BID quer financiar equipamentos sustentáveis de telecom com selo ESG

esg, financiamento, sustentabilidade, verde
Foto: Telefónica

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) deseja financiar a adoção de equipamentos de telecomunicações mais sustentáveis entre operadoras brasileiras a partir do Selo Climático ESG para o setor, que está sendo desenvolvido pela instituição ao lado da Anatel.

Nesta quarta-feira, 16, a agência e o BID participaram de um webinar sobre o selo, inclusive com apresentação de um benchmark internacional sobre práticas sustentáveis em telecomunicações (veja mais no decorrer deste texto). Especialista líder em telecom do BID, Guillermo Alarcon revelou na ocasião parte dos objetivos do banco no projeto.

"Queremos incentivar o uso de equipamentos mais sustentáveis e o Brasil pode ser referência regional no tema. O selo verde vai permitir reconhecer práticas de eficiência energética e investimentos em equipamentos verdes, com maior vida útil e menor impacto ambiental no ciclo de vida".

Notícias relacionadas

Neste sentido, o BID nota que já possui uma metodologia de cálculo para financiamento climático, inclusive com a meta de aumentar investimentos com o perfil em telecom. "A substituição de equipamentos antigos pode ser contabilizada como parte do financiamento climático, desde que atenda critérios técnicos definidos internacionalmente, como os promovidos no selo verde", resumiu Alarcon.

Assim, um dos objetivos vislumbrados pelo banco seria evitar o uso de equipamentos "refurbished" (restaurados) ou de baixo desempenho nas redes de telecom. "Embora mais baratos, eles aumentam custos operacionais e o consumo energético entre ISPs", afirmou o líder de telecom na organização.

Segundo o BID, o caminho para essa substituição por equipamentos "verdes" passa pelo acesso facilitado a crédito de longo prazo, com melhores condições financeiras. "O selo verde será mais do que um rótulo, mas uma ferramenta estratégica para destravar investimento no setor e para que ISPs adotem tecnologias mais limpas".

Regulação

Durante o webinar nesta quarta, representantes da Anatel destacaram a possível ponte entre a política regulatória em gestação na agência e o acesso a financiamento. "Isso é importante de ser considerado pelos provedores na elaboração de projetos e pelos fornecedores e empresas", afirmou o superintendente-executivo da Anatel, Gustavo Santana.

Já o conselheiro da Anatel, Alexandre Freire, apontou que a agenda ESG "deixou de ser uma tendência e se tornou uma prioridade" em vários setores da economia. "Evidente que não pode ficar de fora o setor de telecom, que tem papel fundamental na transição para economia mais sustentável e resiliente, contribuindo para a mitigação de mudanças climáticas".

Na ocasião, Freire ainda fez apelo para que as empresas do setor se engajem no processo de elaboração do selo, cuja participação é voluntária. O ponto foi reforçado pelo conselheiro substituto da Anatel, Daniel D'Albuquerque – que destacou a prorrogação do período para contribuições nesta fase de diagnóstico setorial do índice.

Benchmark

Entre os primeiros passos para criação do selo, a Anatel já conta com um primeiro benchmark internacional sobre práticas climáticas na cadeia de telecomunicações. O documento foi elaborado por um consórcio formado pela Colin Consultoria e a Ecoa ESG Tech.

Segundo o sócio diretor da Colin, Marcio Lino, o trabalho foi baseado em dados públicos de mais de 60 organizações que incluíram não apenas operadoras, mas também os principais fornecedores de redes e de equipamentos dedicados ao consumidor. Entre os pilares avaliados no levantamento estão:

  • A incorporação de metas do Acordo de Paris e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS);
  • métodos de cálculo de emissões de carbono;
  • critérios de classificação e ranqueamento em índices de sustentabilidade;
  • ações de adaptação e mitigação de riscos climáticos;
  • iniciativas para consumo eficiente de energia;
  • critérios para aquisição de infraestrutura verde, resiliente e eficiente;
  • e como lidar com o lixo eletrònico (E-waste) gerado pelo legado de aparelhos eletrônicos e de rede.

No caso do monitoramento de emissões de gases do efeito estufa, a avaliação é que a prática tem se tornado praticamente uma regra. "Quem ainda não faz, vai vir a fazer de forma espontânea", aposta Lino. Mas a relação com fornecedores é parte importante dessa equação, uma vez que as emissões indiretas dos vendors também precisam ser mitigadas.

Neste sentido, o consultor destacou o modelo de "influência na teia de aquisições" exercido por uma série de empresas (inclusive brasileiras). Uma tendência é que o trabalho junto aos fornecedores envolva não apenas exigências, mas também apoio técnico e mesmo mecanismos de financiamento na transição de equipamentos, incluindo com ajuda de venture capital. "O engajamento pode ser transferido de forma positiva, e não reativa".

análises sobre o ciclo de vida de equipamentos ainda são incipientes, mesmo em nível global. Diante do crescimento no volume de E-waste, Lino acredita que o tema pode se tornar o "próximo paradigma" a ser resolvido, a partir de medidas que reduzam a obsolescência de aparelhos, incentivem a economia circular ou permitam modelos inovadores de descarte correto (como a geração de créditos de carbono com ajuda do blockchain).

Contribuição setorial

Outro aspecto que pode ganhar força é a consolidação da contribuição de setores – como telecom – dentro das metas climáticas dos países. O Brasil, por exemplo, tem compromisso assumido de reduzir em 60% as emissões de gases do efeito estufa até 2035 e de zerá-las até 2050.

Medir o papel de setores específicos nessa jornada é algo considerado por Lino o "estado da arte". A postura ainda é incipiente, mas já se faz presente em nações da Ásia e do Pacífico. Dentro do trabalho do selo ESG desenvolvido no Brasil, está é vista como uma das ambições para o futuro.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!