartech lembra que o sucesso na adoção da nova ferramenta de autenticação depende do envolvimento das operadoras e da indústria de forma geral. Em caso de trabalho coordenado para a autenticação, uma funcionalidade possível seria exibir para o recebedor das chamadas informações como marca, logo e identidade de chamadores corporativos.

Regras e custos

Diretor de inovação da Arqia Datora, Daniel Fuchs defendeu que uma padronização internacional é necessária para que a autenticação dê certo, bem como mudanças na regulação brasileira. Uma delas seria limitar a isenção de cobrança nos três primeiros segundos de uma chamada de voz.

Segundo Fuchs, é a partir dessa gratuidade que robocalls operam, utilizando discadores de centenas de ligações simultâneas. Muitas delas são desligadas após três segundos, caso não haja uma posição de atendimento vaga para o cliente que atendeu a chamada. "Se não trabalhar isso, não tem sucesso com o stir shaken", afirmou Fuchs.

Pelo lado das operadoras, o gerente sênior e especialista em planejamento de redes da TIM, Cláudio Trigueiro, lembrou que um amplo leque de fraudes também compõe as preocupações do setor. Ainda assim, o profissional apontou receio com o custo de implementação do stir shaken caso a tecnologia seja adotada no Brasil.

Segundo Trigueiro, o cenário seria desafiador visto o investimento necessário em funcionalidades de software e equipamentos, inclusive de redes legadas 2G e 3G que podem utilizar fornecedores hoje fora do mercado. Para subsidiar tais investimentos, as operadoras avaliam que o uso de recursos do Fust seriam uma saída possível.

Em paralelo, as teles também temem um efeito negativo na própria taxa de completamento de chamadas, o que poderia afetar as receitas. Trigueiro ainda avalia que a adoção do stir shaken só seria possível no Brasil se coordenada com ações contra spoofing de operadoras internacionais.

Primeiros passos

De qualquer forma, a adoção da tecnologia de autenticação no Brasil ainda é tema incipiente dentro da Anatel, que tem conduzido estudos para entender melhor a tecnologia. Os próprios resultados da adoção do stir shaken nos EUA serão considerados pela agência, que também entende que uma eventual implementação por aqui pode não ser barata. A medida, vale lembrar, também não seria a única da Anatel para coibir chamadas indesejadas e disciplinar o telemarketing.

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