A opção brasileira pelo 5G standalone (SA) como exigência em metas do leilão de 2021 pode tornar o País um campo internacional de testes para aplicações do gênero, projetou o presidente da Anatel, Carlos Baigorri.
Durante evento promovido pela consultoria PwC nesta sexta-feira, 16, o dirigente destacou horizonte do Brasil se tornar dono da maior rede standalone do Ocidente a partir dos compromissos 5G contratados para a próxima década. A exceção seria a China, protagonista de uma expansão agressiva do padrão standalone – que tem acesso e núcleo (core) baseados em 5G, ao contrário da non-standalone (NSA), que pode ser baseada em core 4G.
"Vejo o Brasil desenvolvendo uma vocação para desenvolvimento de aplicações que vão rodar sobre o 5G standalone", afirmou Baigorri, notando que nem os Estados Unidos deverão ter rede SA com as mesmas características. No Brasil, há uma exigência mínima de instalação de estações SA por cidade, mas redes NSA também estão sendo usadas em lançamentos comerciais.
Globalmente, 218 operadoras já tinham 5G na estratégia comercial ao fim do segundo trimestre de 2022, segundo levantamento da Ericsson. Destas, apenas 24 começaram a explorar o 5G standalone. Por aqui, as operadoras admitem ver o padrão como trunfo e recurso ideal para aplicações como fatiamento de rede (network slicing) e garantia de níveis de serviço como latência.
Desafios
Por outro lado, o presidente da Anatel reforçou o coro para o País "manter os pés nos chão" diante dos desafios para implementação do 5G. Entre eles, a necessidade de alteração em muitas leis municipais de antenas e a competição no mercado móvel.
"Hoje temos o mercado móvel no pico da sua concentração", recordou Baigorri, relacionando a consolidação às dificuldades financeiras da operação móvel de Oi e da Nextel, que deixaram o segmento. O presidente da Anatel afirmou recentemente que o móvel deve ser foco da atuação regulatória da Anatel. No cenário presente, ainda haveria uma "longa trajetória" para empresas regionais vencedoras do leilão do 5G conseguirem competir com as operadoras estabelecidas, sinalizou Baigorri nesta sexta-feira.
Potencial
A PwC estima que o 5G tenha capacidade de adicionar US$ 1,3 trilhão à economia global até 2030, passando por ganhos de produtividade, novos modelos de negócios, democratização do acesso e outros fatores, segundo o sócio e líder do setor de tecnologia, mídia e telecomunicações da PwC Brasil, Ricardo Queiroz. Ele não descarta que o benefício seja adiantado em caso de implementação mais veloz da tecnologia.
Já o diretor de tecnologia da Nokia, Wilson Cardoso, citou oportunidades 5G como redes privativas (passando por metaverso e gêmeos digitais, além de integração com redes públicas), ondas milimétricas e software. "O mercado de conectividade não deve crescer, então devemos pensar como trazer as aplicações para cima dessa rede", afirmou o executivo, durante o debate.
De pouco adianta uma rede 5G SA se não houver iniciativas (públicas e privadas) para explorar o potencial dessa rede. Caso contrário, será apenas mais velocidade e menos latência para fazer a mesma coisa que já era feita com o 4G.