A análise mais detalhada das sobras de radiofrequência que a Anatel pretende colocar à venda no leilão da Banda H, previsto para ocorrer ainda neste ano, guarda algumas surpresas que podem atiçar ainda mais a disputa pelas frequências. A agência reguladora teve a preocupação de organizar essas sobras de uma maneira que permita a uma empresa completamente nova no mercado comprar os blocos e atuar em todo o país nas faixas de 1,8 GHz e 850 MHz. Em outras palavras, a Anatel está abrindo caminho para o surgimento de um sexto player na telefonia móvel.
Esse conjunto de frequências é composto por sobras da Banda M, uma faixa do chamado 2G da telefonia móvel por estar situada nas frequências de 1,8 GHz. Mas a própria classificação de 2G não cabe mais nos dias atuais. Isso porque, com o avanço da indústria de equipamentos, já existe oferta de estações de terceira geração (3G) que funcionam em todas as faixas.
A Banda M é composta por um bloco de 10 MHz + 10 MHz e possui um único "buraco" no desenho que será apresentado no leilão: a área do estado de São Paulo, justamente a mais visada comercialmente. Mas a Anatel elaborou uma composição para que um potencial comprador dessa banda não fique em desvantagem. O conselheiro Jarbas Valente explicou que duas faixas que constam na lista de sobras complementarão o mapa da Banda M para um possível interessado. Tratam-se das subfaixas 9 e 10, remanescentes de leilões anteriores. Essas duas faixas também estão em 1,8 GHz, mas seriam um "1,8 GHz alto", ou seja, bem próximo ao 1,9 GHz.
Com esse desenho dos blocos de sobras, a disputa na segunda rodada pode ser um "plano B" para um possível derrotado na disputa pela Banda H. Ou mesmo abrir caminho para que os interessados na Banda H revejam seus planos e optem pela compra das sobras, com contrapartidas menores do que a faixa principal do leilão. Ao fim, a composição de faixas sugerida pela Anatel pode gerar grandes surpresas no leilão, pois tudo dependerá da estratégia que os possíveis interessados irão traçar para a disputa.
Independentemente deste "plano B", Jarbas Valente está otimista com relação à participação de novos players na licitação. "Acho que a disputa vai atrair mais de um interessado", afirmou o conselheiro sobre as perspectivas de um novo competidor. Na coletiva à imprensa, comentou-se que empresas como Nextel e Sercomtel Celular já teriam demonstrado interesse na Banda H. A GVT teria revisto seus planos originais de entrar na disputa, mas o conselheiro não descarta a possibilidade de a empresa acabar surpreendendo e comparecendo ao leilão.
WiMAX
Outro item inovador do edital é a oferta, pela primeira vez, de um bloco de radiofrequência destinado especificamente a redes TDD na faixa de 1,9 GHz. A Anatel colocará à venda uma fatia de 5 MHz e acredita que o bloco pode ser disputado por empresas que tenham em seus planos a diversificação de meios de oferta de banda larga móvel. O caminho mais claro para uso dessa faixa é a oferta de WiMAX.
À primeira vista, a Vivo seria a operadora com maior interesse nesse tipo de oferta, pois o Grupo Telefônica tinha planos de investimento em WiMAX quando comprou a operadora de MMDS TVA. Esses planos acabaram, de certa forma, frustrados por conta da longa discussão sobre a faixa de 2,5 GHz, onde a TVA opera. Durante o processo de mudança de destinação da faixa, a Anatel suspendeu a certificação de equipamentos WiMAX no Brasil, processo que só foi retomado no mês passado. Valente não quis apostar na Vivo como potencial interessada, mas assegurou que a Anatel acredita na possibilidade de venda do bloco TDD no leilão.