Um dos grandes desafios técnicos da TV 3.0 será a orquestração das redes das geradoras, afiliadas e retransmissoras. Isso porque as transmissões broadcast integradas com streaming precisarão estar sincronizadas e haverá um permanente fluxo de comandos entre as duas redes, com o telespectador ora buscando conteúdos IP, ora retornando para as transmissões broadcast. Outro desafio, que na verdade é um aprendizado da atual geração de TV digital, é o custo de encoding do sinal digital, que na TV 3.0 poderá ser eliminado com uma operação conjunta entre várias emissoras. E, por fim, há o desafio das transmissões móveis, que na TV 3.0 ganham uma nova abordagem, sobretudo se o modelo adotado for mesmo o 5G broadcast, que permitirá a transmissão móvel por meio dos handsets que já existem hoje, preparados para o 5G.
Por trás desses três desafios está o core de rede, um termo muito comum no universo das operações de telecomunicações e que agora entra no vocabulário (e no roadmap de desenvolvimento de tecnologia) das emissoras de TV. Para Raymundo Barros, CTO da Globo e presidente do Fórum de TV Digital, mais do que qualquer desafio de hardware, o desenvolvimento do core da TV 3.0 é hoje o grande desafio da indústria. Uma das missões de Barros durante o IBC 2024, que aconteceu nos últimos dias em Amsterdam, foi justamente encontrar soluções de core para redes de TV digital que respondessem a esses problemas. Segundo ele, ainda há a necessidade de um desenvolvimento mais aprofundado da indústria sobre esse aspecto.
Reduzir custos
Para ele, a TV 3.0 precisa encontrar um modelo que reduza o custo aos radiodifusores. Uma forma de economizar é reduzindo a necessidade de que o sinal precise passar por várias etapas de codificação e decodificação ao ser distribuído. Hoje, o processo de encoding acontece em dois momentos, o que implica um grande custo para emissoras de TV, que precisam de equipamentos específicos para cada etapa em cada uma das emissoras ou retransmissoras. Com a TV 3.0, sobretudo dentro do modelo que está sendo desenhado pelo Brasil, a ideia é que isso possa ser feito de maneira compartilhada, atendendo a vários radiodifusores, mas isso exigirá uma orquestração dos processos em um core de rede único, e esse é um desafio que os fabricantes de soluções para radiodifusão ainda precisam vencer.
O mesmo vale para a orquestração entre os serviços que serão distribuídos na camada IP da TV 3.0 e os sinais distribuídos no broadcast, tanto fixo quanto móvel. Segundo Barros, como são diferentes serviços demandados da rede e entregues ao espectador (por exemplo, um conteúdo interativo, um conteúdo sob-demanda, uma aplicação de datacast etc), tudo isso precisa ser orquestrado dentro da rede, o que demanda um core de rede preparado para isso. No jargão das redes de telecomunicações, o core de rede é justamente a camada que controla os serviços. tipicamente, é uma combinação de hardware e software específicos que fazem isso, mas cada vez mais as operações trabalham de maneira virtualizada, com o controle e orquestração realizados em nuvem. O mesmo, segundo Barros, pode acontecer em operações de broadcast, desde que as emissoras tenham partido para uma arquitetura em nuvem de seus conteúdos.
Segundo Barros, já existem soluções sendo desenvolvidas pelos fabricantes, e ele pode constatar isso durante o IBC 2024. Mas, segundo o executivo, nada ainda está maduro para atender às demandas da TV 3.0 brasileira.